Profissionais do bar relatam sobre como eles identificam a hora de parar de servir um cliente e o que fazem para contornar essa a situação constrangedora
Os bares e baladas são lugares que as pessoas escolhem para curtir e claro que beber está dentro do permitido. Já os atendentes que estão no balcão adoram servir da melhor maneira possível, mas como que fica na hora que tem que parar de vender bebida para o cliente?
Nos Estados Unidos a maioria dos estados adotaram uma lei que pode responsabilizar os bares sobre a embriaguez dos clientes que se chama “dram shop laws” (lei dos botequins) e lá é completamente normal que os bartenders se recusem a servir alguém que já passou dos níveis normais de álcool.
No Brasil atualmente existem alguns projetos de lei que tramitam sobre a obrigatoriedade dos bares avisarem os clientes sobre o risco da associação de álcool com a direção de veículos e campanhas estaduais que visam conscientizar o consumidor, porém nada que ampare os estabelecimentos nesse sentido.
Em uma panorama geral, a maioria dos bares, baladas e restaurantes têm políticas próprias sobre esse assunto e também há os bartenders que criaram o ‘jeitinho’ próprio de lidar com a situação de forma educada e com humor.
Tom Oliveira, proprietário da empresa de consultoria e treinamentos Gipsy Cocktails, garante que desenvolveu um jeito descontraído para alertar os clientes de que eles já passaram do ponto.
“Eu sempre tento ter uma empatia e não gerar desconforto…as pessoas sempre estão no bar por algum motivo, que pode ser desde a comemoração de uma promoção de trabalho até um término de relacionamento, então eu sempre procuro tentar conscientizar a pessoa de uma forma engraçada e que ela entenda”, relata Oliveira, que soma passagens por baladas e bares como Club Vegas, The Edge, Lions, Alberta #3, Tex e Home.
Outro bartender que também tem a atitude de tentar entender o que está acontecendo com o cliente é o chefe de bar do hotel Yoo2 Rio, Roger Bastos, que confessa que faz a vez de ‘psicólogo de balcão’. Bastos afirma que sempre oferece uma água e se a pessoa é relutante, ele chama para conversar.
“Uma vez um cliente chegou no balcão e começou a chorar, fui servindo ele e trocando ideia, daí o cara começou a contar toda a história dele, de que ele ia casar e descobriu que estava sendo traído…no fim da noite ele estava bem alegre e não queria pegar táxi para ir embora, daí eu perguntei onde ele morava e era perto do bar que eu trabalhava, no fim da noite eu e o segurança o levamos até a casa dele”, relembra Bastos.
De acordo com o chefe de bar, é mais fácil medir o nível de álcool dos clientes que estão no balcão, já daqueles que chegam e sentam em mesas mais distantes o controle fica um pouco mais difícil, porém ele sempre prioriza uma boa experiência e cessa o serviço se percebe que a pessoa está alterada.
“Nós trabalhamos com experiência e hoje o dinheiro fica em segundo plano, eu quero que o cara tenha a melhor experiência bebendo e no dia seguinte se lembre de que foi uma noite legal…lidamos com clientes diferentes e nunca sabemos ao certo o motivo de ele ter ido ao bar, que pode ser por inúmeros fatores”, conclui Bastos.
Inclusive a missão de identificar quando uma pessoa já passou do ponto às vezes começa quando o cliente chega ao bar. Algumas casas adotam a política de já barrar a entrada, porém existem clientes que são mais subjetivos e o controle pode falhar. É o caso do mixologista e sócio-administrador do Franklin Bar, de Santa Catarina, Diego Rita, que afirma que a identificação ocorre quando percebe o ponto fora da curva daquilo que é normal dentro da “normalidade” de bêbados e por muitas vezes o cliente já chega alterado.
De acordo com Rita, que adota a política de não servir mais bebida alcoólica, é difícil identificar a pessoa que já chega bêbada quando ela está em um grupo de amigos.
“É uma dinâmica diferente, um dia uma cliente chegou com os amigos e ela já estava alterada…meu garçom esperou até o momento de ela ir ao banheiro, chegou no grupo e perguntou: devemos continuar servindo ela?…a bêbada no caso achou que estava sendo tratada como criança, já os amigos aplaudiram a atitude”, relembra o mixologista, que afirma que a postura do bar é “tô cuidando de ti”, em que são oferecidos para os clientes drinques não alcoólicos, café ou petisco.
Diego Rita tem passagem por casas noturnas e relembra que nesses lugares geralmente a política é diferente, em que quanto mais o cliente consumir, melhor. “A balada segue a política da indústria, que é vender volume e também não é um lugar de apreciação…geralmente não tem nenhum tipo de controle”.
Agora como agir quando o cliente alterado não aceita o conselho e quer a todo custo mais uma bebida? Essa situação quem driblou com maestria foi a bartender Cris Machado, que atualmente trabalha no Satú Restaurante.
Cris relembra que na época em que trabalhava em um grande bar de São Paulo, que tinha uma proposta mais ‘baladinha’, havia sempre clientes bêbados que queriam a todo custo beber, porém a política da bartender sempre foi oferecer uma água – o que a maioria aceitava.
“Teve uma vez que o cliente queria porque queria beber mais uma gin tônica e ele tava muito bêbado, daí a solução que eu achei foi fazer um copo com limão e bastante tônica sem o gin… dei pra ele e falei que tava ótimo e ele, que já nem percebia mais o sabor de tão bêbado, saiu feliz”, relembra aos risos.O chefe de bar do Tulum Bar & Club, Raul Dias, também adota a política de sempre oferecer água e comida ao cliente que já está mais alcoolizado e quando a pessoa não aceita a advertência, o profissional tenta avisar o amigo, mas há na noite aqueles ‘amigos da onça’ também.
“Uma vez eu parei de servir um cliente e daí para me ‘burlar’, um amigo dele veio e me pediu um shot, que na verdade era para o bêbado, pior coisa…ele virou o shot e caiu em cima de uma menina que estava fazendo despedida de solteira”, relembra Dias sobre a história.
Apesar de não ter um embasamento legal sobre o que fazer com o cliente embriagado que está fora de controle, a maioria dos profissionais aconselha ser sempre gentil e tentar driblar a situação constrangedora com o oferecimento de de bebidas ou alimentos que podem ajudar a pessoa a melhorar o estado alcoólico. O que importa mesmo é ter o cuidado de ela não piorar e estragar a noite das outras pessoas presentes no bar.
“O cliente sóbrio vê isso com bons olhos, e a atitude que você toma também acaba selecionando o tipo de cliente que você quer”, conclui Diego Rita.
Nós, do Mixology News, não incentivamos em hipótese alguma o consumo excessivo e irresponsável de bebidas alcoólicas.
Beber menos e beber melhor, sempre.
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