Conheça sua bartender e sua receita – Nayara Beceli (Santos)

A bartender Nayara Beceli é formada há 12 anos em uma escola da Baixada Santista, onde pode aprender o básico da coquetelaria e conhecer muitos profissionais atuantes e importantes da área.

Entre idas e vindas de trás da barra, passou por hotéis da região, bares, até mesmo quiosques de praia, quando decidiu mudar para São Paulo em busca de mais conhecimento. Já na capital a bartender trabalhou em bares como o Seu Justino, Barones e VAR.

Retornou à cidade de Santos no início da pandemia onde atualmente serve coquetéis no balcão do Arapuka Gastrobar, onde se sente realizada por ter espaço para se inspirar e criar novas receitas.

Conheça o bartender

Como você percebia o mercado de A&B em relação à corpos da diversidade presentes em 2010?

12 anos atrás quando iniciava no mercado, ele se mostrava muito padrão, homens héteros e uniformes mais sociais dominavam os balcões. No meu início conheci poucas mulheres que se destacavam, principalmente por Santos, então sempre busquei inspirações internacionais ou antigas, como Ada Coleman que tem sua marca na história.

Como você percebe, agora, o mercado de A&B em relação aos corpos da diversidade presentes no momento?

Notei que de uns anos pra cá a diversidade vem se espalhando pelo nosso mercado. Desde os nossos profissionais, que podem se manifestar em suas vestimentas, comportamentos e criatividade, até o paladar da clientela que não é mais lido pelo seu gênero. Tenho a satisfação de poder servir coquetéis de muita personalidade a quem antigamente líamos que beberia algo com leite condensado. Me sinto mais livre e encantada pelo atual cenário da coquetelaria.

Como foi a sua vivência no bares do início da sua carreira até o momento?

Em 2009 comecei na barra, fui para o salão, voltei pra barra, fui da administração, enfim, já passei por vários locais dentro da área de A&B. No início foi muito complicado pelo fato de ser mulher e bissexual, não conseguia posições de liderança mesmo me mostrando mais capaz do que a maioria, driblando muitas ocasiões de machismo, conheci locais em que pude desempenhar o meu trabalho, junto a isso segui estudando e com o mercado menos preconceituoso, e mais confiança, hoje mantenho equilíbrio entre profissionalismo e respeito.

Você sofreu algum tipo de abuso, rejeição ou preconceito por parte de colegas profissionais ou superiores imediatos? E quanto ao público consumidor?

Infelizmente isto é algo que ocorre frequentemente, principalmente com mulheres. Sofri abuso sexual de dois donos do mesmo bar, cantadas de clientes, perguntas quanto a minha capacidade por ser mulher, vindo de trabalhadores da mesma empresa. Por muito tempo fiquei calada por não me achar necessária e de influência dentro do local de trabalho. Essas experiências seguem acontecendo, a diferença é que hoje eu consigo não me calar. Já vivi momentos de defesa física com colegas negros que sofriam preconceito de clientes. Em festas de público mais jovem frequentemente acontecem abusos que vi e vivi.

Como você reage em geral à situações de exclusão ou distanciamento por ser uma pessoa diferente do seu meio em geral?

Desde criança, dentro da minha própria família, tive que lidar com piadas e exclusões. Logo cedo já imaginava que o mundo profissional não seria um local agradável, hoje tento me afirmar de um posicionamento em que sempre digo “faço coquetéis com as mãos e não com a minha orientação sexual”.

Conta pra gente um momento de vitória em que você pôde atuar contra alguma atitude abusiva, excludente ou preconceituosa contra pessoas (ou você) por pertencer à diversidade LGBTQIA+.

Trabalhava em um bar em São Paulo em que sofri assédio psicológico e físico. Pedi demissão e saí desamparada financeiramente. Um casal de amigos comprou o bar ao lado e fui convidada a fazer a carta da casa. O dono abusador ao me ver sair do bar ao lado veio me pedir desculpas, para voltar ao seu bar e para conversarmos sobre o processo. Pude negar, ganhar mais e ser respeitada no local ao lado. Isso pra mim foi uma grande vitória já que o dono é famoso no meio artístico.

