A Arte do Rabo de Galo. Esse é o nome do livro escrito por Luiz Lobo e Leopoldo Adour de Câmara, em 1966, pela Editora Civilização Brasileira.

Passei o fim de semana com o livro embaixo do braço, lendo de cabo à rabo, entendendo esse breve discurso em torno de copos e garrafas, como os próprios autores intitulam a obra.

Certamente, não se encontra mais esse livro nas livrarias comuns, possívelmente se encontrará em algum sebo. A linguagem já assusta, onde os comêços, sôbre e sêdes não são erros de acentuação, mas apenas a maneira que se escrevia meio século atrás.

Lá, encontra-se também belas passagens sobre os costumes de preparar bebidas de antigamente, como quando é rabo de galodito:

”  – O coquetel civilizado é um aperitivo, mistura ou combinação com objetivos bem determinador. A saber:

1º. Estimular o apetite

2º. Aguçar o espírito

3º. Alegrar a vista

4º. Abrir o olfato

A primeira exigência elimina automaticamente o superadocicado, o supercremoso, o que nós podemos chamar de bombons de licor, inconsumíveis e impróprios antes do jantar. “

E por aí vai. Mais à frente, os autores descrevem como o gelo deve ser utilizado nas receitas, e pasmem….segue o parágrafo abaixo:

” …- Ainda à propósito de gêlo devemos acrescentar que não é indiferente usar cubos de gêlo, bolotinhas, gêlo picado ou gêlo moído. Cada um tem sua hora e sua vêz. Acrescentemos que o calor absorvido pelo gêlo e a conseqüente mistura do gêlo com o líquido estão em proporção direta com a superfície do gêlo exposta ao líquido. Conseqüência do teorema: quanto mais finas as partículas do gêlo, maior a àrea exposta e mais rápido o resfriamento do coquetel. Gêlo moído gela mais rápido do que mexer. É preciso, no entanto, não imaginar que gelar mais rápido signifique gelar mais. “

1966 meu povo….66. Ainda hoje falamos do gelo como se fosse uma grande novidade o que descobrimos, quando o que nos faltou foi a possibilidade de aprender com os que já haviam estudado o assunto.

Por fim, os autores confirmam em um capítulo exclusivamente voltado para as Considerações em tôrno da Ressaca o que muitos puritanos duvidavam…..sim, possuímos uma quantidade mínima de álcool no sangue, e já nascemos com ela, não foi adquirida nos últimos anos.

” – Senhoras e senhores, todos têm 0,003 por cento de álcool no sangue. Álcool vital e inofensivo como o que bebemos, se bebermos com moderação.

O Rabo de Galo (em São Paulo) ou o Traçado (no Rio de Janeiro) são tradicionalmente brasileiros e  levam na sua composição cachaça e vermouth tinto servido em copo tipo americano. Resgatando essa receita em uma nova proposta, criei para o cardápio do Doiz no Rio de Janeiro uma nova proposta para a receita batizada como Galaderraba, uma variação do Rabo de Galo, à base de cachaça em infusão de mate, vermouth tinto, abacaxi fresco e twist de limão, como a foto abaixo.

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