Encontrar um bar por acaso é um golpe de sorte. Encontrar um bar bom por acaso é uma dádiva. Encontrar um bar excelente por acaso é um milagre.
Contudo, milagres acontecem onde menos se espera. Estive recentemente em Moscou, na Rússia. Sabia de antemão que, da lista dos 50 melhores bares do mundo, dois ficam na cidade.
São eles o Delicatessen e o Chainaya. Claro que eles seriam devidamente visitados e é minha impressão desses bares que vou narrar aqui. No entanto, antes de chegar a eles, esbarrei sem querer em um bar novo, aberto no final do ano passado.
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PRIMEIRA VISITA – Брюс Бар
Como parece ser costume nos melhores bares de lá, não há fachada, nome na porta, nada. Só descobri que era um bar por ter fortuitamente olhado pela janela. Como a aparência era bacana, entrei. O nome do bar é o seguinte: Брюс Бар (pois é, boa sorte com isso).
O primeiro desafio foi me comunicar em inglês, já que o cardápio também era só em russo. Por sorte, um bartender falava razoavelmente, pelo menos o suficiente para me explicar o cardápio. Na carta, os clássicos. Porém, quase tudo envelhecido.
Pedi um Negroni, cujo vermute é feito e envelhecido na casa. Surpreendentemente bom. Um dos melhores que já provei. Depois, me ofereceram um Brandy também feito na casa.
Finalizei com um Old Fashioned envelhecido em carvalho e um New York Sour. Tudo muito bom. Saí de lá satisfeito não só com a qualidade do que bebi, mas também com o acaso, por ter me proporcionado a experiência sem querer.
SEGUNDA VISITA – Delicatessen
Ele fica meio escondido, em um recuo na rua. Mais amplo e iluminado dos três que visitei, é realmente um bar exemplar. Não existe cardápio. Se você já souber exatamente o que quer, basta pedir. Do contrário, troque uma ideia com algum bartender e ele irá fazer precisas sugestões.
O ponto mais alto é o Pedro Manhattan. Eles envelhecem o drink todo em um barril com cereja macerada. E ainda vendem engarrafado para quem quiser levar. Além disso, fazem um excelente Red Snapper, entre outras coisas.
Como não podia deixar de ser, fizeram com que eu experimentasse uma vodka feita de pão. Meio estranha, mas valeu pelo exotismo.
TERCEIRA VISITA – Chainaya.
Mesmo que ele não fosse o estupendo bar que é, somente o fato de encontrá-lo já é gratificante. É impossível achá-lo por acaso.
Por isso, ao finalmente se acomodar naquele balcão de baixa luminosidade, é impossível não ser tomado por um sentimento de satisfação pessoal que se assemelha com o que o Indiana Jones devia sentir ao descobrir seus tesouros arqueológicos.
Primeiro, você precisa entrar em uma espécie de quintal, atrás de um muro. Não há identificação, numeração, nada. Depois, você segue por um tipo de beco e dá de cara com um local que aparentemente é abandonado, cheio de fios e aramos soltos.
Há duas portas devidamente trancadas. Você toca uma campainha, espera uns minutos e aparece alguém para atender. Então, você desce uma escada e eis a terra prometida. Um verdadeiro speakeasy.
Tudo isso é muito legal, claro, mas e os drinks? Como lá é uma casa de chá, eles são craques nas infusões.
Tudo muito equilibrado e misturas bem pensadas. Um exemplo disso é o Pear-Effect Martini, que leva gin, calvados, vermute infusionado em pêra, Lillet Blanc e orange bitters. Ou o Dragon Blossom, composto por bourbon, vermute tinto, Grenadine, suco de limão taiti e infusão de folhas shiso (erva chinesa).
Dos três bares visitados, definitivamente é o melhor.
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O saldo da romaria é o seguinte: Moscou está longe de ser uma meca da coquetelaria, como Nova York ou Londres. Visitei outros bares, mas somente os que citei são dignos de nota. O que as pessoas bebem mesmo é vodka, vinho e cerveja, pelo hábito e facilidade de acesso.
Contudo, há pelo menos três locais que valem a visita e fazem com que a cidade, mesmo não possuindo grande tradição no assunto, consiga se destacar entre muitas outras da Europa.
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