28 de fevereiro, Dia Nacional da Ressaca. Descubra a cura para a ressaca no texto do Danilo Nakamura

Texto escrito por Danilo Nakamurajornalista e escritor no site Le Figado.

O meu fígado é das coisas de que mais me orgulho na vida – não à toa, dá nome ao meu blog que te convido a ler (Le Figado). Faço exames anuais e, mesmo bebendo com regularidade há duas décadas, ele segue em boa forma, sem gordura, sem cirrose ou grandes avarias. E não é que eu só beba néctares etílicos. A média é até boa, mas, aqui e ali, mando umas pingas safadas para dentro, catuaba no carnaval, uma brahma no boteco 24 horas, já tomei até corote sabor esmeralda. Não posso reclamar. Fígado é que nem talento: não se adquire, só se rega.

Outro motivo do meu orgulho hepático é a boa performance que tenho no dia seguinte. Com 5 ou 6 horinhas de sono, eu seguro o tranco com qualidade, trabalho atento, lavo louça e cozinho pras visitas. O que não significa que não tenho ressaca. Imagino que, em maior ou menor intensidade, todos tenham, ela está aí e cai até quem não quer. A minha é uma ressaca amistosa, como uma amiga sábia, que não grita, mas te lembra de que ela está ali, quase uma companheira. Ela me alerta do quanto bebi no dia anterior, mas não me impede de seguir na batalha e jogar o carnê pro dia seguinte. Eu converso com a minha ressaca, e a gente não costuma brigar.

Porém, eu conheço gente que padece no calvário, numa espécie de dengue por um, dois, três dias, como um Sísifo tentando carregar o próprio corpo ladeira acima. Aqui, não tem negociação, o boleto é caro, compulsório e imparcelável. Deve ser muito triste.

O sabor da ressaca também é muito particular. Há quem prefira se entupir de comidas gordas (eu!), feijoada, puchero, McDonald’s, comida chinesa ou isso que chamam de chinesa, um costelão com polenta frita – haja serviço de guincho na cidade. E há quem não dê conta, prefira uma salada com arroz integral, grãos, cházinho, essas coisas de quem lê só com a luz do abajur e que consegue dormir e acordar ainda coberto, na mesma posição.

No ano passado, eu convidei o amigo Júlio Bernardo (o Jota Bê) para copiarmos essa moça aqui, uma jornalista da Vice britânica que decidiu testar todas as curas de ressaca que os ricos usam e dizem funcionar: desde Bloody Mary e “Limonata” San Pellegrino, latte de carvão ativado, até passar um dia num spa no País de Gales. A que mais deu certo foi uma genial: pagar uma ambulância para vir até você aplicar soro na veia. Com o Júlio, como tudo que fazemos juntos, daria muito prejuízo e, por isso mesmo, restar-nos-ia a diversão. Imagina que cena linda, os giroflex ligados, a gente deitado numa maca, cobertores prateados, aquele cabide de soro gotejando, eu fumando na ambulância, o Júlio intercalando soro com whisky… seria épico.

Aliás, fica aqui o convite para quem quiser financiar este projeto. A gente providencia as bebidas de boa qualidade, enche a cara com nosso mecenas, e ele banca as curas (spas, ambulâncias, sucos verdes e águas com gás superfaturadas, etc). Se quiser eternizar, eu ainda providencio a equipe para captar em vídeo. Grato.

Existem fórmulas mais baratas, claro, de pagar o resgate da dignidade. Muita água (antes, durante e depois) é sempre fundamental; soro caseiro é ruim para burro, mas dá uma força; sexo rápido e banho longo; banana e maçã; Tecta 40mg pro estômago; gatorade; dipirona 1G ou dois Cafilisador 500mg; bater o dedinho na quina, de propósito… tirando Engov, tudo ajuda.

Ocorre que, em dezembro passado, eu descobri um negócio meio milagroso. Outro amigo, o Marcel Miwa, postou algo sobre uma substância hepatoprotetora que o cachorro dele usava: Silimarina. Até aí, eu ainda estava com aquela cara de “não me venha com essas coisas de farmácia de manipulação pois não tenho nem roupa para isso”. Mas quando ele disse o nome comercial do remédio (que não é para cachorro), tocou um sino na cabeça, era o mesmo nome do remédio que meu primo Lema (que bebe como eu) tinha recomendado um mês antes, como valente soldado contra a ressaca. Então, damas e cavalheiros, anotem este nome: FORFIG 200MG, uma pílula alaranjada que, para a inveja da azulzinha, levanta um macho inteiro.Uma médica alertou minha amiga Fernanda de que é enganação. Eu truco. Meus vinte e poucos anos de pinga nas costas devem ter me trazido algum conhecimento. Até hoje, absolutamente nada que eu tomei conseguiu ser tão eficaz contra a ressaca. A minha, que já não é tão violenta, com Forfig meio que zera. O segredo é tomar antes – ou seja, não é cura, é tratamento precoce. Sabe que vai beber até enrugar? Bota o Forfig para jogo. Não tem certeza, mas acha que pode terminar a noite apagando o cigarro na farofa? Forfig também. Não tem contraindicações, é fitoterápico e não precisa de receita. Tem em toda farmácia.

A caixa com 60 cápsulas deveria durar uma eternidade, sendo que tomo umas duas vezes por semana, mas o negócio é tão revolucionário, que eu não consigo ir beber na casa de alguém sem levar uma cartela de presente. Até hoje, praticamente todo mundo que eu presenteei me ligou ou mandou mensagem no dia seguinte, contando sua experiência de Lázaro. Se a médica estiver certa, é a balela mais unânime que eu conheço, em termos de eficácia. Vai por mim, funciona e não é pouco.

No final do ano, quando vierem os insuportáveis amigos secretos da firma, da família, da igreja, do grupo de zap, aqueles que só deixam gastar até R$20 – que hoje devem comprar uns três Derby avulsos -, eu vou adquirir uma caixa de Forfig (entre R$80 e R$120) e dar uma cartela com 10 unidades para cada bem aventurado que eu sortear. Faça o mesmo. Nunca na história haverá presente mais bem pensado e valioso do que este. Aguarde os agradecimentos. De nada.

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*** A bula do Forfig afirma: “De acordo com as monografias de plantas medicinais da Organização Mundial da Saúde e da Comissão E, o extrato de Silybum marianum (L.) Gaertn (silimarina) está aprovado para o tratamento de vários distúrbios hepáticos, entre os quais cirrose hepática, hepatite alcoólica, hepatite secundária à exposição a substâncias tóxicas e hepatites virais agudas e crônicas 1-4.”

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