Os canudos foram só o começo de uma revolução de consumo que afetará a coquetelaria em cheio

Já falamos um pouco aqui na coluna Do Lixo ao Lucro sobre como podemos reutilizar as garrafas e potes de vidros que chegam alguns dos nossos insumos, mas se tratando do ambiente do bar, alguns descartáveis são inevitáveis.

Por exemplo, se o bar é voltado para a calçada, como fazer com copos, mexedores e outros itens essenciais para o desenrolar da operação? Como não termos mais cenas tristes como essa da foto de capa?

Uma boa noticia é que já temos muitas alternativas para os canudos, se conseguimos achar um jeito para esse item onipresente no mundo da coquetelaria, podemos expandir esse pensamento para outros itens.

Só pra contextualizar o quanto é urgente nos atualizarmos com medidas sustentáveis, no Tales of the Cocktails de 2017 (isso mesmo a 3 anos atrás) foi criada a primeira cúpula de sustentabilidade dessa conferência. E entre os problemas abordados, além da pegada de carbono, escolha de equipamentos e o uso consciente da água, o plástico também foi um grande assunto.

Graças a muitos esforços para conscientização algumas cidades estão tomando medidas drásticas. Um exemplo é São Paulo, onde o prefeito Bruno Covas, sancionou em 13 de janeiro desse ano a lei que proíbe o fornecimento de copos, pratos e talheres de plástico na cidade.

Com a proibição, os itens devem não só deixar de ser oferecidos por bares e restaurantes, como também não estarão mais disponíveis no comércio e em supermercados para uso doméstico. A legislação entra em vigor em 1º de janeiro de 2021. A partir dessa data quem oferecer descartáveis plásticos poderá ser multado, ter o fechamento administrativo (quando o alvará de funcionamento fica suspenso) ou até mesmo ter o estabelecimento fechado. Mas você não precisa esperar uma lei entrar em vigor para tomar uma atitude.

Os produtos plásticos devem ser trocados por similares biodegradáveis, compostáveis ou reutilizáveis. E esse post é para te ajudar a escolher melhor esses materiais.

Para que você não caia no conto do plástico que diz ser biodegradável e pasmem, leva 225 anos ao invés de 450 para se decompor. Então vamos começar do começo:

O que são produtos biodegradáveis?

São produtos que em sua composição levam compostos orgânicos para que os agentes biológicos naturais consigam fazer sua degradação e forma rápida evitando assim a contaminação do solo, rios e afins. A legislação obriga que pelo menos 50% de sua composição seja de origem vegetal e biodegradáveis.

A partir de 2025, vai aumentar para 60%. Para ter segurança que está mesmo comprando esses “descartáveis do bem” você deve procurar empresas certificadas.

Que tipo de materiais devo procurar?

PLA

O PLA (também chamado de PDLA, PLLA) é compostável, biodegradável, reciclável e bioabsorvível.

Ele chegou para substituir o plástico convencional em muitos produtos, pode ser usado em embalagens alimentícias, copos, pratos, etc.

No processo de produção do PLA, as bactérias produzem o ácido lático por meio do processo de fermentação de vegetais ricos em amido, como a beterraba, o milho e a mandioca. O PLA é vantajoso por ser mais resistente e se parecer mais com um plástico normal, além de ser 100% um plástico biodegradável (se dispuser de condições ideais).

A desvantagem desse material é que para ocorrer a degradação adequada é preciso que o descarte seja feito corretamente. Isso implica que o material seja depositado em usinas de compostagem, onde há condições adequadas de luz, umidade, temperatura e quantidade correta de micro-organismos.

Produtos de bagaço de cana

Confeccionado com subproduto do processamento da cana (material que seria descartado) ele substitui embalagens de plástico e isopor, o tempo de decomposição após o descarte é de 45 a 60 dias. (lembrando que o isopor não de degrada no meio ambiente e tem condições muito rígidas para reciclagem).

