Aprenda tudo sobre o Pequi, o verdadeiro ouro do Cerrado
Caryocar brasiliense Camb é o seu nome científico, mas todo mundo conhece como Pequi mesmo.
Outros nomes possíveis são Piqui, Piquiá-bravo, Grão-pequiá, Pequiá-pedra, Pequerim, Suari, Piquiá, Grão-de-cavalo e Amêndoa-de-Espinho.
Na cultura indígena, o fruto é sabiamente chamado de “Pele com espinhos” devido aos perigos de morder a polpa de forma brusca e machucar a língua e o palato com os espinhos. Sua origem de acordo com a etimologia deriva do Tupi-Guarani: “py-qui” onde “py” representa “pele” e “qui” significa “espinhos”.
O Pequizeiro é nativo de todo o Cerrado e é distribuído nos estados de São Paulo, Tocantins, Rio de Janeiro, Piauí, Pará, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Maranhão, Goiás, Distrito Federal, Ceará e Bahia.
É uma árvore popular e difundida por estar presente no segundo maior Bioma do Brasil, que abriga uma área de cerca de 2.000.000 km².
Seu tamanho varia de acordo com a região a qual está inserido e as condições climáticas, podendo nas mais favoráveis, como na Região Norte, passar dos vinte metros de altura e diâmetro de até cinco metros. Já no Nordeste e Centro-Oeste as árvores têm um porte normalmente de até dez metros de altura, o que é bastante raro na região predominada de vegetação rasteira. Este fato o torna um dos maiores exemplares deste Bioma, sendo bastante ramificada, melífera e de beleza ornamental.Ele é consumido ao longo de todo o ano pois devido sua sazonalidade e perecibilidade da polpa são normalmente utilizados na produção das mais variedades de conservas ou simplesmente congelados, facilitando para que o consumidor tenha acesso aos produtos em mercados, empórios e casas típicas do Cerrado. Por sua versatilidade, são aplicadas técnicas de preservação em doces e salgados como: sorvetes, geleias, polpa em salmoura, creme da polpa, molhos, “azeite de pequi”, óleos essenciais, nos famosos licores artesanais, entre outros usos).
Se tornou indispensável na Cultura da Alimentação pois o fruto possui bastante calorias, óleos, vitaminas e proteínas, além de um sabor e aroma perfumado e único, tendo sido uma ótima opção de reforço nutricional das populações ao longo dos últimos séculos.
“Ouro do Cerrado” pelo valor inestimável e reconhecimento em todo o território nacional, por ser tradicional na gastronomia e cultura regional, por suas propriedades medicinais, pelo seu valor econômico e ecológico e pelo altíssimo grau de aproveitamento da árvore como um todo.
O fruto tem o tamanho próximo ao de uma maçã e uma casca verde antes de madurar, na parte interna existe um caroço revestido por uma polpa macia e amarela que é comestível. Abaixo desta polpa tem uma camada de espinhos finos que devemos tomar cuidado para evitar acidentes ao roer o Pequi. Por baixo destes temíveis espinhos encontramos uma amêndoa macia e saborosa.Para fins medicinais, é possível fazer a extração do óleo da polpa (com efeito tonificante, auxilia no combate de gripes e resfriados; controle de tumores; usado contra bronquite por possuir um efeito expectorante), o chá das folhas para regular o fluxo menstrual, e, o óleo de amêndoa com suas ações anti-inflamatórias, cicatrizantes e gastroprotetoras. A indústria cosmética produz sabonetes e cremes hidratantes através da extração dos óleos presentes na amêndoa do Pequi.
Da casca e das folhas são extraídos corantes amarelos de ótima qualidade, que os tecelões rústicos utilizam em tinturas caseiras. As flores são fonte de alimento para os animais silvestres como insetos, paca, veado, e, os caçadores do Cerrado sabendo disso costumam usar as árvores mais floridas para esperar os maiores animais e abatê-los para seu consumo. A madeira pode ser usada para xilografia, construções civil e naval, confecção de móveis e fonte de carvão para siderurgias.
