O Dry Martini é drinque mais famoso é cheio de mistérios da história. Conversamos com os bartenders para saber a maneira perfeita de cada um para fazer seu próprio cocktail 

O Dry Martini é um coquetel icônico que está marcado na nossa memória como um drinque de gente chique, poderosa e inteligente (ah filmes de Hollywood!). No mundo real, esse coquetel é servido nos bares do mundo inteiro e geralmente cada pessoa, seja cliente ou bartender, tem o seu próprio ‘segredinho’ para a execução de um Dry Martini perfeito.

A criação desta receita, inclusive, tem um pouco de mistérios. Na verdade é uma história que começa no século XIX, por volta de 1882, com o coquetel Martini Cocktail (que tinha xarope de goma, bitter, curaçao e old Tom gin) e se consolidou como Dry Martini no início do século XX, onde o magnata Rockfeller tem um dedinho na receita que mais se assemelha com as que encontramos nos bares atualmente. 

Leia a história do Dry Martini de 1882 a 2019 aqui

Apesar de ser um coquetel que está em transformação constante, a graça do Dry Martini também está na execução do drinque. Além das particularidades de cada um com relação à receita (quantas partes de gin para vermute, quantas gotas de bitter, azeitona ou não?) também conta com trejeitos de ordem, taça, perfumes borrifados etc – é quase como se cada um desenvolvesse sua própria mandinga, até James Bond tinha a sua (quem aí se lembra da icônica frase “Shaken, not stirred”?)

Pré-resfriada

A taça no estilo Martini já previamente gelada é a campeã dos segredos da maioria dos bartenders. A consultora da Bento Eventos, Maria Bento, além de deixar a taça bem gelada, gosta de dar aquela perfumada antes. 

“ Eu gosto do meu Dry Martini perfumando a taça com vermute e depois o reservo (com pedras de gelo) para depois seguir com a receita clássica”, comenta Maria, que tem grande atuação na coquetelaria baiana. 

Outro bartender que também gosta de perfumar e pré resfriar é consultor Tomate Simioni: “Pra mim o Dry Martini precisa estar em uma temperatura correta, para não ficar muito aguado…gosto de perfumar a taça, ou lavá-la com vermute e já deixo 80 ml de gin pré-resfriado no mixing glass”, relata. 

Azeitona ou limão?

Este ícone merece um capítulo à parte, pois cada um tem as particularidades com relação à esta guarnição. Apesar de o zest de limão figurar na receita original, já está estabelecido na imaginação mundial a imagem do Dry Martini em uma tacinha em V com um líquido transparente /turvo e uma azeitona espetada em um palito.

Alex Camargo, do Sal Gastronomia, acredita que o Dry Martini (ao lado da Caipirinha) são os drinques mais difíceis de serem executados, porque apesar de ser uma receita simples, é extremamente complicado de agradar aos ‘entendidos’. “Em tese ele tem três ingredientes, mas são as medidas que pegam…todo mundo quer de uma maneira diferente, mais seco, mais suave, cada um tem a sua receitinha”, relata.

Para Alex, a receita perfeita é com limão siciliano de guarnição, com características bem cítricas e perfumadas. A receita do bartender é no pré-preparo perfumar a taça com limão e também repetir no mixxing glass com 5 ml de vermute seco e 75 ml de gin. Depois de mexer, despejar bem gelado em uma taça.  Por não gostar muito da ideia da azeitona, Camargo utiliza nos bares em que trabalha como opção à azeitona o alcaparrone. 

Apesar de ser uma releitura de um Dirty Martini, o bartender Jonathan Pereira, do Pita Bar (fã declarado de Martini), faz uma receita com picles infusionado no vermute. “Por ser uma casa árabe a gente trabalha bastante com picles em conserva, resolvi infusioná-lo no vermute e a gente serve 10 ml de vermute infusionado com picles e o próprio picles como guarnição, no lugar da azeitona”.

Mandingas dos clientes

No mundo dos Dry Martinis, não são só os bartenders que tem as especificidades, eles encontram clientes com gostos e vontades particulares também. Como comentou acima Alex Camargo – apesar de ser uma receita com poucos ingredientes, cada um tem o ‘jeitinho’ particular de achar o tal do ‘perfect serve’. 

Jonathan Pereira também relata uma técnica curiosa que um cliente pediu um dia. “Eu já recebi pedido de Dry Martini de todos os jeitos, mas uma vez, um cara pediu para eu borrifar o vermute durante a coagem do mixxing glass para a taça…ele não queria vermute na fórmula, ele não queria na taça…ele me fez colocar o vermute no borrifador e borrifar enquanto o líquido estava caindo na taça…deu trabalha na hora, mas o resultado ficou bem interessante”, relembra o bartender do Pita sobre a experiência. 

Para Tomate Simioni uma experiência que chamou bastante atenção não foi exatamente com relação a um pedido particular, porém a quantidade de Dry Martinis que uma vez o cliente tomou: “Foram 11 taças e o cara ainda saiu andando”, relata com humor ao lembrar da cena. 

Alex Camargo lembra que uma vez a execução de um Dry Martini foi um desafio para ser contratado para um bar. “Em uma entrevista de trabalho, a pessoa pediu que eu levasse todas as produções que eu tinha e daí ao fim, depois da gente conversar sobre as minhas experiências e currículo, o cara me pediu um Dry Martini…senti ali que era um teste de prova final”. 

O que não faltam são estilos e um jeito particular de cada um de fazer um Dry Martini perfeito. Se você tem um, conta pra gente!

*POR GIULIA CIRILO PARA O MIXOLOGY NEWS

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