É preciso beber cachaça
como quem cruza a linha de chegada horas depois das luzes do ginásio já terem sido apagadas. .
É preciso beber cachaça
com aquela epifania atrasada do goleiro que vai buscar a bola no fundo do gol e pensa: “eu devia ter pulado para o lado esquerdo”.
. É preciso beber cachaça
descalço na praia vendo o chinelo entregar-se feito oferenda.
. É preciso beber cachaça
com o gosto do último amor amargo na boca.
. É preciso beber cachaça
como quem ignora o grito do pastor, os apelos da mãe ou o chamado da razão.
. É preciso beber cachaça
e viver no mundo dos rótulos engraçados da amansa corno, da praga de sogra e da alegria de pobre.
. É preciso ber cachaça
encharcar a alma com um pouco de raiva porque sem raiva não se sai da cama.
. É preciso beber cachaça
para controlar terremotos e os tremores nas mãos .
. É preciso beber cachaça
e não colocar a culpa em ninguém.
. É preciso beber cachaça
pelo prazer pelo santo pela arte sem crise.
. É preciso beber cachaça
com a urgência de quem trabalha de sol a sol, de segunda à sexta, de salário mínimo e sem CLT.
. É preciso beber cachaça
como quem procura a música favorita em um radinho de pilha e não acha.
. É preciso beber cachaça
a vida que arde sempre grita e amanhã será melhor. Conheça outros textos e poesias exclusivos de Gilberto Amendola para o Mixology News na sua coluna, Aquele que foi comprar cigarros. Não perca.
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