Aprenda a prepara o Josefel Zanatas, drinque em homenagem ao Zé do Caixão

O cineasta José Mojica Marins, conhecido internacionalmente como Zé do Caixão, criador de mais de 40 produções e ator em mais de 50 filmes, morreu aos 83 anos, vítima de uma broncopneumonia, nesta quarta-feira (19).  O cineasta estava internado desde o dia 28 de janeiro para tratar de complicações de infecções pulmonares.

Desde 2014,quando sofreu um enfarte, Mojica teve problemas de saúde crescentes e vivia uma vida reclusa, em decorrência da velhice. Nascido numa sexta feira, 13 de março de 1936, Mojica sempre foi um apaixonado pelo cinema e aprendeu o ofício de forma autodidata. Sua criação mais importante foi sem dúvida  Zé do Caixão, o primeiro personagem de terror do cinema brasileiro.

Jose Mojica era um grande frequentador do histórico bar Riviera, localizado entre as ruas Consolação e Avenida Paulista.  Na década de 1970, período da Ditadura Militar, viu o bar se esvaziar por conta das constantes batidas policiais e de prováveis espiões a serviço do Estado.  Época de “tenebrosas transações”, o bar perdeu muitos dos seus clientes famosos e ocultos, seja por conta do exílio ou diretamente para os porões da ditadura.

É nesse cenário que surge Josefel Zanatás, o drinque.

O drinque nasce em homenagem  ao “Zé do Caixão” – coveiro mais famoso do Brasil que carregava na sua certidão de nascimento o nome de Josefel Zanatas, ou então Joséfel Satanás (a parte mais amarga do José).

Esta receita, criada por Marco De la Roche em 2018 – à época chefe de bar –  leva gotas de solução marinha – ou as lágrimas dos que atravessaram os mares – brinca com os demônios dentro de nós e só deve ser bebida por aqueles que estão preparados para ter sua alma levada à meia noite.

É o período mais amargo da história do Riviera assim como a década nebulosa e cheia de fel do último século brasileiro.

A filosofia do Zé do Caixão

Quem sou eu?

“Quem sou eu, não interessa, como também não interessa quem é você, ou melhor, não interessa quem somos. Na realidade o que me importa é saber o que somos. Não se dê ao trabalho de pensar porque a conclusão seria: a loucura. O final de tudo, para o início o nada.

A coragem inicia onde o medo termina. O medo inicia onde a coragem termina. Mas será que existem a coragem e o medo? Coragem do quê? Medo do quê? De tudo? O que é tudo? Do nada? O que é o nada?

A existência, o que é a existência? A morte? O que é a morte? não seria a morte o início da vida? Ou seria a vida o inicio da morte?

Você não viu nada e quer ver tudo. Você viu tudo, mas não viu nada. Teme o que desconhece e enfrenta o que conhece. Por que teme o que conhece e enfrenta o que desconhece? Sua mente confusa não sabe o que procura. Porque o que procura confunde a sua mente.

E nasce o terror. O terror da morte. O terror da dor. O terror do fantasma. O terror do outro mundo. Agora vê no terror que nada é terror, não existe o terror. No entanto o terror o aprisiona. O que é o terror. Ah! Não aceita o terror porque o terror é você.” Zé do Caixão

aprenda a receita

Josefel Zanatas

25 ml de Wild Turkey bourbon
25 ml de tequila prata
25 ml de vermouth Carpano Classico
10 ml de Fernet Branca
10 ml de Cynar
3 dashes de Angostura bitter
3 gotas de solução de sal 15:100

Em um mixing glass com cubos de gelo, coloque todos os ingredientes e mexa bem até gelar. Passe para uma taça coupé (ou martini) previamente gelada. Finalize com uma azeitona gordal espetada num palito.

Um coquetel extremamente complexo, amargo, herbal e levemente defumado. Possui uma harmonização não comum que é a azeitona em um drinque amargo. Remete à década mais amarga da história do Riviera Bar, à censura e aos porões da ditadura.

Sua decoração remete à duas técnicas de tortura típicas da ditadura; a prática de espetar a carne dos dedos embaixo da unha com uma agulha e ao método de tortura psicológica, deixando o preso de ponta cabeça e tocando-lhe a cabeça em um balde de água, como um aviso e afogamento.

O Velório

O velório do ator, diretor e roteirista José Mojica Marins, conhecido pelo personagem Zé do Caixão, será realizado nesta quinta-feira (20) no Museu da Imagem e do Som. A cerimônia será aberta ao público. O corpo será sepultado no Cemitério São Paulo, às 12h desta sexta-feira (21). Que ele possa descansar em paz.

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