Eu nunca vou tomar um drink com David Bowie – e essa é uma verdade triste. Não vou olhar para o cara sentado ao meu lado no balcão e rosnar entredentes: “É o Bowie, certeza, é o Bowie”!
No mundo ideal, dentro do meu bar imaginário, Bowie estaria tomando um Martini.
Ou melhor: um Ziggy Stardust Martini.
Tranquilão, na maior paz, sem ninguém em cima, sem mídia, seguranças ou groupies. Eu, claro, pediria o mesmo Martini – no que Bowie reagiria com um simpático “boa escolha”.
Apresentados pelo barman (que seria meu amigo também), conversaríamos sobre os playoffs do futebol americano, sobre a quantidade certa de azeitonas no dry e sobre a longevidade da Rainha Elizabeth.
A morte nos tira essa possibilidade (mesmo que absolutamente remota) de beber com quem se admira. Só pra ficar na mesma praia, penso no barato que seria beber com o Lou Reed. Just a Perfect Day! Ou tomar uma Jack Coke com o Lemmy, do Motörhead.Do time dos escritores, gostaria de beber com aquele que é o grande ícone dos bares, o cara que deixou sua marca em balcões cubanos, espanhóis, franceses, italianos e outros. Ele, o fodão, o Hemingway.
Só em Barcelona, se não erro as contas, existe uns 20 bares que se vendem como “o bar que Hemingway frequentava”, o bar em que ele já teria amarrado um porre, o bar em que ele já teria trocado uns golpes de boxe.
Vai parecer machista. Mas com o Hemingway, sorry, queria falar de mulher. Ou de broxada. Pode ser também.
Ao se sentar em um balcão já frequentado pelo Hemingway me concentro em receber suas energias etílicas. Tomo seu cocktail preferido como se estivesse passando por uma transfusão de sangue, de inspiração e talento.
Claro, nunca rolou. Bebi em uns 100 “bares do Hemingway” e nunca escrevi nada que prestasse. Pelo menos, bebi bem.
Também queria beber com o Camus e falar sobre a vida, a morte e essas coisas que a gente pensa depois do terceiro trago; queria beber com o Faulkner e falar sobre a possibilidade do Donald Trump ser presidente dos EUA; queria beber com o Roberto Bolaño e falar sobre poetas latino-americanos; queria beber com Charles Bukowski e… não, não, beber com Bukowski ia dar merda.
Dos vivos, ora, tem vários que eu adoraria de puxar um papo de bar. Woody Allen (para falar sobre a Scarlett Johansson); Scarlett Johansson (pra falar sobre como seria legal se ela namorasse um brasileiro desconhecido e pobre); Bob Dylan (pra falar do Renda Mínima do Suplicy) Leonard Cohen (pra não falar nada e só ficar escutando), Paul McCartney (pra falar sobre alimentação balanceada); Jeff Tweedy (para perguntar quando o Wilco vai tocar no Brasil) e Chico Buarque (pra falar de futebol, claro).
No bar, bebendo, eu sei, seria a única forma de me sentir igual, de relaxar e tratar um mito como se fosse um velho amigo de copo.
Ah, Bowie, me conta: No céu, aí mesmo, tem bar?
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