Grupo Vila Anália já vinha sinalizando que a coquetelaria ocuparia um novo protagonismo dentro do complexo. Faltava apenas o capítulo inaugural — e ele chegou.
Atlas I, a nova carta de drinques criada pelo mixologista Rafael Welbert (ex-Balaio e Mocotó), não é apenas um lançamento: é uma mudança de rota que aproxima o Vila Anália das casas que tratam o bar como coração do negócio, e não como coadjuvante. É um movimento que redesenha a experiência líquida do grupo e cria um fio condutor entre as cinco cozinhas que dividem o mesmo endereço.
A nova carta chega como manifesto — um trabalho que busca traduzir culturas, histórias e cozinhas distintas em uma jornada sensorial coesa, com começo, meio e desdobramentos possíveis para quem estiver disposto a explorar cada parada.
O nome não é escolha aleatória. Como a figura mitológica que sustenta o mundo sobre os ombros, Atlas I carrega suas próprias geografias: sabores, culturas e símbolos traduzidos em taças, copos artesanais e ingredientes que vão do ancestral ao contemporâneo. A proposta é clara — fazer o público viajar entre países, técnicas e sentimentos sem sair da mesa.
Uma carta construída como narrativa — e não como lista
Por trás de Atlas I existe uma lógica que combina estética, afeto e pesquisa. A carta apresenta dez drinques alcoólicos (cinco autorais e cinco revisitados) e três opções sem álcool, todos inspirados nos restaurantes do complexo: Arais do Carlinhos, Fish-Wan, Merci Brasserie, MII Rooftop e Temperani Cucina.
Cada receita recebe o nome de um bairro paulistano que simboliza a cultura de origem daquele restaurante. A homenagem é dupla: ao país que inspirou a criação e à cidade que recebe essa diversidade.
Além do conteúdo, o design também conta história. Copos exclusivos foram desenvolvidos para a carta — como o modelo de cerâmica inspirado na textura da parede do MII Rooftop — reforçando a intenção do Vila Anália de transformar a coquetelaria numa experiência visual e tátil, além de gustativa.
E há ainda um detalhe que transforma a carta em jogo: um mini passaporte acompanha a jornada. A cada drinque pedido, o cliente ganha um carimbo. No décimo primeiro, a casa oferece a bebida como cortesia.
Aqui está o coração da carta. São cinco drinques que traduzem o DNA dos restaurantes do grupo, cada um com construção sensorial clara, personalidade própria e combinações pouco óbvias.
Mooca — o italiano que conversa com o Brasil (R$ 55)
Representante do Temperani Cucina, o Mooca é luminoso. Leva Chardonnay, grappa e licores artesanais brasileiros, criando um perfil frutado, fresco e elegante. A acidez do vinho abraça as notas doces dos licores, enquanto a grappa fornece estrutura e profundidade. É um coquetel que faria sentido tanto como aperitivo quanto como companheiro de pratos leves.
Arouche — o francês em estado líquido (R$ 55)
Criado para o Merci Brasserie, o Arouche é pura sofisticação. A combinação de pera e priprioca cria uma base aromática leve, terrosa e floral. A finalização — caviar de absinto e de cassis — é um golpe de ousadia que traz textura e camadas amargas, doces e anisadas. Um drink de alta fotografia e de sabor surpreendentemente equilibrado.
Liberdade — o ancestral reencontra o contemporâneo (R$ 55)
Inspirado no Fish-Wan, o Liberdade é o drinque mais narrativo da carta. Une cauim, a bebida ancestral indígena, ao shochu, destilado japonês leve e aromático. As notas de sunomono, cambuci e capim-santo costuram acidez, herbalidade e frescor cítrico. É um drinque que provoca familiaridade e estranhamento ao mesmo tempo — no melhor sentido.
