Quando paro pra pensar na  influência da Mata Atlântica em minha vida, as frutas são minhas primeiras lembranças.

Goiaba, pitanga e jabuticaba foram as principais que fizeram parte da minha infância ,outras delas na mesma época fizeram parte da minha curiosidade, pois ouvia meu pai falar sobre frutas que ele não via mais com frequência como cajá,araçá e umbu.Nascido em São José dos Campos, vi a cidade crescer e se transformar de uma cidade rural a uma cidade urbana e as fazendas, sítios e chácaras que existiam perto de minha casa se transformarem em bairros, fábricas e lojas. Apesar da cultura caipira estar sempre inserida nas festas e costumes de lá, o rápido crescimento  urbano  fez com que os jovens da época tivessem pouco envolvimento com alguns costumes e conhecimentos desse povo, como o uso de suas plantas de forma alimentícia ou medicinal.

Aos 11 anos tive minha primeira experiência marcante com novos sabores de frutas, me lembro quando fui com minha família para Caravelas, sul da Bahia visitar alguns amigos, aquela variedade de frutas e o sabor que elas tinham me impressionaram, a forma como o caju de lá era  mais doce e não amarrava minha boca como os que  vinham verdes para minha cidade.

Poder provar muitas das frutas que só tinha ouvido falar e outras como a seriguela que eu nem tinha conhecimento. Enfim, me apaixonei pela Bahia, seu calor, pessoas receptivas, sabores e todas as experiências que essa viagem me trouxe, uma diversidade de frutas, plantas e animais maior do que a minha região, ideia que resistiu até pouco tempo atrás.

Durante minha adolescência fui totalmente envolvido pela cultura urbana, mas a herança dos povos tradicionais sempre estava presente mesmo sem notar, seja  através do pé de taioba no quintal, uma fruta diferente que minha vó trazia da feira pra me apresentar ou até mesmo o comercial maluco que passava na rádio, do “baiano raizeiro”, que  fazia de sua barraca no mercado do centro uma verdadeira farmácia popular.

Foi através da coquetelaria que pude olhar com mais carinho pro meu bioma, no inicio mais buscando os ingredientes brasileiros de uma fora geral. Quando participei do Mentes Brilhantes 2014 já vinha trabalhando em bar a 7 anos porém faziam poucos anos que eu realmente havia me encantado pela profissão e fui buscar no evento além de conhecimento, me conectar mais com profissionais da área , foi quando me deparei com  um movimento em busca de uma coquetelaria brasileira que vinha impulsionado pela evolução e o reconhecimento que a cozinha brasileira vinha alcançando e com isso pude notar que eu não conhecia nada sobre as frutas, ervas e sabores da minha região .

Foi daí que tomei um verdadeiro tapa na cara,descobrir que varias frutas que faziam parte do meu cotidiano não eram brasileiras, manga, jaca, banana e tantas outras que estão tão inseridas na nossa alimentação. Então me perguntei quais eram as frutas nativas do nosso espaço ,foi quando vi que das que consumimos regularmente apenas abacaxi e a maracujá eram nativas.

Foi nessa época que me mudei pra Ubatuba, cidade que tem 83% de território localizado no Parque Estadual da Serra do Mar, após a criação do Porto de Santos a cidade viveu um período de abandono e só voltou a ser explorada de forma turística após a abertura da rodovia Rio – Santos, mantendo-se  preservada  assim muito das tradições e conhecimentos dos povos nativos, caiçaras e quilombolas.Minha busca inicial por essas frutas e ervas era basicamente para utilizar de ingredientes pouco explorados, surfar na onda da Coquetelaria Brasileira e também apresentar algo diferente para meus clientes, mas essa busca mudou meu olhar, o contato com o caiçara fez eu conseguir enxergar toda a abundância da minha região e ver que ela não esta atrás no potencial de seus ingredientes da mesma mata que se encontra na Bahia.

Mas porque eu ainda moleque, consegui enxergar toda essa riqueza na Bahia e não aqui? Tenho minha teoria de boteco, e acredito que o baiano absorveu melhor a cultura dos seus ancestrais e vive tudo isso com mais orgulho e paixão e com isso  se apropria melhor desse bioma.

Meu desejo aqui é mostrar a você tudo que a Mata Atlântica vem me ensinando e como eu aplico esse ensinamento em minha coquetelaria e fazer dessa coluna uma conexão de pessoas que vivem nesse bioma e que através das redes sociais e dos webnários a gente possa trocar grandes experiências já que os biomas são tão grandes e as vezes abrigam estados com climas tão diferentes como Santa Catarina e Alagoas por exemplo.

Então conta pra gente, qual é a influência do bioma que você vive na sua vida?

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