São péssimos dias para tudo que parece russo no momento. Com a guerra declarada pela Rússia à Ucrânia, sanções de todos os tipos começam a surgir para conter o ímpeto do ex-agente da KGB e presidente Vladimir Putin na tentativa de controlar sua influência nas fronteiras.
“Em tempos de guerra, a primeira vítima é a verdade”.
A frase acima é atribuída ao dramaturgo grego Ésquilo e é um norte para entender o que tem sido dito (e feito) em relação ao boicote de, quem diria, o Moscow Mule. De acordo com o NewsWeek em “How Moscow Mule was really invented“;
Moscow Mule não é russo como muitos pensam.
A história original da receita data de 1941, adivinhem onde? Nova York, EUA.
De acordo com o The New York Times, o Moscow Mule foi inventado em 1941 no Chatham Hotel de Nova York.
John “Jack” Morgan, proprietário do Hollywood Cock’n Bull Restaurant e presidente da Cock’n Bull Products, fez uma cerveja de gengibre na qual os clientes não estavam interessados.
John Martin, presidente da Heublein, empresa estadunidense de bebidas havia comprado os direitos de produção e distribuição de Smirnoff no final da década de 1930 e não estava tendo sucesso em fazer com que os consumidores experimentassem sua vodca Smirnoff.
Vale ressaltar que desde 1934 Smirnoff já era produzida em Connecticut pelo empresário russo Rudolph Kunnet e então vendida para Jonh Martins anos depois.Ted “Dr. Cocktail” Haigh, em seu livro Vintage Spirits and Forgotten Cocktails, acrescenta outro fato relevante à história: Morgan aparentemente tinha uma namorada que era dona de uma empresa que fabricava produtos de cobre, então as canecas de cobre Moscow Mule eram relativamente fáceis de encontrar para ele.
Depois de algumas bebidas, os dois começaram a falar sobre sua incapacidade de vender seus produtos. Eles combinaram seus problemas e criaram sua própria bebida com seus respectivos produtos.
Martin, considerado um gênio do marketing da época, adquiriu uma câmera polaroid (modelo mais avançado) e começou a frequentar outros bares para ensinar a preparar o Moscow Mule.
Após mostrar o passo a passo, ele pedia para os bartenders segurarem uma garrafa da vodca Smirnoff e uma caneca com a imagem da mula contendo o drinque. Ele chegava em casa, revelava as fotos e então as utilizava para divulgar a bebida em outros bares, mostrando como ela estava fazendo sucesso na concorrência.
Independente da história, a primeira versão do Moscow Mule nasceu a partir de vodka, cerveja de gengibre e um toque de limão na charmosa caneca de cobre, que ajuda a manter a bebida gelada por mais tempo.
No Brasil, o “Drinque da Canequinha” e servido quase que pela sua maioria na versão com espuma, criação de Marcelo Serrano, que resolveu criar uma espuma de gengibre caseira pela dificuldade de se encontrar cerveja de gengibre no Brasil.
Vale lembrar que no Brasil, assim como em boa parte do mundo, a vodka consumida em maior volume não tem procedência russa, e sim nacional, estadunidense, francesa, sueca, polonesa e também russa. Portanto, é impossível atribuir à qualquer atividade, empresa, pessoa ou história russa a invenção e sucesso do Moscow Mule. Toda a história tem atores estadunidenses e não há nenhum motivo objetivo para se confundir a história de um clássico com uma triste e desnecessária guerra.
Precisamos amadurecer um pouco mais nesse ponto porque assim como Ésquilo citou em 500 a.C., em tempos de guerra, as verdades são as primeiras a morrer.
Moscow Mule
60 ml de vodka
180 ml ginger beer
10 ml de suco de limão
E uma caneca de cobre (ou até em um copo longo) com cubos de gelo, adicione a vodka e o limão e mexa levemente. Por fim, acrescente o refrigerante de gengibre, mexa novamente e sirva com uma rodela de limão.
Para conhecer a receita tipicamente brasileira e com espuma, clique aqui
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