Os amigos de redação Arnaldo Hirai e Renato Martins só queriam ter um bar legal, mas nunca imaginaram que seriam uma referência na área

Um sobradinho antigo no comecinho da rua Cônego Leite, no bairro de Pinheiros, em São Paulo, é a sede do Boca de Ouro. Discreto, sem placa, no salão de luz baixa e um único balcão você se depara com uma carta enxuta e certeira. Toda essa descrição te faz pensar em mais um bar ‘conceito’ que foi todo pensado para ser assim, meio blasé, certo?

Errado. Na verdade o Boca de Ouro nasceu da vontade de dois colegas de redação de terem um lugar legal para beber e tudo que deu certo nesse bar foi mais um jogo de erro e acerto, que no fim das contas virou um sucesso e caiu no gosto do público e também dos especialistas do ramo. 

Renato Teixeira (T.I.) e Arnaldo Hirai (jornalista) trabalharam juntos na redação do grupo Abril e toda noite, ao fim do expediente, saíam para beber nos botecos da cidade. Nada chique, alta coquetelaria e sim cerveja e petiscos de bar. Frequentaram muito a Rua Avanhandava, o bar Pandoro e principalmente o Kintaro (uma portinha no bairro Liberdade que tem petiscos japoneses e cervejinha gelada).

Lá pelo ano de 2012, a dupla pensou que seria legal montar um bar que reunisse tudo aquilo que eles gostavam nesses botecos. Na verdade, para quem não sabe, o Boca de Ouro era para ser um bar de cerveja. 

“Naquela época se você lembrar, o que tava bombando era cerveja artesanal…tanto é que se você reparar bem nas nossas prateleiras vai ver a quantidade de cervejas que estão em destaque”, comenta com um sorriso Renato.Sem nenhuma experiência no ramo, Arnaldo e Renato tiveram uma atitude importante que foi realizar um curso de 3 meses para administração de bebidas e comidas para estabelecimentos comerciais, que é uma das grandes armadilhas administrativas na hora de ter um bar. “É uma coisa que ninguém sabe te passar, como que calcula o preço do coquetel pensando nos insumos? Como administrar o estoque?”, relata Renato. 

No período, os sócios também buscavam em qual bairro eles iriam estabelecer o bar. Eles relatam que flertavam com Santa Cecília, Pompéia e Pinheiros e o mais interessante disso é que nenhum desses bairros na época eram o que são hoje: grandes aglomerados de bares e restaurantes conceito. “Tinha um pouco de coisas assim novas na Rua dos Pinheiros, mas estava começando”, relembra Arnaldo.

Foi então escolhido o sobradinho charmoso número 1121 na Cônego, que ainda é um pouco afastada do agito de Pinheiros e que antes, já havia recebido a renomada cafeteria CoffeeLab. No começo do bar, em 2013, apesar de trabalharem em redação, Renato relembra que tinham poucos amigos jornalistas e a inauguração do Boca de Ouro foi tímida. 

“Ninguém vinha aqui!”, relata com humor Arnaldo. A dupla relembra que durante 06 meses de casa aberta o movimento era bem baixo e foi a benção do ócio que culminou em dois grandes consagrados do cardápio do Boca: o Macunaíma e o Bolovo.(foto ao lado) 

Não tinha nada pra fazer, daí eu olhei as poucas bebidas que tínhamos no bar e pensei em ficar misturando para ver o que dava, até porque nada que você faz com 3 ingredientes não seja nada que alguém já inventou…daí um dia misturei cachaça envelhecida em bálsamo, que era o que tinha, Fernet Branca, limão, xarope de açúcar, bati e experimentei. Ficou legal, o Renato provou e também achou legal e foi assim que nasceu o Macunaíma”, relata Arnaldo na maior tranquilidade, que toma um susto quando fica sabendo que o coquetel que ele inventou figura atualmente na nova carta do Pérgula, no Copacabana Palace. 

