Será que o futuro de um bom bartender é se tornar embaixador de marca?
Para entender um pouco mais sobre a profissão de um embaixador de marcas, precisamos falar sobre a diferença de um mixologista e de um embaixador de marcas.
É fato que no Brasil esses dois termos tem sido constantemente confundidos pelos setores de marketing da indústria de bebidas, mas essencialmente, a grande diferença entre um mixologista e um embaixador de marcas, é que o mixologista chegou à indústria através de um balcão. Ou seja, ele é uma ferramenta de marketing especializada no balcão, no preparo de coquetéis, no relacionamento com bartenders e no domínio do produto.
Já o embaixador, normalmente chegou ao cargo através do segmento comercial ou por relações públicas, ou até por ser uma figura reconhecida, ou seja, não possui conhecimento técnico de bar, o que não é necessariamente um problema, porque para o cargo de relacionamento executivo com clientes, ele não precisa de fato dominar a arte do bartending.
A tendência, pelo que me parece, é que a gente viva alguns anos vendo o termo mixologista se esconder de cena, dando espaço para embaixador de marcas. Isso, infelizmente, por conta de um momento onde aproveitadores da profissão confundiram o fato de bartender estar num balcão e mixologista estar fora do balcão. Então, vamos nesse momento conectar a ideia de mixologista e embaixador, para falar sobre o que mais interessa, a pergunta que não quer calar: Você deve ou não focar meu sucesso fora do balcão?
Ok, mas quem sou eu pra sugerir que mixologista seja uma coisa e embaixador outra?
Boa oportunidade para eu dividir com você a minha colaboração e aproveitar para registrar parte da história da coquetelaria brasileira nos últimos quinze anos, então vamos lá:
Durante 2002 a 2006 fui mixologista de Absolut Vodka, numa experiência pioneira e única no mercado brasileiro. Foi nesse momento, outubro de 2002 que pela primeira vez o mercado brasileiro conheceu seus primeiros mixologistas através do programa Absolut Mixology (foto abaixo).
Contratado 25 dias antes de mim, Marcelo Vasconcellos é, e sempre será, o primeiro mixologista da história deste país. Doze dias após minha contratação, Marcelo e eu desembarcávamos em Ahus, na Suécia, para receber treinamento estratégico junto com o então mixologista da Argentina, Tato Giovannonni, hoje, sócio do Floreria Atlântico e mais 10 mixologistas de países da América Latina.
De 2010 a 2012, fui mixologista de Sauza Tequila, uma das tequilas mais vendidas neste país, distante, mas muito distante da primeira colocada, Cuervo Tequila.
Entre 2014 e 2016 fui convidado para ser mixologista global da Cachaça Leblon, cargo que executei com muito orgulho num projeto novamente pioneiro, que colocaria um brasileiro como referência global de uma marca de bebidas. Para registrar com precisão a história, tivemos logo na sequência a contratação de Márcio Silva como mixologista global da Cachaça Yaguara durante aquele ano.
De lá para cá, vimos uma dezena de bartenders deixarem os balcões para adentrarem a indústria, galgando assim espaços no mercado que ainda não haviam sido explorados.
Entre eles, podemos citar a contribuição dos mixologistas da Pernod Ricard de todos os tempos (James Guimarães, Lelo Forti na foto acima, Alan Souza, Diego Barcellos, Marcos Néia, João Morandi e Rafael Mariachi), também da Diageo (Paulo Freitas, Braynner Scherz, Wildiner Gustavo, Dudah Bonatto) além dos mixologistas aqui que colaboraram para o desenvolvimento da função neste país Matheus Cunha (ex-Angostura), Jean Ponce (Yaguara Cachaça), Zulu (Zulu Bitters), Rabbit (ex-Marie Brizard), Talita Simões (ex-Campari e atual Woodford Reserve), Tony Harion (ex-Grey Goose e atual Bacardi), Heitor Marin (Patron Tequila), Fabio La Pietra (Amaro Lucano), Alex Mesquita (Leblon), Pablo Moya (ex-Amarula e ex Grey Goose)Diego Rita (ex-Monin), Bertone (eterno Jack Daniels) e tantos outros que escolheram o caminho do comercial, ao invés do marketing, que já é outra história.
Tente imaginar um país com um time como esse no balcão, além dos ótimos nomes que estão atualmente no balcão. Esse é o primeiro ponto a ser discutido.
Embora necessário, é triste notar que perdemos grandes nomes do balcão para a indústria de bebidas.
A contrapartida positiva desse ponto é que esses nomes puderam compartilhar seus conhecimentos com muitos bartenders novos ou com menos conhecimento técnico.
Ou seja, a troca de conhecimento nos últimos 10 anos foi incrível, inacreditável e nunca antes imaginada.
Um dos motivos mais citados pelos mixologistas para mudar de carreira é: “Não vou passar a vida toda aqui, né.” Isso tem sido uma grande preocupação do bartender atualmante. Parece que a carreira de bartender é curta, o que de fato não é uma verdade. O que está por trás dessa sensação é que o mercado pede jovens no balcão e que não temos a cultura de respeitar bartenders mais velhos. Sim, precisamos respeitar mais a nossa história, pois há espaço para bartenders seniors em todo o país.
Outro motivo relevante para o bartender se tornar mixologista “de ofício” é o fato de a partir daquele dia, a pessoa passar a descobrir o que é café da manhã e folga de sábado e domingo. Esse é um benefício típico que muitos bartenders vêem para diferenciar as escolhas.O fato de poder trabalhar numa grande companhia, na maioria das vezes, com benefícios salariais, participação em resultados, plano de saúde completo e viagens nacionais/internacionais são alguns dos benefícios que deixar o balcão pode oferecer.
Financeiramente, nem sempre ir para a indústria é a melhor solução.
Há relatos de quem tenha deixado o balcão para receber menos do que um bartender de alta performance no balcão. Enfim, são escolhas pessoais e indiscutíveis e cada um escolhe o melhor para si.
O que devemos questionar é porque nós desvalorizamos profissionais experientes de balcão?
De onde vem aquela ideia de que um bartender sênior é um bartender ultrapassado?
Já reparou como a faixa etária dos melhores bartenders do país hoje se encontra na casa dos 30-40 anos?
Isso é uma vitória, porém, como vamos permitir, apoiar e construir um plano de carreira para que um bartender de 20 a 25 anos possa aprender, para depois acertar e então ensinar?
Após se especializar em uma profissão, devemos abdicar desta especialização para iniciar uma nova jornada? Porque, não podemos esquecer que assumir o cargo de embaixador de marca é assumir uma nova profissão, onde, teoricamente, o bartender não conhece.
No longo prazo, vale a pena, financeiramente uma mudança dessa?
Perder a rotina constante de balcão, para uma vida com mais flexibilidade de horas e dias trabalhados, leia-se quase sem agenda definida, é mais saudável do que uma agenda definida e que termina as 3 da manhã?
E principalmente, você realmente ama estar no balcão? Atender clientes? Preparar coquetéis?
Porque se ama, saiba que fora do balcão, você perderá técnica, ritmo, fluência e naturalmente deixará de ser o melhor bartender que você poderia ser. E vai sentir saudades do bar. Muita.
Agora, se você está motivado a ser um embaixador de marcas de bebidas, vai gostar do post abaixo.
Como se tornar um grande Embaixador de Marcas
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