A chefe de bar Michelly Rossi recebe reconhecimento com coquetéis clássicos que foram esquecidos na história e traz na bandeira a defesa de mais mulheres na coquetelaria

O significado de fel configura como aquilo que é amargo, um comportamento ou sentimento de amargura – ressentimento. Será que foi esse o sentido da proposta do Fel Bar, baseado em uma carta de coquetéis clássicos que foram esquecidos ao longo do tempo? 

Esta nomenclatura, inclusive, dá margem para a imaginação. Além dos clássicos esquecidos, quem chefia o bar é a Michelly Rossi, eleita agora em 2019 como a melhor bartender do ano – feito inédito em 10 anos de premiação do “O Melhor de São Paulo”, da Folha de S. Paulo.

Rossi é a cabeça do projeto “Eu Bebo Sozinha” que, além de propor algumas pautas feministas importantes no setor, propõe a defesa de a mulher se aventurar na coquetelaria e desenvolver o paladar – inclusive para o amargo. 

O Fel localiza-se no térreo do prédio Copan, projeto arquitetônico da década de 1950 de Oscar Niemeyer, que é um dos símbolos dos altos e baixos da cidade de São Paulo. O local, que viveu a efervescência do Centro da cidade, compondo com a arquitetura moderna, caiu em decadência nas últimas duas décadas, mas agora suas curvas retomam o hype. 

O ambiente do bar também tem essa magnitude melancólica. Com uma luz baixa, o pequeno salão do Fel é basicamente tomado por um lindo balcão de mármore e o ambiente te convida para um drinque sozinhx, logo após um dia cansativo de trabalho, para curtir o amargor da existência. 

Thatta Kimura no Fel (📸@marcelography)

Para curtir os coquetéis, a carta propõe uma viagem ao tempo, onde a descrição do drinque acompanha também o ano de criação. Michelly Rossi já tinha um longo material de pesquisas particulares sobre a coquetelaria baseando-se em livros como “The Fine Art of Mixing Drinks”, de 1948, e “Savoy Cocktail Book”, de 1930, por exemplo. “Quando eu fui procurada para o projeto, a ideia inicial dos sócios era ser um bar de coquetelaria clássica, sem autorais. Eu ajudei a delimitar o conceito vindo a com a idéia da carta de forgotten, algo que eu sempre gostei de trabalhar e já tinha muito material de anos de estudos”, relembra Rossi. 

Já na parte de trazer os clássicos para a realidade do bar, Michelly pontua que o processo foi de triagem, onde avaliou ingredientes que não se achavam no Brasil, sabores que não se encaixavam no paladar atual e custos.

“Escolho perfis de paladar distintos e variações de base alcoólica. Sobre execução, eles acabam tendo técnicas bem clássicas quais conhecemos e dominamos, ou seja, acaba sendo mais fácil nesse sentido”, pontua a chefe de bar. 

Drinques do Fel

Na carta, que foi renovada no mês de julho, pode-se encontrar 13 coquetéis parrudos como:

(📸@mdemuto)

Bee’s Knees (David Embury, 1948 – The Fine Art of Mixing Drinks)
Plymouth gin, xarope de mel e limão

Bonsoni (Origem Desconhecida)
Carpano Classico e Fernet Branca

Corpse Reviver #2 (Harry Craddock, 1930 – The Savoy Cocktail Book)
Plymouth gin, Lillet Blanc, Grand Marnier, Triple Sec, limão e Pernod

De la Louisiane #4 (Stanley Crisby Arthur, 1937 – Famous New Orleans Drinks and How to Mix ‘Em)
Woodford Reserve, Dolin Rouge, Bénédictine, Pernod e Peychaud’s bitter

Diplomat Cocktail  (Harry Craddock, 1930 – The Savoy Cocktail Book)
Dolin Rouge, Dolin Dry e Luxardo Maraschino

Dunhill (Londres, 1900)
Plymouth, La Guita Manzanilla, Dolin Dry, Grand Marnier Cordon Rouge e Pernod

El Presidente #4 (Victor Bergeron – Trader Vic’s Bartender’s Guide)
Havana Club 7 Años, Dolin Dry e Grand Marnier Cordon Rouge

Fancy Sour (Stan Jones, 1977 – Jones’ Complete Bar Guide)
Carpano Classico, Luxardo Maraschino, limão, laranja, clara, Angostura Aromatic e orange bitter

Morning Glory 📸 @mdemuto

Fish House Punch #1 (Filadélfia, 1794 – State in Schuylkill Fishing Corporation)
Havana Club 7 Años, brandy de Jerez, licor Peachtree e limão

Morning Glory Fizz  (George Kappeler, 1895 – Modern American Drinks) foto
Dewar’s 12 Years, limão,  açúcar, clara, Pernod e club soda

Russian Punch (Harry Johnson, 1892 – Bartenders’ Manual
Brandy de Jerez, Porto Tawny, limão e xarope de chá preto

Sherry Cobbler  (Jerry Thomas, 1862 – How to Mix Drinks – the Bon Vivant’s Companion)
Real Tesouro Oloroso, Luxardo Maraschino, fermentado de abacaxi e laranja

Tuxedo #2 (Harry Craddock, 1930 – The Savoy Cocktail Book)
Plymouth, Dolin Dry, Luxardo Maraschino, Pernod e orange bitter

Para quem está começando na aventura do mundos dos coquetéis e não se sente tão aventureiro, é possível pedir um excelente Bloody Mary ou Old Fashioned, que não estão na carta, além de uma gama de doses e licores. 

Sobre ser uma mulher a liderar um bar, Michelly, que já passou por locais como Alberta#3, Frank e Casa do Porco, acredita no trabalho com uma linha séria e low profile e estudar – muito! 

A chefe de bar, que montou uma equipe de barmaids de peso, afirma que sempre manteve uma postura política e social bem definidas e que transpassam na vida pessoal e profissional. 

O projeto EBS (Eu Bebo Sozinha)  começou exatamente por isso, desmistificar alguns assuntos, falar sobre algo que quase ninguém quer, uma realidade diária que as mulheres passam, não somente em bar, mas na vida. Mostrar que temos voz e que temos sim que mudar esse cenário”, deixa o recado Rossi, 

Então um brinde ao amargor com notas de resistência e por mais minas no bar – atrás e na frente do balcão!

Saiba Mais

FEL BAR

Facebook: www.facebook.com/fel.cocktails
Instagram: www.instagram.com/fel.sp/
Endereço:
Avenida Ipiranga, 200 – loja 69 – República – São Paulo
Horário: De segunda a sábado, das 19h às 01h
Capacidade: 25 lugares

*POR GIULIA CIRILO, ESPECIAL PARA O MIXOLOGY NEWS

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