Bom Retiro — Mediterrâneo e Cerrado no mesmo copo (R$ 55)
O símbolo do MII Rooftop é, talvez, o autoral mais sensorial da lista. Pequi, cacau, abacaxi e limão siciliano formam um diálogo improvável que mistura o perfume denso do pequi com a acidez brilhante dos frutos cítricos. O cacau dá profundidade e textura aromática. Um drinque que parece sobremesa e aperitivo ao mesmo tempo — e que muda gole a gole.
Armênia — delicadeza com precisão (R$ 55)
Homenagem ao Arais do Carlinhos, o Armênia combina gin, romã, água de rosas e goiaba, resultando em um coquetel frutado, perfumado e refrescante. A romã traz acidez suave; a água de rosas, um toque floral elegante; e a goiaba fecha a experiência com dulçor tropical. É o coquetel mais “gentil” da carta — daqueles que agradam iniciantes e ainda assim intrigam paladares experientes.
O mixologista Rafael Welbert não tenta reinventar a roda: ele a reposiciona. Nos clássicos revisitados, ele conversa com a memória do público, mas provoca estranhamentos calculados.
Negroni e Julieta (R$ 60)
Parmesão e goiaba encontram o clássico italiano. O queijo adiciona salinidade e untuosidade; a goiaba traz perfume e doçura. Uma releitura que funciona porque não tenta copiar — assume outra intenção.
Mototáxi (R$ 55)
Inspirado no Sidecar, combina brandy, cachaça, croissant e compota de caju. É irreverente, aromático e quente. O croissant tostado adiciona notas amanteigadas e o caju fecha a acidez. Um drinque que dá vontade de repetir.
Ararat Collins (R$ 55)
Fresco, leve, construído sobre frutas vermelhas e iogurte. A textura cremosa encontra a gaseificação do Collins tradicional, criando um drinque híbrido entre coquetel e soda cremosa.
Noronha (R$ 55)
Elegante, herbal, equilibrado. Bacuri e sakê formam uma dupla improvável, mas extremamente harmônica. Para quem busca frescor sem abrir mão de profundidade.
Martini Grego (R$ 55)
O mais direto e técnico dos revisitados. Trabalha intensidade herbal e perfil seco, evocando ingredientes mediterrâneos. É para quem gosta de martinis que falam alto.
Seguindo a nova procura dos consumidores em bares de coquetelaria, os drinks sem álcool segue pensamento técnico, equilíbrio ácido–doce e estética própria.
América do Sul (R$ 35):
Cambuci, capim-santo, manjericão, limão Tahiti e água com gás — cítrico, verde e vibrante.
Ásia (R$ 35):
Maracujá, shissô e gengibre — um equilíbrio entre fruta tropical, herbalidade japonesa e picância fresca.
Europa (R$ 35):
Morango, goiaba, vinagre balsâmico e hortelã — acidez gastronômica com perfume frutado.
A nova fase do Vila Anália
Atlas I marca um ponto de virada: o Vila Anália agora trata a coquetelaria como linguagem autoral, técnica e estratégica. É uma carta que não se apoia apenas em ingredientes, mas em propósito — e que deve reposicionar o complexo no radar de quem busca experiências completas entre gastronomia e bar.
Welbert entrega uma obra madura, sensorial e narrativa. O Vila Anália, por sua vez, abre caminho para que sua coquetelaria se torne destino — não apenas complemento. Se era necessário um gesto para afirmar essa nova etapa, ele está aqui. E está muito bem servido.
Sobre o Grupo Vila Anália:
Fundado há três anos, o Complexo Vila Anália reúne múltiplos conceitos gastronômicos em um só endereço, sempre promovendo inovação, qualidade e experiências memoráveis. O Grupo nasceu com a ambição de conectar vidas pela gastronomia, mantendo forte vínculo com a hospitalidade e o entretenimento.
Endereço: Rua Cândido Lacerda, 33 – Jardim Anália Franco
Telefone: (11) 2674-0843
Cartões de crédito e débito: Todos
Reservas: https://linktr.ee/grupovilaanalia
todas as fotos foram clicadas pelo fotógrafo Léo Feltran

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