Uma das madeiras nativas mais comuns para envelhecimento de cachaça é a Amburana. Mas com certeza você já ouviu os nomes Umburana e Imburana? Qual a diferença entre elas e como usar?

Uma dúvida super comum nos bares brasileiros, porque os três nomes circulam por aí em diferentes regiões e muitas vezes são usados como se fossem a mesma coisa.

Com a ajuda de Haroldo Narciso, fundador e mestre destilador da Famigerada Cachaça, e com apoio do ótimo texto do Mapa da Cachaça, vamos desvendar esse mistério.

Uma árvore imponente 

O nome científico da árvore é Amburana cearensis, da família Fabaceae. É uma madeira aromática típica do semiárido brasileiro, muito usada em móveis, artesanato, remédios tradicionais e, claro, para envelhecimento de cachaça e outras bebidas.

Quando se fala em bebidas e madeiras aromáticas, quase sempre estamos falando da Amburana cearensis,a famosa do envelhecimento de cachaça. Os outros tipos de “imburana” são diferentes espécies, usadas mais na medicina popular e artesanato.

Assista a esse belo documentário realizado pela Famigerada Cachaça, com a presença de Haroldo Narciso e Marcelo Serrano.

Diferença dos nomes

É importante frisar que Amburana, Umburana e Imburana se referem à mesma árvore (Amburana cearensis).A diferença é só de grafia e uso popular.

Amburana: podemos dizer que é o nome botânico correto embora os indígenas não tenham usado essa forma.
Umburana: variação popular, principalmente em regiões do Nordeste, onde o “a” inicial costuma cair na oralidade.
Imburana: outra variação fonética e regional, bastante usada em Minas e no interior do Nordeste.

Um belo relato de Haroldo Narciso

No passado, o Brasil era habitado por enorme quantidade de grupos nativos que guerreavam entre si e migravam de tempos em tempos percorrendo grandes extensões, a maioria desses grupos adotavam a mesma base linguística, o Tupy e habitavam majoritariamente a costa litorânea.

Mas é no sertão da Caatinga que essa importante árvore prolifera e neste ambiente eram mais comuns os indígenas da linhagem Krén (Macro-Jê), como os Kariri e Pataxó do nordeste e Xakriabá do sertão dos Cataguás onde hoje é o norte de Minas Gerais.

Nas andanças pela Caatinga havia a dificuldade para encontrar água para beber, mas eles conheciam uma árvore sagrada, o Y-Mb-u que dá um fruto cítrico delicioso e em suas raízes, grandes “batatas” que são verdadeiros depósitos de água. Y-Mb-ú tem seu significado relacionado à água e ao ato de saciar a sede então podemos dizer que é a famigerada “Árvore Que Mata a Sede”.

Entretanto havia outras duas árvores similares em estrutura e em grande quantidade, uma das quais muito cheirosa, mas elas não possuíam as “batatas d’água” e por isso recebiam o sufixo “Rana” que quer dizer “semelhante”, ou seja, falso.

No norte de Minas costumamos chamá-las Imburana de Cheiro e Imburana de Cambão. Para outros grupos indígenas como os Tikmu’un do Vale do Mucuri e Pataxós da Bahia, a mesma expressão “Y-Mb-u” tem o som de Umbu, mais ao norte no Ceará Imbu novamente e assim criou-se a confusão.

Não existe o certo ou o errado, é só uma questão dos sotaques da língua indígena Krén de vários grupos indígenas que adaptado à gramática do Português recebeu a interpretação da sonoridade de cada região.

A Imburana recebeu o seu nome pela semelhança com a árvore que os indígenas chamavam Imbu. Hoje adotamos o nome Imbuzeiro para essa tal árvore e Imbu para seus frutos.

O nome científico da Imburana de Cheiro é “Amburana Cearensis” porque foi catalogada por um botânico alemão que, muito provavelmente, desconhecia a origem da palavra em língua indígena.

Não podemos nos esquecer de um outro espécime encontrado no noroeste brasileiro, a Cerejeira da Amazônia. Esse exemplar tem semelhança estética com a Imburana de Cambão, mas pela concentração de cumarina poderia ser catalogado como um tipo de Cumaru, principalmente pela importância do bioma da Caatinga na etimologia do termo indígena abordado anteriormente.

“As Imburanas não ficam atrás das outras madeiras. Não é feia a mesa de costura feita com ela, além do que, se vê como é bonita a marcenaria do Ceará” Diário de Viagem de Francisco Freyre Alemão – 1859a

Família de madeiras

Agora, para você não ter mais duvidas sobre qual madeira é qual, segue um resumo das principais variações, tipos, nomes científicos e aplicações.

Amburana-de-cheiro (Amburana cearensis)

A mais famosa das amburanas é a Amburana cearensis, também chamada de imburana ou umburana-de-cheiro. Presente em tonéis de cachaça e destilados, empresta notas doces de baunilha, canela, mel e coco, além de acelerar a maturação. Suas sementes, o cumaru-de-cheiro, têm uso medicinal e em garrafadas, reforçando sua importância cultural e sua posição como “madeira símbolo” da cachaça.

Imburana-de-espinho (Commiphora leptophloeos)

Já a imburana-de-espinho tem papel essencial na medicina popular do sertão. Sua casca é usada em chás e infusões contra tosse e problemas respiratórios. Diferente da de cheiro, não aparece em tonéis ou bebidas, mas é valorizada pela tradição curativa transmitida por gerações.

Imburana-de-cambão (Pseudobombax marginatum)

A imburana-de-cambão, ou pau-de-balsa, destaca-se pela madeira leve, usada em artesanato e pequenas construções. Não tem aplicação em bebidas nem na medicina, mas ajuda a explicar a confusão de espécies que compartilham o mesmo nome popular.

Imburana-preta (Bursera leptophloeos)

Por fim, a imburana-preta muitas vezes é tratada como sinônimo da de espinho. Ligada ao uso medicinal, reforça como o termo “imburana” se espalhou para diferentes árvores no Brasil, embora só a amburana-de-cheiro tenha conquistado espaço na produção de bebidas.

 

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