“Aí Arnaldo, imagina se um dia o Mick Jagger vai lá e bebe Macunaíma?”, Renato fala imitando um sotaque gringo e ambos caem na risada. 

No início do Boca de Ouro, era só a dupla e mais um cozinheiro. Para o cardápio, trouxeram as referências que tinham da experiência de botequeiros e deram preferência para poucos e bons clássicos (que sabiam que conseguiam fazer com tranquilidade) e como alternativa para conter um pouco o álcool, a comida foi inspirada na cultura Izakaya, que são os petiscos de bar japonês.

A atitude de deixar apenas um balcão para servir no andar térreo e uma mesa de sinuca no andar de cima também foram escolhas pessoais dos donos. “O balcão proporciona esse contato e é aqui que conhecemos muitas pessoas e adquirimos muita troca, sabe?”, conta Renato. 

O movimento do Boca de Ouro firmou mais ou menos depois de um ano de inauguração e caiu no gosto da imprensa, do público e também dos bartenders. Tanto o é, que virou ponto de encontro das segundas de folga da galera que trabalha em bar. “Pensamos em abrir esse dia, porque a época em que saímos pra beber não tinha nenhum lugar legal pra ir de segunda, que por muitas vezes é melhor que quinta”, conta Renato. 

A carta do Boca de Ouro não é sazonal e os coquetéis vão entrando, ou saindo, conforme a demanda. Além do Macunaíma, que segue com sucesso intacto, atualmente figuram no cardápio os clássicos que nunca saem de moda, como o Mark Twain, Manhattan, Boulevardier, entre outros. Hoje, após 6 anos de experiência, Arnaldo e o bartender Rodrigo Roso (ex Casa Café) também fazem autorais na hora, de acordo com o gosto do cliente. Confira abaixo os bons e clássicos do Boca de Ouro.

Drinques do Boca

Macunaíma (foto ao lado)
Cachaça, Fernet Branca e limão tahiti

Hanky Panky
Plymouth gin, vermute tinto e Fernet Branca

Appleton Sour
Rum jamaicano e limão siciliano

Rabo de Galo
Cachaça, vermute tinto e Cynar

Fitzgerald
Plymouth gin, limão siciliano e Angostura

Casino
Plymouth gin, limão siciliano, licor de maraschino e bitter de laranja

Mark Twain (foto ao lado)
Bourbon, limão siciliano e Angostura

Boulevardier
Bourbon, vermute tinto e Campari

Daiquiri
Rum, limão tahiti e açúcar

Cardinale (foto ao lado)
Plymouth gin, vermute seco e Campari

Martinez
Plymouth gin, vermute tinto, licor de maraschino e Angostura

Sidecar
Cognac, Cointreau e limão siciliano

De quebra, aprenda a fazer o Macunaíma aqui

Para aqueles que gostam de conforto, a ideia é chegar cedo para se acomodar no balcão e trocar ideia com esses três figuras, já que lá pelas 20h o salão começa a encher e os lugares ficam disputados. Para um futuro próximo, os sócios pensam em fazer uma pequena reforma para deixar o andar de cima um pouco mais confortável, porém nada em vista com relação a um grande projeto de expansão. 

Questionados do porquê o nome Boca de Ouro, Arnaldo e Renato relatam que foi inspirado na obra de Nelson Rodrigues, que soava como nome de boteco, e era um ‘dos menos esdrúxulos da lista de nomes que pensaram’.  Perguntei quais eram os outros, porém isso é um segredo que só ficará entre os dois.

Saiba Mais

Boca de Ouro
Facebook: www.facebook.com/barbocadeouro/
Site: www.bocadeouro.com.br
Endereço: Rua Cônego Leite, 1121, Pinheiros, São Paulo
Horário: Segunda a quarta, das 18h às 0h / quinta a sábado, das 18h às 02h
Capacidade: 30 pessoas
Contato: (11) 4371-3933 (não fazem reservas)

*por Giulia Cirilo, especial para o Mixology News

Receba nossa newsletter com os melhores artigos do universo da mixologia.

Obrigado por se inscrever!