Uma noite, uma trilha sonora, escolha seu Jack.

Eu devo ter assistido muito a “Alta Fidelidade” na adolescência. Desde aquele tempo, há quase 12 anos, faço playlist pra tudo, igualzinho ao Rob (John Cusack). No meu iTunes, neste momento, existem 18 – umas com nome alusivo (“Digestão”, “Folk 4am”, “Funeral”), outras genéricas, do tipo “Lista Sem Título” ou “Nova”. A última lista se chama Jack Daniel’s.

Não que seja meu whisky favorito, longe disso, mas era a garrafa que seria dividida naquela noite. Estão lá, a Jack Daniel’s e suas 37 músicas: começa com Glass Figurine (Andrew Bird’s Bowl Of Fire) e termina com Dangerous Blues (The Young Veins).

Na ocasião, bebeu-se Jack Daniel’s puro, com uma pedra, duas e Jack & Coke. Na verdade, até rolou um vinho, mas o nome da playlist tinha zero compromisso com a espécie de bebida. O propósito da música era dar fluidez ao álcool. E ela está ali, indissociável dele: a companhia para o bebedor solitário; o descongestionante social para o acompanhado. Tudo fazia sentido, pelo menos pra mim, que tinha escolhido faixa a faixa, naquela ordem.

Pode-se beber em silêncio? Claro. Melhora se ligar o som? Tenha minha palavra: muito. É um cuidado simpático, confeccionar uma trilha para apenas uma noite (apesar de servir para mais que isso). É como a flor fresca no vaso, que vai durar bem pouco, vai ser pouco comentada, mas não vai passar despercebida. E, como a flor, não sobreuse a coitada da trilha, porque ela também morre e perde o brilho (e o sentido).jack daniels

Em situação contrária, temos o desastre. Você recebe alguém em casa e, duas horas depois, ouve um indigesto “Dá pra ligar o som?”. Dói. E é melhor dizer não, porque o momento seguinte ao sim tende ao seu triste funeral de reputação: com nada planejado, você vai:

1 – Soar tendencioso: a situação estava romântica, você coloca Dance Me To The End Of Love. Exagerou. Se a situação não estava romântica, então, você perde a companhia pra sempre.

2 – Bancar o insensível: a situação estava romântica, você coloca Ultraje A Rigor.

3 – Bancar o arrogante: independente da situação, você coloca (e, invariavelmente, discorre sobre) os Moebius de Bach. Dura 6 minutos de tolerância.

4 – Ser cafona: Pepino Di Capri, Legião, Elton John, Kate Bush, posso citar uns quarenta. Um mais impróprio que o outro. Só nunca, em hipótese alguma,coloque James Taylor. Tiro certeiro… no pé.

Enfim, qualquer um dos artistas citados (menos James Taylor, por favor) caberia perfeitamente no meio de uma trilha pré-concebida. Sem nem mencionar a chatice de ficar levantando para trocar a música ou o disco, tudo pareceria mais leve, despretensioso, espontâneo. Funciona para encontros românticos e para receber amigos. Funciona até para os seus pais.

No dia seguinte, veio a bomba: “Danilo, me passa aquelas músicas de ontem?”. Touchdown! Funciona.

Receba nossa newsletter com os melhores artigos do universo da mixologia.

Obrigado por se inscrever!