essa matéria foi originalmente produzida e publicada pelo jornalista Guga Caçador de Boteco na Tribuna Paraná em 19/12/2024

Um verdadeiro tesouro com um valor inimaginável deixado para a eternidade. São relíquias e histórias de vida que fizeram de um comerciante vindo do interior do Paraná se transformar em dono de um império com mais de 1000 garrafas de bebidas alcoólicas incluindo raridades de cachaças produzidas pela JMalucelli ou mesmo um Velho Barreiro de garrafa verde.

Esse acervo está à venda em Curitiba, juntamente com outras centenas de itens como fichas telefônicas, congas e kichutes.O dono da coleção que faz qualquer botequeiro se emocionar pertenceu ao Walfrido de Souza, natural de São João do Triunfo, sudeste do Paraná. Foi casado com Julia Peres, em Ibaiti, onde tiveram quatro filhos (Beti, Sueli, Paulo e Walfrido Junior). Depois de suar a camisa na terra, Walfrido iniciou a vida como vendedor.

“O pai trabalhou em uma loja chamada Leão do Norte vendendo fogões e sonhava em ter um negócio próprio. Quando veio para a capital, locou ali no Trevo do Atuba, um bar e lanchonete, passagem obrigatória de quem parava ali na Penha”, recordou Walfrido Junior, o caçula da família que carrega com orgulho o nome do pai.

Após um período no Atuba, o triunfense decidiu empreender mais uma vez, e apostou em um armazém no bairro Bacacheri, em 1966. No estilo Secos&Molhados, Walfrido vendeu de tudo um pouco no local, com modelo antigo de balança e o velho caderninho da freguesia. Quatro anos depois, no mesmo terreno da mercearia, montou um bar que possibilitaria a compra de garrafas históricas.

“Foi um marco importante para o pai a montagem do bar ao lado da mercearia. O bar foi um espaço cheio de vida, arrojado, bem ventilado e com grande destaque no bairro. A região adotou toda a família”, reforçou Walfrido Junior que acompanhou o pai por vários anos. O patriarca veio a falecer em 2023 com 93 anos.

Garrafas históricas para colecionador

O local em que o estoque está preservado é mantido em sigilo. A reportagem da Tribuna do Paraná recebeu o endereço poucas horas antes da visita e ficou definido por questão de segurança, que o exato lugar não será divulgado.

Ao chegar no recinto, uma esquina bem tradicional do bairro, é como entrar em um palácio do gole. A estrutura do bar e da mercearia seguem intactas como o gigante balcão de madeira azul que está em perfeito estado. Piso laranja dos antigos que ficavam brilhantes com uma cera Canário tendo prateleiras bem alinhadas para garantir o bom posicionamento das garrafas.

“O armazém funcionou até 1984, o bar até outubro de 2023. Aqui está a história não só minha, mas junto com dos meus irmãos. A responsabilidade era com a família e com os clientes. O pai deu sabedoria e deixou um legado eterno tanto nas garrafas como de vida”, disse Walfrido Junior.

Na parte do estoque do bar, onde funcionou a antiga mercearia, são mais de 1000 garrafas expostas do jeito que o dono deixou e lá ficou. A poeira já faz parte da característica de alguns itens envazados há mais de 40 anos. Ao descer no “templo”, é impossível não ficar surpreso com tanta bebida de nome.

São garrafas de cachaça Oncinha e Tatuzinho com rótulos originais e bem conservados, um Cinzano marcado pela Copa de 1970, em que foi patrocinador oficial do evento, aguardente Vila Velha, Caninha 20, fora as centenas de Pirassununga 51 e Velho Barreiro.

Para colecionadores ou mesmo com uma idade acima dos 40 anos, é ver de perto garrafinhas históricas de refrigerante ou mesmo de outras bebidas que deixam a turma animada como gin, vinho e uísque.

“São cachaças com mais de 35 anos e outros itens de antiguidade. São mais de 1000 peças com vários rótulos, garrafas, latinhas e até uma caixa de fichas da Telepar. Estou impressionado com os colecionadores do Brasil, pessoas que desejam resgatar marcas e histórias. Confesso que estou surpreso pela procura”, informou o filho do eterno dono.

Quanto ao sabor, a cachaça não estraga com o tempo se for armazenada de forma adequada, pois tem prazo de validade indeterminado.

Destaques da coleção e como comprar?

É difícil selecionar os destaques de uma rica coleção, mas alguns produtos chamam a atenção e o preço para ser comercializado é acima de R$ 400. Já pensou um Velho Barreiro na garrafa verde ou uma Predilecta do Grupo JMalucelli?

“Acho que eles da Jota nem sabem dessa produção que tiveram, o Velho Barreiro envasado em garrafa verde ou uma Vila Velha em garrafa de Velho Barreiro feito na década de 1970 é curiosidade pura. O legal que as pessoas estão mandando fotos e vídeos degustando com o pai ou amigo. A história também passa ao nosso comprador e acalenta o nosso coração. O destino foi desfazer, dando um valor e não o preço da nossa história”, comentou Walfrido Junior.

Essa venda ao público tem suas particularidades. Não basta chegar no local e comprar uma pinga 51. Os donos desejam comercializar para pessoas que agreguem a preservação histórica com o charme das antigas coleções.

“Não foi uma decisão fácil de vender a nossa história. A partir disso, estamos tendo cautela. Não vendemos para qualquer um pensando que ele vai beber na esquina, a pessoa conta uma história ou motivo de compra também. Não queremos que pare em mãos erradas”, reforçou caçula dos Souzas do Bacacheri.

Caso tenha interesse em compra, entre em contato com um dos responsáveis pelo acervo. O telefone é o (41) 99686-8019 com o Ander.  Existe a possiblidade de venda com “porteira fechada”, ou seja, leva tudo que está dentro do imóvel.

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