O maior risco proveniente da excelência da madeira da árvore está na exploração desenfreada do carvão vegetal e devastações em áreas que deveriam ser protegidas devido a importância do Bioma para o país inteiro. Nos últimos anos foi excessiva a perca de exemplares nativos de pequizeiros, que alimentaram caldeiras e queimadas, correndo agora risco de extinção.
Afim de contornar os danos e salvar o Pequi, os técnicos do Centro da EMBRAPA do Distrito Federal trabalham para produzir novas mudas e espalhar nas áreas de reflorestamento. Políticas públicas em Minas Gerais fomentam a cultura do tradicional fruto, estruturando desde a produção até a comercialização, envolvendo os autóctones e até mesmo mostrando para as crianças o valor cultural através de merendas na rede estadual.
Estas ações do Governo do Estado suportam algumas leis estaduais, como ocorreu a regulamentação em 2013 do Programa Mineiro de Cultivo do Pequi e outros frutos do Cerrado. Proteger o Pequi e fornecer dignidade aos extrativistas, tendo seu trabalho valorizado e qualidade de vida garantida, com a tradição dos mateiros e técnicas ancestrais de preservação dos Pequizeiros é a meta a ser alcançada.
O mercado externo também se encantou com o sabor e aroma tão marcantes. Atualmente o Pequi é exportado para países da Europa (Espanha, Portugal, Inglaterra, Irlanda e Alemanha), além dos EUA e Japão. Graças à profissionalização de produtores, excelentes técnicas de conservação e uma logística inteligente fazem com que o Pequi ganhe espaço ao redor do mundo.
Em algumas cozinhas e balcões que valorizam insumos e cultura brasileira este fruto é utilizado em receitas doces e salgadas. O bartender Jean Ponce, do paulistano Guarita Bar, explorou o óleo do pequi despejando algumas gotas em um coquetel autoral intitulado “Gaelito” (foto abaixo) combinando bourbon, Campari, vermutes tinto e seco, bitter de cardamomo e Brasilberg. A untuosidade quando o óleo atinge a mucosa da boca e seu sabor intenso trazem muita personalidade e brasilidade nesta variação do clássico Boulevardier.
Valorizar as nossas raízes e ajudar de alguma maneira a levar uma experiência agradável aos consumidores de nossos bares e restaurantes, promovendo viagens sensoriais, resgate de memórias afetivas ou novas sensações provam como uma simples fruta pode ser um verdadeiro tesouro se bem explorada.
Tomara que o nosso Ouro não se torne Carvão e que a exploração desenfreada seja combatida com a disseminação da informação e a valorização do Cultura que envolve o Pequi.
Aproveite para preparar uma receita especialmente criada para esse momento.
Para conhecer também o Bioma “Da Mata Atlântica” clique aqui
Arrocho de Pequi
55 ml de cachaça orgânica com maceração de ramos e lascas de oliveira
35 ml de shrub de pequi (polpa de pequi, vinagre de maçã e açúcar orgânico)
15 ml de cordial de limão tahiti & baunilha do Cerrado
1 Pitada de flor de sal
2 borrifadas de conhaque de alcatrão.
Escolha um copo baixo ou xícara que lhe agrade e reserve com gelo.
Em uma coqueteleira com gelo, adicione todos os insumos exceto o conhaque de alcatrão (guarnição aromática de nota defumada).
Bata até que se torne homogêneo e devidamente gelado. Descarte o excesso de água do copo/xícara e faça coagem dupla.
Adicione uma camada de gelo picado acima do coquetel e como guarnição uma rodela de limão tahiti com um bouquet de folhas secas de oliveira ao centro e uma bailarina de shrub de pequi escorrendo da rodela para a camada de gelo.
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