Nosso país tem muitos produtores de bebidas artesanais que fazem um trabalho primoroso e que vale muito a pena estar no seu roteiro de lugares para visitar; confira as dicas

O hábito de colocar no roteiro de viagem uma visita à uma destilaria, vinícola ou qualquer produção etílica é sempre um momento alto na vida do turista, pois é uma experiência enriquecedora de história, de cultura e gastronomia e por muitas vezes somos fãs de uma determinada marca – é quase como visitar a casa de um ídolo. 

Mas você já reparou que esse tipo de turismo é muito mais comum quando vamos para fora do Brasil? Infelizmente a nossa síndrome de vira-lata somada à infraestrutura das produções etílicas no nosso país, que até pouco tempo eram bem amadoras, acabaram que criando uma cortina de fumaça no setor e muitas pessoas nem sonham com o que acontece na cena atualmente. 

Com o estabelecimento de mais conhecimento, investimentos no setor, tecnologia e uma galera empenhada para fazer produtos nacionais de qualidade baseados terroir e ingredientes locais, o resultado é um crescimento exponencial de interesse e investimento no turismo.

Conversamos com pessoas viajadas, pesquisadores, curiosos de plantão e, principalmente, degustadores apaixonados que nos contaram um pouco de alguns destinos etílicos no Brasil que valem muito a pena a visita e precisam estar no seu roteiro de viagem.

São vinícolas, alambiques e cervejarias que mostram o potencial das produções que temos no nosso país, confira abaixo.

Cachaçaria Macaúva

Localizada em Analândia, que fica a 224 quilômetros de São Paulo, a cachaçaria idealizada por Milton Lima conta com uma infraestrutura que atende aos turistas que vem de mais longe para apreciar a história e a cachaça. 

O espaço cercado por um lindo jardim conta com um alambique, onde o são explicados os processos produtivos da cachaça aos visitantes e também com um acervo de mais de 500 cachaças da coleção que estão expostas. 

A Cachaçaria Macaúva também oferece aos turistas a opção de hospedagem, em que o viajante pode ficar em um dos seis chalés independentes, e também apreciar a gastronomia do chef Bento Ferraz, que comanda a cozinha do espaço e traz para o visitante pratos que valorizam a culinária brasileira e regional. Além da programação da cachaçaria Macaúva,  Milton Lima também encabeça o ‘Roteiro da Cachaça’, que são passeios turísticos na região que contemplam também a cidade de Pirassununga (famosa por ser a terra da cachaça 51), em que os turistas podem fechar um pacote e conhecer também o Alambique Sapucaia, que produz cachaças premium, rum, licores entre outros, e também o Engenho Pequeno, produtor da cachaça de nome homônimo, a Patrimônio e também o gin nacional Virga

“Existem, pelo menos, quatro mil cachaças, e pode conectar as pessoas, contar a história de uma região, de uma família, de uma cidade, de uma cultura, de um processo. E é exatamente isso, o que queremos fazer com o nosso Roteiro Cachaça!”, pontua Milton Lima

O ‘Roteiro da Cachaça’ é realizado em turmas de no mínimo 10 pessoas, com o transporte em vans executivas com wi-fi. Para saber todas as informações de valores e programação, pode-se encontrar no site Coisas do Interior

Maison Leblon 

Em Patos de Minas, no cerrado mineiro de Minas Gerais, o turista pode aproveitar a viagem à Serra da Canastra e dar uma passadinha na Maison Leblon, responsável pela destilaria de uma das cachaças consagradas no mercado internacional. 

Sem a necessidade de agendamento prévio, o visitante pode aparecer para fazer uma visita ao alambique o ano todo, de segunda a sexta-feira das 08 às 17h. Lá o visitante é recebido pela equipe e passa por uma orientação de segurança que dura 20 minutos, em que são explicados os sistemas dentro da destilaria. 

A visita guiada é feita desde o canavial, onde o visitante acompanha o processo de colheita, moagem e destilação da cana e depois visita o espaço em que ficam as barricas de envelhecimento de carvalho francês e por muitas vezes acontece uma degustação das cachaças que estão nos barris. 

“A minha experiência como visitante foi incrível, porque você consegue ver na prática todos os processos, desde a colheita da cana até ela ir para o barril e no final  você acaba ganhando uma cachaça que é chamada de seleção verde, que é uma cachaça que acabou de ser destilada e não passou por barril… você sai de lá realmente entendendo o porquê a cachaça artesanal tem um valor agregado”, comenta Marcello Gaya, embaixador da Bacardi Brasil. 

Região de Salinas 

Neste caso este é um destino para aqueles que amam uma cachacinha envelhecida em bálsamo. A pequena cidade mineira de Salinas, ganhou notoriedade por ser uma região que tem uma produção de cachaça muito específica, inclusive tem o IG (Indicação Geográfica) reconhecido pelo INPI. 

A quantidade de alambiques é impressionante, sendo 27 em uma cidade de apenas 39 mil habitantes. É de lá a produção da famosa cachaça Havana, feito pelo imortalizado Anísio Santiago, o entusiasta de envelhecer a cachaça em bálsamo e também um dos alambiques tradicionais que estão no roteiro de quem vai à cidade. 

É da região de Salinas também cachaças como a Boazinha, Seleta, Saliníssima, Tábua, Canarinha, Anísio Santiago, Lua Cheia, Indiazinha e por aí vai. 

Todo ano também acontece o tradicional ‘Festival Mundial da Cachaça’, um evento que movimenta a economia da cidade e atrai turistas e produtores de várias regiões, além de uma programação de shows e exposições. 

