Benin, do artesanal fermentado para o destilado industrializado
Seguindo nossa viagem pelo continente africano, deixamos o Senegal e suas bebida tradicionais alcoólicas e não-alcoólicas e aterrisamos no Benin, o país berço da cultura Vodu, ou vudu.
Por conta da colonização e divisões dos países no continente africano, vamos ver algumas bebidas que são tradicionais em mais de um país, por exemplo o Jus de Bissap, conhecido suco de hibisco com notas florais e herbais, popular no Senegal e também muito consumido no Benin.
Aqui você encontra a receita do Jus de Bissap para preparar e experimentar.
Outra bebida muito popular no Senegal que encontramos no Benin é o vinho de Palma, produzido através da seiva da palmeira de dendê, já falamos dele na matéria anterior. A seiva da palmeira é fermentada naturalmente, gerando um teor alcoólico baixo e sendo consumida ao final do dia.
E como no Senegal, a palmeira é fonte de renda de várias famílias, no Benin não é diferente.
Sodabi, o licor de vinho de palma
No Benin o vinho de palma é a base do licor Sodabi. Primeiro É feita a destilação a partir do fermentado da matéria prima, mas em algumas aldeias é adicionado flores, frutas e ervas, para sobressair sabores aromas e às vezes utilizar das propriedades medicinais das ervas.É feita a destilação em tonéis de metal, com fogão à lenha em fogo baixo e armazenados em garrafões de plástico, de uma forma bem artesanal como mostra a imagem acima.
O Sodabi também é utilizado como oferenda em rituais Vodu. Fazer essa oferenda é um símbolo de força e resistência e aumento da proteção divina contra espíritos malignos.
Por muito tempo, a produção desse licor à base de vinho de palma foi proibida no país de que sofreu colonização francesa por conta da ameaça a importação de licores europeus para o continente.
Mas em 2012, dois americanos que estavam no Benin provaram o Sodabi e tornaram o produto local conhecido mundialmente através da exportação legal.
Assim nasceu a Tambour Original, sodabi produzido através de um licor fino com graduação alcoólica de 45% e com seu toque de 14 ervas e flores em sua destilação. A bebida já recebeu medalhas de prata no conhecido San Francisco World Spirits Competition.
Voltando para os fermentados eu encontrei algumas histórias e fatos interessantes para compartilhar com vocês.
Falando de história, o fermentado mais popular é sem duvida a cerveja, que já era produzida pelos antigos egípcios através do Sorgo, grão que tem utilidade em todo o continente de inúmeras maneiras, para produção de farinha, álcool, forragem e cobertura de solo.
Esse grão é presente em todo o continente devido a sua variedade e adaptação climática, suportando temperaturas altas e secas .
A fabricação de cerveja de sorgo é uma das mais tradicionais entre os grãos que existem no continente. Os grãos foram escolhidos ao longo do tempo por nossos ancestrais com base em suas qualidades de malte. Os grãos, vermelhos e marrons, foram e são os preferidos para a fabricação de cerveja na África.
E como de tradição, a cerveja de Sorgo sempre foi produzida por mulheres, e ainda é utilizada para fins de comércio, como para cerimônias religiosas e festas para comunidade local.
Com base na história, as tribos que migraram do norte da África para o sul, levaram essa tradição e costume de que as mulheres eram responsáveis pela produção de cerveja. Eis que chegamos à bebida fermentada mais conhecida no Benin, o Tchapalo, ou ainda Sha-pa-lo.
Podemos dizer que é uma bebida fermentada de baixo teor alcoólico, ou seja, uma cerveja produzida por tribos locais comum no ocidente da África.
Tchapalo é o nome que o povo Senufo e o povo Bambara chamam esta bebida enquanto os mais jovens chamam apenas de “Tchap”. Seu nome significa cerveja de painço ou ainda dolo. Dolo é o nome que se dá a qualquer bebida alcoólica.
Um fato interessante é que tradicionalmente o Tchapalo é produzido apenas por mulheres, uma receita milenar passada em gerações de mulheres após atingir os quarenta anos de idade. Elas também são responsáveis pela comercialização e controle da bebida para evitar a competição econômica.
Essas mulheres recebem a receita na sua iniciação na sociedade Secreta Sandogo.
Tchoukoutouou ou Tchouk
Tchoukoutouou (pronuncia-se Shou-Ku-Tou) ou Tchouk (pronuncia-se Shouk) é uma bebida da mesma família do Tchapalo, mas produzido com milho ou ainda com os dois grãos, milho e sorgo, mas tem como principal diferencial o teor alcoólico, que é maior que o do Tchapalo.
E também é produzida de forma caseira e vendido na beira de estrada, diferente do seu aspecto que é turvo e parece ser mais licoroso diz que é refrescante e servido em cabaças de madeira na beira das estradas.
Nossa viagem etílica pelo Continente Africano tem sido intensa, e depois de passar por Cabo Verde, Senegal e agora Benin, podemos compreender que um continente tão vasto nos traz tantas diferentes expressões de consumo alcoólico. Seguimos em frente, e nos vemos em breve, visitando as bebidas tradicionais nigerianas. Até lá.
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