Como viver o dilema de construir uma marca mantendo as raízes brasileiras e buscando novos consumidores com ações de alto impacto no tão misterioso mercado de cachaças? Pergunte à Leblon.
Se eu tivesse que nomear uma marca para defender os novos rumos do cachaça, sim, ela seria a Cachaça Leblon. Poucas empresas se colocam no desafio de produzir uma aguardente de alambique com alto padrão de qualidade e, ao mesmo tempo, dar a visibilidade global ao produto.
Nesse mercado vivemos num oito ou oitenta. Pequena produção e pequena visibilidade de um lado. Larga escala, preços baixos e um trabalho enorme do marketing para divulgá-la mundo afora.
Então vem a Leblon e diz: “E se eu pegar a pequena produção de alambique de um e o trabalho de marketing enorme do outro?” Talvez seja por esse o motivo que muitas pessoas ainda não compreendam a missão dessa cachaça, que tem o passaporte recheado, mas é mineira de coração.
UMA VISITA AO CORAÇÃO DA LEBLON
No último mês de setembro, pela primeira vez, a Maison Leblon localizado em Patos de Minas, noroeste de Minas Gerais, foi aberta para que mais de trinta bartenders do Rio de Janeiro e São Paulo conhecessem o local onde é produzido 100% da sua aguardente e um pouco mais da sua história.
Um encontro mais do que divertido, culturamente enriquecedor, e uma oportunidade de rever e conhecer novos colegas de trabalho. E assim, despretensiosamente, as pessoas da marca foram ganhando a confiança das pessoas dos bares. Sim, na verdade, nesse mercado o que valem são as pessoas, não o talão de pedidos.
O que poucos sabem é que a destilaria Maison Leblon fica aberta à visitação de curiosos e amantes da cachaça. Agende seu dia e horário e não perca essa visita. Tenha sorte de encontrar figuras interessantíssimas como Carlos Eduardo Oliveira, braço direito do master distiller Gilles Merlet, ou então o especialista em destilação, Tião, esse simpático rapaz ao lado.
Pedi para alguns companheiros dessa viagem contar o que eles viram e sentiram em Minas e quero dividir com vocês.
Para o bartender Luis Cláudio Simões, o conhecido Claudinho, esse tipo de reconhecimento do valor da cachaça faz com que ele sinta que cada vez mais ela é um produto nobre, e isso tem feito com que o brasileiro diminua o preconceito que já existiu sobre o produto, aprendendo como usá-la melhor.
O cachacier Maurício Maia se impressionou com a transparência com que as informações de processo produtivo eram passadas. Para ele, quem não deve não teme, e assim fez a Leblon. Com uma produção exemplar, impressiona que seja totalmente artesanal. Não teve pergunta sem resposta e, para um cachacier, isso é muito importante.
A beer sommelier Carolina Oda também esteve conosco e contou que bem no momento em que ela começou a se interessar e estudar cachaças, recebeu o convite e pôde aprender junto com os colegas de trabalho que infelizmente não consegue encontrar com frequência. Também não deixou de comentar o café da manhã tipicamente mineiro que tivemos, com direito à broa de milho, queijinho da vizinha, doce de leite e pão de queijo quentinho.
Luis Cláudio Fernandes, consultor de marcas, notou que, tirando o estilo e padrão comum às cachaças de alambique que já conheceu, o fato de usarem barris de carvalho francês, tanto para a Leblon quanto para a Signature Merlet, outro produto da família, dá uma característica especial à cachaça. Ele acha que a iniciativa da Leblon em unir bartenders e outros profissionais da área, como jornalistas que vieram da Europa para cobrir o evento, é extremamente importante para fomentar a cultura da cachaça de qualidade. Diretamente do Mapa da Cachaça, Felipe Jannuzzi fez uma ótima análise da visita. Antes dela, ele tinha a visão de uma marca inacessível, com campanhas de peso nos EUA e com pouca repercussão dos seus projetos aqui no Brasil. Aquela sensação de estrangeiros ensinando a nós como fazer cachaça. E ainda assim, fizeram lá fora o que nenhuma marca fez no Brasil, ainda que para isso tiveram que reformular a cultura da cachaça até quase perderem a identidade. No entanto, a visita a Patos de Minas me fez entender “quem e o que é a cachaça Leblon”, produto brasileiro feito por brasileiros buscando a alta qualidade. Para mim, o que faltava era conhecer mais da cultura mineira da Leblon do que as baladas carnavalescas e bairros chiques do Rio. Que a marca continue com esse diálogo com os brasileiros por muito tempo.
Para Rogério Coelho, o Rabbit, a limpeza, organização do processo já era esperado, é um modelo a ser seguido pelas outras destilarias do Brasil. A confraternização com um churrasco e drinques feitos pelos bartenders foi importantíssima par fortalecer os laços entre os profisisonais da área.
Particularmente, eu só tenho a agradecer à equipe da Leblon por ter proporcionado essa experiência a mim e aos participantes. Saio de lá com a esperança de que há um futuro brilhante para a história da cachaça no mundo. E que todos nós devemos ter uma importante contribuição nessa processo.
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