As borbulhas de um coquetel são importantíssimas e muito fáceis de se perder. Aprenda aqui como usá-las.
Quando eu sento em um bar para beber um coquetel e vejo o bartender preparando minha bebida com uma habilidade e carinho singular, não tenho como negar que o sabor do drinque parece estar ainda melhor que normalmente.
Quando o profissional prepara a bebida com maestria e elegância, registramos em nossa mente que aquilo que vamos beber está ainda mais gostoso.
Algumas vezes, acontece uma certa “mágica psicológica” relacionada ao carinho no preparo porém, na maioria das ocasiões, uma boa técnica do profissional realmente faz toda a diferença.
Não faz muito tempo, o Mixology News publicou uma matéria muito interessante que falava sobre Técnicas indianas de throwing e roll. A principal informação daquele post é que cada técnica deve ser usada por um motivo. Assim, precisamos sempre dominar exatamente o porquê de utilizarmos cada particularidade do preparo.
Isso nos traz ao assunto deste post:
Como fazer um Gin&Tonic da maneira mais eficiente e deliciosa possível?
Na realidade, as dicas valem para qualquer drinque com um ingrediente gasoso.
Este drinque simples vem ganhando cada vez mais espaço nos bares por aqui no Brasil.
Com ele, vem ganhando popularidade uma maneira de preparo mal pensada, que resulta em um coquetel não tão bom quanto poderia ser. Estou falando da técnica de servir a tônica utilizando a haste da colher de bar para adicionar o mixer ao drink.Esta técnica de servir a tônica utilizando a colher, ganhou popularidade com o crescimento dos Gin&Tonics na Espanha, mas já pode ser vista em bares ao redor de todo o mundo.
Eu diria que os principais aspectos de um bom Gim & Tônica são a escolha do gim delicioso, uma tônica super gelada de qualidade, limão cortado fresco (como sempre) e bastante gelo. Contando que você tenha acertado nestes quesitos, uma técnica de preparo mal aplicada ainda pode te deixar mais longe de um Gin & Tonic perfeito.
Um dos principais fatores que deixam este clássico tão refrescante e delicioso é a carbonatação da água tônica. Porém, servir rolando o refrigerante pelo espiral da colher de bar, você força a perda do gás, piorando a qualidade do seu G&T. Nesta maneira de preparo, o gás é perdido por dois motivos principais: agitação (turbulência) e pontos de nucleação na colher.
Quando se está preparando um coquetel, cada borbulha de gás que você vê, é uma borbulha de gás que o drinque perdeu.
Agitação (turbulência)– Você agita a Coca Cola antes de fazer uma Cuba Libre
– Claro que não! O refri perderia todo o gás!
– Então porque agitaria a água tônica de um G&T?
Ao passar pelos espirais da colher de bar, a tônica está em uma turbulência.
Ela é agitada vigorosamente, o que faz com que parte do gás se desprenda e deixe de estar “dissolvido” no líquido. Quando o gás sai de solução, ele não está mais no seu drink, e isso é mal… muito mal…
Agora o papo fica mais nerd….
Quando se tem uma bebida gasosa, o gás fica em solução até que seja perturbado, como falamos no caso da agitação, porém se ele tem um pequeno ponto onde se agarrar, ele vai se acumulando e formando pequenas bolhas juntas a este ponto. Quando as bolhas ficam grandes demais e menos densas que o liquido, flutuam para a superfície e a bebida perde seu gás.
Qualquer imperfeição invisível, aresta, sujeira ou partícula no liquido, acidental servem como ponto de nucleação e resultam em perda de gás.
Isso vale para a taça, colher, ingredientes sólidos e até mesmo para o dosador. Nos ingredientes como guarnições, esta perda pode ser inevitável, nos equipamentos de bar ela pode ser prevenida mudando-se a técnica de serviço.
Estes pontos são tão importantes que fabricantes de ótimas taças de espumante colocam com precisão (e uma broca) os pontos de nucleação no fundo das taças para formar uma linha continua de bolhas no meio do liquido, assim a bebida parece mais atrativa.
Quanto mais perfeita a taça, menos borbulhas você verá na lateral do vidro e mais buracos o preço delas vai fazer na sua carteira, mas voltemos ao Gin & Tonic.
Uma colher de bar, com seu perfil em retorcido está repleta de pontos de nucleação, onde as bolhas podem começar a se formar. Mesmo com a colher parada dentro do copo, já se começa a perder o gás da bebida, imagine quando se agita a liquido através dos espirais?!
A imagem acima mostra exatamente o momento em que há formação de bolhas nos pontos de nucleação da colher.
Além dos dois pontos principais deste post (nucleação e agitação) você ainda está despejando a tônica em um metal muito condutivo que está “à temperatura ambiente”, o que ainda piora as coisas um pouco. Por agora, diremos que quanto mais fria sua tônica estiver, melhor será o resultado do drinque, mas isso é assunto par um próximo post…
Já é hora de cuidarmos dos nossos mixers com o mesmo carinho que nos preocupamos com os outros ingredientes de nossos coquetéis. Afinal de contas, como no caso do Gim & Tônica, os mixers muitas vezes compõem a maior parte do volume do drinque.
À medida que vamos nos especializando mais e mais, surge uma constante necessidade de questionarmos o porquê de cada técnica durante nossa busca pela excelência. Existem técnicas teatrais e lindas, mas que resultam em um drinque tecnicamente menos perfeito. Inevitavelmente a técnica mais simples, pode também ser a mais eficiente.
E para você, o que vale mais, um belo ritual de preparo ou um drink mais refrescante e mais bem executado? Aguardamos seus comentários abaixo.
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