O cachacier Maurício Maia é um daqueles que já foram diversas vezes para Salinas tanto para pesquisa, quanto para turismo e informa que a maioria dos alambiques são preparados para receber visitantes, com guias e degustações, sendo que alguns deles até tem estrutura de restaurante. 

De acordo com Maurício, a região de Salina é bem focada mesmo nas produções de cachaça e o turismo é basicamente voltado para esse itinerário, então quem for tem que gostar de cachaça. 

“Tem o mercado central, que é interessante para quem gosta de ingredientes, comidas e produtos frescos”, relata Maia. 

Para quem tiver interesse em averiguar os roteiros de alambiques, a APACS (Associação dos Produtores Artesanais de Cachaça de Salinas) é indicada para se obter mais informações.

Cervejaria Pratinha 

Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, é denominada a ‘Califórnia Brasileira’, título que foi dado pelo jornalista Ricardo Kotscho que comparou o potencial econômico do município ao estado californiano. Tirando isso, a cidade é conhecida pelas universidades, pelo polo agroeconômico e pelo calor arrebatador que estimula a cultura cervejeira da região. 

Famosa por ser a casa da chopperia clássica Pinguim e da cervejaria Colorado, Ribeirão Preto fomenta uma cena importante de cervejarias independentes que trabalham cada vez mais para trazer novos rumos e sabores às cervejas brasileiras. 

É de lá também a Cervejaria Pratinha, que coleciona várias premiações, incluindo o título em 2018 de melhor cerveja das Américas pela Copa de Cervezas de America. A produção da cervejaria se destaque pela criação da Magic Booze, uma bebida que ao ser adicionada a água com gás se transforma em cerveja. A sommelière Bia Amorim indica a visita pelo sistema impecável da fábrica e dos equipamentos: “No  passeio o visitante conhece a fábrica, o Beer Hacklab que tem uma sala com tanques de fermentação abertos e onde se produz também a Culotte de la Duchesse, cerveja que já ganhou como melhor cerveja das Américas”. 

Os tours são realizados somente aos sábados a partir das 10 horas da manhã e inclui visita guiada e degustação de cervejas. Os ingressos devem ser comprados com antecedência através do site da cervejaria. 

Cervejaria Bodebrown 

A cidade de Curitiba, no Paraná, é por si só já turística e não há quem resista fazer uma foto clássica em frente ao cartão postal da cidade, o Jardim Botânico. Quem estiver com programação para visitar a capital paranaense e gostar de cerveja pode também colocar na agenda uma visita à Bodebrown

O local é uma das cervejarias mais premiadas da América do Sul e possui diversos estilos de cervejas bem diferentonas, como Imperial IPA, Wee Heavy, Black Rye IPA entre outras envelhecidas em madeira. 

Segundo a sommelière Carolina Oda, a Bodebrown vale a pena a visita pelo clima descontraído que a cervejaria proporciona. “É legal aos fins de semana, eles têm muitas torneiras e é um ambiente bem democrático, que é raro de ser ver nas cervejarias, e meio que vira uma festa na rua que tem galera jovem, famílias, crianças, cachorros etc”. 

Cave Colinas de Pedra 

Se você não gosta de cerveja, quem passar pela região de Curitiba também tem outra opção de destino etílico: a Cave Colinas de Pedra. Localizada em um cenário paradisíaco digno de filme, o local especializado em maturação e processos finais de vinho espumante fica na nascentes do Rio Iguaçu, a 30 quilômetros de Curitiba. 

Essa indicação do especialista Bernardo Silveira conta com uma estrutura muito curiosa, pois os espumantes descansam em um antigo túnel ferroviário desativado de 429 metros de extensão, que pertencia à extinta Rede Ferroviária Federal S.A., que tem uma temperatura interna que varia entre 1ºC e 16ºC.

O espaço também conta com um restaurante, que fica em uma antiga estação ferroviária revitalizada, e que serve pratos harmonizados com os espumantes. Outro ponto curioso é também um bar de degustação de vinhos que fica dentro de um carro de trem da década de 60. 

O Cave Colinas de Pedra recebe os visitantes somente com reservas antecipadas, que podem ser feitas através do site, aos sábados e domingos, às 11h30 e 15h.

Rio Sol

A Vinícola Rio Sol fica fora da rota dos vinhos do Rio Grande do Sul e se encontra na cidade de Lagoa Grande, a uma hora de Petrolina, no estado do Pernambuco. A visita contempla ao turista a opção de quatro possibilidades de passeio.

A opção de passeio tradicional contempla um tour guiado pelo vinhedo, pela fábrica e também degustação de vinhos. Outros passeios podem incluir um passeio de catamarã pelo Rio São Francisco até a uma visita mais pedagógica, em que o visitante consegue ter uma aula sobre condições climáticas, tipo de solo e os diferentes tipos de uvas etc. 

A dica é da sommelière e consultora Mikaela Paim, que indicou a vinícola Rio Sol por ser um dos passeios de enoturismo que foge das dicas óbvias. A empresa portuguesa desafiou as condições de clima e geográficas e atingiu um resultado surpreendente na elaboração de vinhos. Se diferencia ela produção e tecnologia e uso das uvas portuguesas como Touriga Nacional…experimente: o Espumante Rosé da uva Syrah”, comenta Mikaela. 

A Rio Sol oferece passeios de segunda a sábado e informações sobre horários de cada passeio e reservas podem ser conferidas no site da vinícola. 

*POR GIULIA CIRILO PARA A MIXOLOGY NEWS

 

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