Um dia desses a gente toma uma coisinha.
Um dia desses a gente combina.
São 365 dia desses.
Desses repetidos, aleatórios e infinitos.
Dias em que o planeta gira e a gente vai se adiando.
Um dia desses que se vive atarefado,
que já se acorda atrasado
e mal dá pra respirar.
Um dia desses a gente toma uma coisinha.
São 365 dias desses
que a gente corre atrás do que não vê.
Um dia desses pra inventar fantasmas, desculpas esfarrapadas
e se preservar (pra quê?).
Dia desses com tantos compromissos, outros tantos pra ser omisso
ou simplesmente esquecer.
Um dia desses pra passar em branco,
pra sair andando e não olhar pra trás.
Um dia desses pra pagar umas contas,
pra fumar umas pontas e consertar os dentes.
Um dia desses pra inventar parentes e levantar paredes que não se derrubam mais.
Um dia desses pra estancar no sofá.
Um dia desses a gente toma uma coisinha.
Um dia desses a gente combina.
São 365 dias desses
em que a gente vai tocando o barco,
tomando café amargo
e esperando a nossa vez.
Um dia desses
que a gente entra na fila,
vai de ônibus, vai de uber
e espera o cachorro mijar.
São 365 dias desses
em que se finge de poste
e não consegue sair do lugar.
São 365 dias desses
Em que qualquer amor emergente
Desaprende a nadar.
Um dia desses a gente toma uma coisinha.
Um dia desses a gente combina.
São 365 dias desses
querendo ver um eclipse, esperando o apocalipse
e o dia de se aposentar.
São 365 desses de barba crescendo, de cabelo embranquecendo
e barriga pra empurrar.
De tanto esperar 365 dias desses,
um dia há de vingar.
Um dia desses um carro na contramão,
uma bigorna, uma infecção podem nos tirar
os 365 desses que eu ainda tenho pra te enrolar.
Um dia desses a gente toma uma coisinha.
Um dia a gente combina.
É só escolher o bar.
São 365 dias desses pra se sentir sozinho,
pra se sentir sozinho, pra se sentir sozinho…
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