A flexibilização chegou nos bares! E com ela, um mar de cuidados e atenção nesse momento.

Já é possível ler ou ver, afinal estamos na era das lives, as primeiras impressões sobre os bares e restaurantes que já se beneficiam do horário permitido para suas operações.

Assim como a maioria, eu não poderia estar mais ansioso pela volta as atividades e retomada dos projetos adiados pela crise. Me sinto animado por relatos de estabelecimentos que cumprem a risca as “novas” normas e revigorado ao saber sobre as alegres brigadas que já podem imaginar um horizonte saudável, ao menos financeira e psicologicamente.

Mas um fantasma ronda a flexibilização.

As cenas de aglomeração e falta de cuidados que nos chocaram, ocorridas no Leblon logo no início da retomada, não parecem uma realidade distante da nossa. O comportamento não é um “privilégio” só do Rio e foi visto em cidades de outros estados do país e também de países europeus.Afinal, o que leva um indivíduo a deixar a sua segurança abaixo da sua necessidade de socializar?

Segundo o psicologo social Waldik Junior, da Bahia,quando seu corpo recebe um alerta de perigo, entra em ação um mecanismo de defesa de luta ou fuga e, a partir do momento que esse sistema tem uma sobrecarga, como no exemplo da quarentena, nosso corpo acaba entrando em um estado que não é bacana”.

Esse “estado” ganhou o nome de “fadiga de quarentena” ou falência adaptativa e é apontado como um dos vilões da flexibilização fazendo vitima, inclusive, os defensores da quarentena. Como resultado se passar muito tempo com o risco iminente da doença e, mesmo ainda existindo uma crescente (de casos), as pessoas entram em um estado de barganha, acabando e até mesmo, em alguns aspectos, negando o que é exposto” completa Waldik.

O psicologo ainda aponta que a oscilação na maneira de comunicar os casos, que hoje ocorre no Brasil, contribuí para um descrédito do alerta de segurança e somados os fatores as pessoas, que já estão em um processo de fadiga dessa quarentena, acabam se perguntando o que é real ou não e assumem a tendência de voltar a normalidade, o que acaba sendo perigoso”.

Quer saber se o seu bar está cumprindo as novas determinações sanitárias? A Abrasel (Associação de Bares e Restaurantes do Brasil) fez uma cartilha para auxiliar na retomada.

Baixe aqui a cartilha da Abrasel de retomada dos bares

Como todas as formas de contaminação e as taxas de disseminação por pacientes assintomáticos ou pré-sintomáticos ainda são motivo de estudo, a “fadiga de quarentena” forma um barril de pólvora.

Basta uma faísca e todo o esforço dedicado ao isolamento vai pelos ares, pois a presença em bares já é por sí só, no momento, um risco alto, veja o gráfico ao lado.

Em entrevista ao site Veja Saúde, no dia 19 de junho deste ano, o infectologista Jaime Rocha, de Curitiba – PR, alerta, adoraria ter noticias melhores, Curitiba e o estado do Paraná viviam um momento muito bom quando começamos perceber um aumento no número de casos. Apesar de estarmos ainda com uma taxa de ocupação (de leitos) em torno de 50% o número de casos novos, graves e até de óbitos andou aumentando a ponto de deixar a situação muito preocupante. A flexibilização do isolamento já tem sido questionada. A gente começa a questionar se, realmente, semana que vem não teríamos de voltar a fechar vários estabelecimentos que haviam sido abertos. Então, estamos longe de comemorar nesse momento”.

Se seguir as novas normas não é o suficiente para lutar contra a “fadiga de quarentena” o que podemos fazer?

Talvez a resposta esteja na característica mais simples e impactante da hospitalidade, a empatia. Colocar-se na pele do outro é a ferramenta ideal para prever comportamentos, prevenir problemas e, de quebra, construir conexões reais e duradouras com seus convidados.

Na tentativa de antecipar os problemas criados em um ambiente que naturalmente gera aglomeração os bares HighLine, Seu Justino, Pracinha Seu Justino e Oh Fregues, que são parte do mesmo grupo administrativo e atendiam em média 20 mil pessoas ao mês, foram além.

Eles tem divulgado em seus canais um vídeo promocional, que entre várias mudanças previstas em lei, como medição de temperatura (foto ao lado), tapete sanitizante, distanciamento das mesas, utilização de EPI’s pela equipe e cardápios digitais mas que é estrelado pela câmara de ozônio. Veja o vídeo aqui no instagram deles.

Essas câmaras (corredores ou estações) que aplicam um composto químico desinfectante diretamente nas pessoas vem sendo testadas como uma possível solução ao redor do mundo.

Segundo Bruno Ferraro, sócio administrativo do grupo, a inciativa surgiu como um adicional para a proteção contra vírus e bactérias, tendo seu uso como opcional pelos clientes”, que baseou a eficácia do seu uso em estudos apresentados pelo fabricante e comprovados pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)” e que ainda optou pela instalação de secadores de mãos antimicrobiano com adição de íons de prata”.

A respeito do uso desses equipamentos contra a COVID-19, a Agencia Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) emitiu nota, no dia 13 de maio de 2020, declarando que não avalia a aplicação direta em pessoas e que, por essa razão o mercado nacional não possuí nenhum desses produtos com seu selo e reforça que esse procedimento não inativa o vírus dentro do corpo humano. Você pode conferir a nota completa aqui.

Bruno aponta que também não existem contraindicação na aplicação de ozônio liquido, usado nas câmaras de seus bares, destaca os bons resultados em tratamentos com ozonoterapia e afirma seguir fielmente as instruções fornecidas pelo fabricante do equipamento.

A verdade é que não existe uma formula mágica para acelerar o processo de volta a potencia máxima e que, por outro lado, voltar às medidas de isolamento não é nenhuma fantasia. Por isso é preciso pensar a longo prazo e usar da situação como uma oportunidade.

Tanto Jaime como Bruno concordam que só veremos uma retomada com força total após uma vacina acessível a todos, alguma tecnologia de testagem rápida e barata ou um super tratamento, ou seja, apenas quando tivermos certeza da imunidade das pessoas.

O infectologista ainda ressalta evento de massa hoje, para mim, são um churrascos de família” apontando que aglomerações podem ter classificações diversas de acordo com o momento, local e proximidade entre as pessoas. É preciso ter em mente que todas as fases do projeto de flexibilização das prefeituras deverão ter sucesso para que possamos retomar gradativamente à vida de 2019, veja o modelo abaixo.

Muitos bares não estão longe da solução ao tentar antecipar as necessidades de seus clientes mas, para tanto, é preciso estar atento a fontes confiáveis e científicas além de usar da empatia ao imaginar todas as possíveis interações às quais seu cliente é exposto.

Com consumo de comida e bebida constante, havendo a necessidade da retirada momentânea da máscara, caso seu cliente não tenha um “porta máscara” você fornecerá uma solução para armazená-las ou elas ficarão em cima das mesas? Sua calçada e área de espera possuem marcação de distanciamento e pessoal disponível para orientação?

Quem sabe a redução de capacidade não possa gerar uma oportunidade de oferecer experiências mais aconchegantes e serviços ainda mais atenciosos. Outra consequência pode ser habituar seus convidados a frequentar horários diferentes dos habituais e, ao fim da crise, ter demanda por um período mais ampliado e lucrativo.

O resultado dessa nova maneira de agir se traduzirá nos números e influenciará uma nova mentalidade no consumo de hospitalidade e que seguimos buscando a muito tempo – saudável, prazerosa e da qual possamos ser orgulhosos.

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