Esse produto é livre de petróleo, não é tóxico, é 100% natural, bem resistente, tem a aparecia muito próxima do isopor e sua superfície impermeável, não vaza, é aprovado para uso com alimentos, pode até mesmo ser colocado no micro-ondas e no forno até 180ºC e é compostável, pode ser descartada em lixo orgânico, se for rasgada ainda acelera o processo de decomposição.

Bambu

Esse material é ótimo para mexedores, talheres descartáveis e canudos, é resistente e renovável (caso ele volte para dentro do bar você pode lavar e escaldar para usar novamente). O processamento consome baixa quantidade de energia, sendo um dos recursos naturais mais sustentáveis no mundo. A planta absorve 5 vezes mais gases de efeito estufa e produz 35% mais oxigênio do que outras do mesmo porte.

Por isso, sua utilização tem crescido rapidamente como uma alternativa à madeira e ao plástico, contribuindo para a redução do impacto ambiental. Hoje em dia ele é facilmente encontrado em vários fornecedores. O bambu substitui a madeira com vantagem de ser antimicrobiano, não absorve odores, é resistente ao calor e manchas, tem um excelente acabamento não deixando soltar fiapos e farpas além de ser muito leve.

Palha de palmeira

A palha de palmeira é natural, elegante, compostável e biodegradável. Os produtos são feitos a partir das folhas que caem naturalmente, ou seja, é o aproveitamento do descarte da própria natureza. Como cada folha é única, pequenas variações de espessura podem ocorrer e suas cores e tonalidades variam de tons de pérola a marrom, com manchas naturais em toda a extensão.

Uma vez coletadas, as folhas são lavadas sob pressão, escovadas e secadas ao sol, para então serem prensadas e esterilizadas, o que resulta em descartáveis muito bonitos, versáteis e ecologicamente responsáveis. Durante o processo produtivo não há utilização de colas ou produtos químicos.

Produtos de Madeira e Papel

Não gosto muito de recomendar esse tipo de produto por que é preciso ser muito responsável com a escolha da empresa.

Para serem “do bem” eles devem ser confeccionados com árvores de reflorestamento e certificados pela FSC. As empresas de papel têm plantações específicas para esse fim, então é importante que você vá atrás das certificações dessas empresas antes de fechar contratos de fornecimento.

As empresas certificadas possuem um processamento com baixo gasto de energia e sem utilização de aditivos químicos. Após o descarte, o tempo médio de decomposição é de 60 a 90 dias, dependendo da espessura da madeira.

Os papeis devem ser produzidos com madeira de fibra longa reflorestada, a fabricação deve ser feita com otimização de consumo de energia, água e químicos.

Nota importante: para um papel ser biodegradável ele não pode ser revestido de outros materiais, como existem algumas embalagens plastificadas ou com lâminas de alumínio. Se o papel diz que é impermeável, corre, ele tem plástico na composição e aí sua degradação vai levar algumas décadas ao invés de 3 meses.

Procure por esse selo na embalagem do seu produto de papel ou madeira
Para verificar se uma organização possui certificação FSC válida, consulte a base de dados do  FSC Brasil.
O FSC Brasil disponibiliza um guia para busca de organizações e produtos certificados por ele.

Qual é a melhor opção?

Todos esses produtos ganham em disparado no tempo e na decomposição completa no meio ambiente, isso ajuda muita na quantidade de acúmulo de lixo no planeta.

Porém se por um lado eles ajudam na redução de sólidos, por outro eles contribuem para o efeito estufa, pois a decomposição de qualquer material libera gás metano proporcionalmente a velocidade de degradação. Se esse material pode ser acondicionado em aterros sanitários, o gás proveniente da decomposição pode ser utilizado para gerar calor e energia, impactando menos o meio ambiente.

Os produtos biodegradáveis não são a melhor solução, mas, os avanços nas pesquisas podem contribuir para aprimorar as embalagens.  A melhor opção ainda é o uso consciente, reduzindo o consumo, dando preferência aos produtos com embalagens reutilizáveis e separar o lixo para reciclagem.

São com pequenas atitudes que juntos vamos fazer a transformação.

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