A junção de cachaça com diversos líquidos tem formado misturas cada vez mais deliciosas e harmoniosas.

Recentemente tive algumas experiências que me fizeram pensar um pouco sobre a questão da harmonização da cachaça e perceber o quanto as pessoas estão viajando nessa questão. O ponto central na harmonização é fazer com que a “comida” estabeleça um equilíbrio com a “bebida” e que cada um ressalte as qualidades do outro, somando.

Aí pensei: “Opa! Porque só comida e bebida? Porque não bebida e bebida, ou comida e comida?” – Essa é a pergunta. O que vocês acham?

No caso da bebida e bebida, fiz com o especialista em cafés, Ensei Neto, duas palestras/workshops que tratavam de Cachaça + Café, uma combinação que na visão de muitas pessoas era no mínimo inusitada porém mostrou-se uma combinação das mais felizes. E feliz ficamos nós em descobrir e poder compartilhar mais esta experiência. cachaça

Nosso ponto de partida foi constatar em inúmeros bate-papos regados a café e/ou cachaça que os dois líquidos têm muita coisa em comum, falando histórica e geograficamente.

As histórias dos dois produtos se cruzam em diversos locais e em épocas diferentes, mas caminham sempre juntas. Começamos nossa experiência no 7º Paladar Cozinha do Brasil, onde selecionamos 3 cafés e 3 cachaças partindo de um conceito geográfico, cachaça de tal local com café da mesma região, até para podermos constatar a influencia do território nos dois produtos e na combinação final.

Depois levamos a experiência um passo adiante, no Festival Gastronômico de Pirenópolis, onde tivemos 4 cachaças e 4 cafés, selecionados de uma maneira mais livre, selecionando 4 cafés produzidos na região do Serrado e 4 cachaças, sendo duas da região do Cerrado, uma da Serra do Itatiaia no RJ e outra da região da Alta Mogiana, da cidade de Mococa em SP.

As combinações não poderiam ser mais felizes com cada uma das bebidas servindo de escada para a outra, ressaltando e suavizando características em uma combinação que poucas vezes pude experimentar. Posso destacar um dos casos, para darmos nome aos bois. Foi a combinação da cachaça Signature Merlet, produzida pela Maison Leblon em Patos de Minas e do café do Chapadão de Ferro, no Cerrado Mineiro, produzido em solo de origem vulcânica e bastante encorpado.A cachaça é envelhecida em tonéis de carvalho francês novos da região de Limousin, o que confere a bebida sabores bastante complexos com várias camadas onde temos notas de mel, caramelo e pinhão. O café com um aroma floral delicado com fundo de rosas e caramelo, com uma característica mineral bastante acentuada em combinação com notas cítricas, estabeleceu um equilíbrio perfeito com a cachaça, onde os sabores se misturaram fazendo uma explosão aromática dentro da boca. Realmente fascinante.E foi isso que me levou a uma nova fronteira, a da harmonização de líquidos.

Ou Diálogos Líquidos, como sabiamente o Ensei batizou as experiências. E as possibilidades são muitas: cachaça e cerveja, cachaça e chás – estas duas já em andamento, cachaças e sucos. E, por que não, cachaças e águas? Em vários locais do mundo é comum o hábito de combinar a cerveja com o destilado local, e com a ascensão das cervejas artesanais, ou gourmet – como virou moda falar, essa ideia foi ganhando corpo em minha cabeça.

E com as ideias fervilhando, agora quero combinar a cachaça com o que aparecer pela frente e ver no que dá. Alguém me acompanha?

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