O Alkermes é um produto muito tradicional na Itália, usado principalmente na confeitaria, porém o sabor marcante deste licor pode trazer resultados interessantes na coquetelaria 

Você já ouviu falar em Alkermes? Se não, não precisa se preocupar. Este licor típico italiano de origem Fiorentina não é uma bebida que figura muito nos bares, ou que está na composição de receitas de drinques clássicos, entretanto o sabor aromático deste líquido escarlate pode trazer possibilidades interessantes para novas criações.

O Alkermes é uma bebida que faz parte da tradição confeiteira da Itália e está presente em praticamente todas as cozinhas das famílias italianas. Este licor é muito usado para fazer a receita da Zuppa Inglese, da todo ao lado, uma tradicional sobremesa de creme e biscoito champanhe que lembra o nosso pavê. 

De acordo com empresário Renato Chiappetta, fundador da marca San Basile e descendente de italianos, o Alkermes é amplamente utilizado nas sobremesas e sempre dá um toque especial nos doces, como o tiramisú, a torta mimosa e variações do panetone. 

“Tenho parentes italianos tanto por parte de pai e mãe e conheci o Alkermes em viagens que fiz para visitar as casas da minha família na Itália e também do mundo da gelateria italiana…o Alkermes é aquele tipo de licor que vai em tudo, sobrou um bolo de aniversário, no dia seguinte come ele com um pouquinho de Alkermes por cima e assim vai.” comenta Chiappetta. 

Este licor italiano é feito com infusão de álcool neutro com açúcar, canela, cravo, noz-moscada, baunilha, ervas, agentes aromatizantes e kermes – um pequeno inseto parasita, que após a secagem se extrai o corante natural carmesim, o que traz para a bebida a coloração vermelho vibrante. 

O Alkermes ficou muito popular na Itália de norte a sul durante o período do Renascimento (1.300 – 1.600) e dizem que se tornou popular na França durante o reinado de Maria de Médici, que tinha origem da monarquia de Toscana, e também ficou conhecido como o ‘liquore de Médici’.

A bebida  foi considerada pelo Papa Clement VII como o ‘elixir da vida longa’ e na medicina pré-moderna foi usado para tratamentos do coração, como palpitações ou síncope, e às vezes para a cura da varíola e sarampo. De acordo com Renato, na região da Sicília também tem uma tradição muito antiga que envolve o Alkermes. O empresário conta que quando as crianças sicilianas levam um susto, têm pesadelo ou caem e se machucam, é muito comum os pais darem uma colher de sopa do licor para ‘curar’ o espanto. “Isso virou um hábito, é uma coisa maluca lá”, comenta aos risos. 

Uma das marcas mais tradicionais feitas até hoje é da produção de Santa Maria Novella Pharmacy, na Florença, que segue a mesma receita criada por volta de 1.700 que é uma combinação de espirituosos, várias pimentas, água de rosas e o kermes. 

Além da Santa Maria Novella, no mercado existem algumas marcas de Alkermes, como o da tradicional marca Luxardo (mais reconhecida pelo marasquino),  Heirloom Brand, Prestige entre outras, em que só é possível ter acesso em viagens ou empórios especializados. 

Inspirado pela memória das sobremesas da Itália e também pela tradição de importação de licores que acompanham a família Chiappetta, Renato resolveu trazer esse sabor para a produção da San Basile, que conta com 16 produtos no mercado, incluindo o Alkermes. 

“O sabor do Alkermes tem um perfil aromático particular e específico que não é muito conhecido no Brasil, isso pode trazer novas ideias e sabores para os profissionais testarem na coquetelaria, por trazer essas notas diferentes para o coquetel”, conclui Renato. 

O licor, que é apelidado de sangue italiano, é indicado para dar o toque final nos coquetéis e combina com receitas que tenham um caráter mais ‘apimentado’ e termogênico, se aliando bem a coisas que tenham gengibre, canela e os amaros. 

O bartender Gustavo Guedes, proprietário da Southside de Brasília, usa o Alkermes na composição do drinque Shelby Club, que leva gin, redução de vinho branco com mirtilo, suco de limão, manjericão e clara de ovo para emulsificação. 

De acordo com o bartender, a escolha do Alkermes para a receita foi pelo produto ser uma boa ferramenta para dar um ‘kick’ nos coquetéis, por ter uma sabor quente e um lado cítrico mais sutil, o que traz uma complexidade de sabores. 

“O alkermes é um licor vermelho brilhante que já traz impacto no primeiro gole! Apesar do sabor peculiar, é um licor que combina tanto drinks amargos quanto sours, só precisamos segurar a mão pois ele tende a se sobressair sobre os outros ingredientes”, comenta Guedes. 

aprenda a receita

Shelby Club

45 ml Tanqueray n. Ten
15 ml Alkermes San Basile
15 ml redução de vinho branco com mirtilo
15 ml de sumo de limão
10 ml de clara de ovo
4 folhas de manjericão

Em uma coqueteleira com cubos de gelo coloque todos os ingredientes e bata bem. Coe o líquido para uma minitin, despeje o gelo e bata novamente, em dry shake, para criar melhor emulsificação. Sirva em uma taça coupé previamente gelada e decore com mirtilo, manjericão e um twist de limão siciliano. 

Já Caio Bologna, embaixador da San Basile, indica o Alkermes para receitas de highballs, spritz e drinks de linhas gaseificadas e refrescantes, já que o licor italiano ressalta a picância, e também para coquetéis mais “ parrudos”, com base de whisky.

“É um licor muito versátil, ele tem floral no nariz e no paladar ele é picante e doce…ele combina com os coquetéis refrescantes e também, por exemplo, uma receita com whisky e amaro, ou uma boa cachaça envelhecida e amaro”, relata o embaixador da marca.

O coquetel Rubelita, criado por Caio, tem essa característica de coquetel forte, em que a receita combina cachaça envelhecida, Alkermes e amaro. “É um drinque baixo, potente e picante”, relata. 

Para saber mais sobre os novos produtos da Destilaria San Basile clique aqui. 

*POR GIULIA CIRILO PARA O MIXOLOGY NEWS

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