As Capetarias que já fazem parte da cultura etílica do povo sulista
Minha família costumava passar o verão no litoral gaúcho, mais precisamente em praias como Cidreira, Pinhal e Quintão, e sempre passeando no centrinho notávamos que as lojas, barraca ou trailers mais chamativos eram sempre as conhecidas “Capetarias” tão comum para nosso veraneio que se estende por todo nosso extenso litoral, com mais de 600 quilômetros de praia contínua.
Mas afinal o que é uma Capetaria?
A resposta é óbvia: um lugar que vende Capetas; mas o que é um Capeta? Bom, aí a resposta é um pouco mais extensa..
Quiosque da Prefeitura de Torres em 2018
Capeta é um coquetel criado em 1987, segundo o livro da Roberta Malta Saldanha, História, Lendas e Curiosidade das Bebidas Alcoólicas e suas receitas, conta que o drinque é creditado à Edson Teixeira, dono do bar Jazzmania de Arraial d’Ajuda, na Bahia.
Seu Teixeira diz que para ficar acordado bebia água com guaraná em pó, mas não gostava do gosto, um cliente sugeriu misturar com cachaça, e assim seu Edson tomava seu pó de guaraná.
Um dia gripado e com aversão a remédios, a esposa de Edson em um momento de distração do marido, adicionou mel e suco de limão na mistura, assim que tomou, um cliente pediu o mesmo que o dele, o cliente voltou pela segunda vez pedindo “me da aquele de pó de guaraná” na terceira vez o cliente volta dizendo “Po**a Edson, aquele negócio é o CAPETA” assim surge o nome e o sucesso do Capeta de Porto Seguro.
Com um país continental como o nosso é muito possível que tenha acontecido uma espécie de telefone sem fio, como por exemplo o quentão bebido aqui no Rio Grande do Sul é diferente do resto do país, aqui é feito um mistura de o vinho quente com o quentão tradicional do sudeste brasileiro. Já o Capeta encontrado aqui no Sul e em outras regiões do Brasil também é bem diferente da versão feita em Arraial d’Ajuda.
O Capeta do litoral gaúcho é sempre feito com leite condensado, fruta e algum destilado batido no liquidificador com bastante gelo, algumas exceções acrescentam outras coisas na bebida mas a base costuma ser essa.
Com a popularidade alta que se perpetua até hoje, esse drinque é bebido por todas as classes sociais o que torna ele um símbolo do litoral gaúcho. Muito provavelmente surgiu por aqui na década de 90 e aparecendo em sua maioria somente no período de veraneio, quase que um “Pop-up Bar”, quando um bar se estabelece em um local por curto período de tempo.
Poucas capetarias se mantém abertas durante todo ano mas já podemos dizer que faz parte da cultura etílica do povo sulista.
Na foto abaixo, a Capetaria da Paty, que já está desde 1995 no litoral do Rio Grande do Sul e possui algumas filiais em outras cidades além de eventos da cidade.Compartilho com você uma receita que preparei especialmente para esse post, usando ingredientes tradicionais do bioma Pampa, com foto de @taudilly, com vocês, o Capeta Araçá Vermelho.
Capeta Araçá-Vermelho
60 ml cachaça envelhecida em grápia
15 ml leite de coco condensado*
15 ml suco de limão
8 a 10 araçás-vermelhos inteiros
Canela em pó
Coco ralado seco
Bater bem no liquidificador com gelo, até a mistura ficar homogênea, sirva direto em um copo, espalhe em cima da bebida coco ralado seco e com um maçarico queime o coco com a chama acesa polvilhe um pouca de canela em pó por cima.
*Para fazer o leite de coco condensado:
200 ml leite de coco
50 g açúcar refinado
Em uma panela no fogão em fogo alto adicione os ingredientes mexa para não queimar o açúcar no fundo e deixe ferver, para evaporar a água do leite, depois de no máximo 30 minutos desligue o fogo espera esfriar e guarde em um pote higienizado.
Sobre o Araçá-Vermelho (Psidium cattleianum Var. purpureum):
Uma fruteira amplamente cultivada na serra gaúcha, mas também encontrada em outras regiões dos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro. Fruta suculenta e com dulçor um pouco mais acentuado que a acidez, pode comer com casca e tudo mas ao mastigar cuidado com as sementes pequenas, as sementes são seu principal meio de propagação. E aí como é o capeta da sua região?
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