Aprenda a preparar o Jeca Tatu, drinque da bartender Sandra Mendes

No começo do século XX, Monteiro Lobato via no povo rural do interior paulista uma barreira ao crescimento do país. Eram preguiçosos, sem ambição e desprovidos de ânimo. Mas logo o autor entendeu que o “O Jeca não é assim. Está assim.” Aproveitou então para fazer campanha para cuidar e incluir essa parte da população nas políticas públicas nacionais, a começar pelo necessário cuidado e com a saúde. Contemporâneo do Jeca Tatu é o mais antigo medicamento brasileiro em circulação, o tônico do Cândido Fontoura que o personagem de Lobato tanto ajudou a divulgar. Tão legitimamente brasileiro quanto o personagem, é o drinque Jeca Tatu de Sandra Mendes. Nascido de uma pesquisa de ingredientes nacionais e que ganhou nome e forma quando Sandra teve de criar uma receita inspirada no cinema para uma consultoria. Lá estava Mazzaropi para dar nome ao coquetel. O personagem é um caipira muito preguiçoso que vive em na roça no interior de São Paulo com sua esposa, filha moça e dois meninos. Ele briga constantemente com um latifundiário italiano que quer se casar com sua filha. Repleto de muito humor, o filme trata a questão da reforma agrária no Brasil.

O caipira trouxe a cachaça, o café e o jenipapo para o drinque. A acidez ficou com o limão. A pungência das pimentas dá mais uma camada de sabor no blend de cachaças.

Da briga com o latifundiário italiano representado pelo vermute, quem ganha é o Cynar feito com alcachofras. Para não deixar faltar o lado divertido e preguiçoso, um cigarrinho de palha calmamente encostado, enquanto se saboreia o drinque.

Sandra Mendes tem mais de vinte anos de experiência em bares, restaurantes e clubes. Começou cedo, ainda nos anos 1980 como autodidata. até conseguir pagar as contas com a coquetelaria passou por muitos caminhos. Entre bandas de rock e exposições de arte, ganhava algum dinheiro trabalhando em eventos, no bar, na produção de fanzines etc. Passou pelo Ritz, Madame Satã, Retrô, Caroline Café, Bunker,  Dama de Ferro, Doiz, Teto Solar entre outras casas. Em 2012 ficou em 3º lugar no World Class e apesar de arredia a competições, acredita que são a melhor maneira de conhecer pessoas do meio, acessar informações e melhorar a prática. Seu último balcão foi fixo foi o Teto Solar, de onde saiu em 2016 para se dedicar às consultorias, oficinas de drinques, cursos e a sua empresa de coquetéis engarrafados a SM. Com sua longa trajetória, faz questão de preservar até hoje o estilo faça você mesmo.

Revigorante como um tônico e brasileiro de verdade, o Jeca Tatu de Sandra está na carta de drinques do bar Kino onde custa R$ 22,00. Um dos #365DrinquesDoBrasil.

APRENDA A RECEITA

Jeca Tatu

50 ml de cachaça infusionada com café, aroeira e pimenta doce
25 ml de xarope artesanal de jenipapo
15 ml de suco de limão tahiti
15 ml de Cynar
1 dash de Angostura

Em uma coqueteleira com gelo, bata todos os ingredientes e coe para um copo americano pequeno com gelo novo.Finalize com 2 meia luas de limão, folha de aroeira, 3 grãos pimenta rosa da aroeira e um  cigarrinho de palha tipo Paiol.

Infusão de cachaça com café, aroeira e pimenta doce

150 ml de cachaça envelhecida em umburana
150 ml de cachaça envelhecida em carvalho
15 grãos de café
10 grãos de pimenta doce
10 grãos de pimenta rosa (aroeira)

Num saco hermético coloque o blend de cachaças com os grãos de café, de pimenta doce e de pimenta rosa e ferva a 62 C° por 15 min. Espere esfriar e coe na sequência.

Xarope simples de jenipapo

2 jenipapos maduros
350 g de açúcar orgânico
400 ml de água filtrada

Numa panela esmaltada coloque os jenipapos picados, o açúcar e a água.  Deixe ferver, abaixe o fogo e tampe, deixe por 30 minutos, mexendo de vez em quando. Espere esfriar e coe. Pode congelar. Dura 1 semana sem congelar.

 

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