Coisas que deveriam ser pra sempre: mãe, pet e bar. Vamos nos concentrar no terceiro item, naquilo que nos cabe defender nesse nobre espaço. Ou seja, o bar.
Bares que duram menos do que um inseto; bares que duram menos do que uma efeméride; bares que duram menos do que uma jura de amor depois das 2h da manhã; bares que duram menos do que a alegria de um goleiro antes do pênalti; bares que duram menos do que uma missão de paz na Síria; bares que duram menos do que o orgasmo de um notário; bares assim, meu Deus, me deixam tão down.
Um bar deve viver um ciclo inteiro, deve ser o lugar pra você tomar um primeiro drinque com o seu filho – no mesmo balcão que um dia você também bebeu com o seu pai. Um bar deve ser o lugar que te recebeu cabeludo, cheio daqueles planos mirabolantes, namoradas lindas e dinheiro no bolso – mas também deve ser o lugar pra você chegar careca, com aqueles estilhaços de sonho esfarelando no bolso da calça jeans, desacompanhado e sem onde cair morto.Um bar deve ser aquele lugar que você conhece o barman pelo nome, o lugar que você já ajudou a limpar os copos ou o lugar que você já comeu escondido na cozinha. Um bar deve ser o seu segundo endereço, o lugar que você vai pra desaparecer, o lugar que você vai pra ser encontrado, o seu abrigo antinuclear.
Um bar deve ser uma certeza, um monumento, um fator constante no caos aleatório do tempo. Um bar deve ser a casa do seu Daiquiri inaugural ou daquele derradeiro Last Word. Você deve ter o direito de envelhecer no mesmo bar que um dia te viu nascer. Você deve ter o direito de maturar naturalmente no fundo do bar.
Mas hoje em dia, triste sina, bares se atropelam, se atiram no abismo do esquecimento e quase não atingem 365 dias. E, se passam de um ano, penam para ultrapassar o segundo. E, quando superam essa marca, já são pequenos milagres encravados no meio do deserto etílico. Miragens.
Pior quando o bar vai se transformando, mutante manco que servia coquetéis caprichados; mas passou a oferecer energéticos com vodca; depois cerveja de garrafa em copo americano; e ainda transfigurou-se em point sertanejo; mais tarde em boca de fumo; e hoje, fim de jogo, um sujeito empunhando um violão canta “Açai, avião, zum de besouro um ímã, branca é a tez da manhã…”Um bar não pode ser um escravo da moda; não pode estar up-to-date com a última grande novidade; e, definitivamente, não pode ser aquele lugar em que os futuros invisíveis da cidade estão indo para serem notados. Ver e ser visto, bela merda. bar eterno
Um bar deve resistir como um soldado que foi ludibriado por uma promessa de um mundo melhor. Um bar deve ser o último a tombar na areia cínica da Normandia. Um bar deve se sustentar pela solidez da sua trajetória. bar
Um bar deve ter um compromisso. Um bar deve ter caráter. Um bar deve ser o nosso torrão natal. Um bar deve ser o nosso trenó. Um bar deve ser o nosso presépio. Um bar deve ser pra sempre. bar eterno
(…)e só fechar depois da gente. bar eterno
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