Quais conselhos você daria para os nossos colegas de trabalho em relação ao tratamento de pessoas para evitar atos de desrespeito, crimes de preconceito, bullying e abusos contra qualquer tipo de pessoa?

Ao lembrarmos que lidamos com hospitalidade muito além de bebidas pensamos sobre o quanto podemos deixar o cliente confortável, porém, a linha tênue entre o conforto do cliente e o desconforto do profissional. A famosa frase “o meu direito começa quando o seu termina” não pode sair da nossa cabeça. O conceito de servir tem que ser desligado da ideia de servidão. Ir para o trabalho lembrar que está sendo pago e fazer o melhor que pode são ideias chaves para manter o respeito por si mesmo.

Se você pudesse voltar no tempo, olhar pra si mesmo com 8 anos de idade, qual conselho você se daria pra encarar o seu futuro?

Estude, não ouça seus amigos que fizeram você faltar às aulas para beber vinho quente na praça, você vai achar melhores durante sua carreira. Mundo de Beakman vai te fazer bem. Não brigue com a sua mãe, ela sofreu o que você sofre hoje em dia e se prepare, porque nem todos são agradáveis quanto os filmes que você assiste. E se permita falar o que você pensa de verdade e não o que os outros querem ouvir para ser aceita.

Qual coquetel clássico na história você escolheria para se homenagear com Orgulho e porquê?

Eu escolho o Hanky Panky, inventado pela já citada Ada Coleman. Um cliente quis ser surpreendido e Ada não deixou por menos, com London Dry Gin, Vermute Doce, Fernet, o coquetel traz um bom equilíbrio entre o amargor e a doçura, coisa que temos que lidar quando falamos sobre Orgulho.

Qual a sua mensagem de inspiração para as próximas gerações de bartenders dos próximos 10 anos?

Saiba que você é falho e isso não é um defeito. Transforme isso em aprendizado, olhe a sua volta, sua inspiração pode ser seu parceiro de barra ou um famoso bartender reconhecido mundialmente, o importante é você saber que tudo pode te inspirar. Não pare no primeiro não, nem no décimo. Nossa posição tem que ser de respeito, igualdade e profissionalismo sempre. Continuemos a lutar por nosso espaço que é de direito, nunca esquecendo a hospitalidade, porque com ela chegaremos lá.

aprenda a receita

Olga Benário

60 ml Ketel One Botanicals Grapefruit & Rose
30 ml Marie Brizard Grapefruit
7 ml bitter artesanal de cenoura com gengibre
17 ml shrub de abóbora

Em um mixing glass com cubos de gelo, coloque todos os ingredientes e mexa bem. Coe para uma taça coupe previamente gelada e finalize com um damasco flambado.

Shrub de abóbora
(50 ml açúcar / 20 ml vinho branco / 0.5 g ácido cítrico / 1 g de sal)
Em uma panela média no fogo baixo, mexa os ingredientes até dissolver. Em um recipiente hermeticamente fechado, macere 50 gramas de abóbora cozida e despejar a solução mantendo em infusão durante 24 horas. Por fim, coe em filtro de papel.

Bitter de gengibre e cenoura
Infusionar em 30 ml de álcool de cereais 5 gramas de gengibre ralado, 15 gramas de cenoura ralada. Coar após 72 horas.

Mês da Diversidade no Bar

O Mixology News realiza em 2021 o Mês da Diversidade no Bar para informar e valorizar a diversidade de bartenders durante o mês do Orgulho LGBTQIA+.

A campanha traz diversas entrevistas com bartenders no portal, lives diárias com influenciadores e autoridades na causa no instagram e um webinar no youtube com bartenders.

Idealizado pelo Mixology News em parceria com o bartender Thomas Souza e com apoio de Cointreau, o licor de laranja mais famoso do mundo, produzido na França e importado pela Interfood Importação.

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