Quantas doses até a ressaca? Seu corpo aguenta até quantos drinks?Médica explica os limites (e os mitos) sobre o álcool
A velha pergunta que todo bartender já ouviu — “quantas eu posso tomar sem sofrer no dia seguinte?” — acaba de ganhar uma resposta mais técnica. A médica clínica geral Bhavini Shah foi convidada para explicar os limites de consumo antes que o corpo cobre a conta com uma bela ressaca.
Em entrevista ao jornal britânico Mirror, Shah lembrou que o álcool age rápido no sistema nervoso central, afetando desde a frequência cardíaca até o humor. “Uma ou duas unidades já aumentam os batimentos, dilatam os vasos sanguíneos e dão aquela sensação de euforia e sociabilidade”, explica a médica.
A médica Bhavini Shah e os estudos citados não cravam um número exato, porque o impacto do álcool depende de fatores individuais como: metabolismo e peso corporal, sexo biológico (mulheres tendem a metabolizar álcool mais lentamente), ritmo de consumo (beber rápido aumenta os efeitos) e nível de inflamação no organismo (como no caso da Covid longa).
Mas o que é uma “unidade” de álcool?
No Reino Unido, o termo se refere a 10 ml (ou 8 gramas) de álcool puro — a quantidade que um adulto médio consegue metabolizar por hora. Isso significa que uma taça de vinho de 175 ml (com 12% de teor alcoólico) equivale a cerca de duas unidades.
No Brasil, esse cálculo não é tão comum, mas a lógica vale: o teor alcoólico (ABV) e o volume da bebida são os principais fatores para medir o impacto no corpo. Aqui, por conta da nossa dose ser normalmente de 50 ml, o Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA) define a dose padrão como 14 gramas de álcool puro.
Entenda na prática: quantas unidades tem em cada drink?
Estimativas médias baseadas em doses padrão de bares brasileiros:
Dose de cachaça (50 ml a 40%): 2 unidades
Taça de vinho (150 ml a 13%): 2 unidades
Lager long neck (330 ml a 5%): 1,3 unidade
Gin tônica (50 ml de gin + mixer): 2 unidades
Caipirinha tradicional (60 ml de cachaça): 2,5 unidades
Negroni (30 ml gin + 30 ml vermute + 30 ml Campari): 2,7 unidades
Margarita (50 ml tequila + triple sec + limão): 2,5 unidades
Em média, o corpo humano consegue metabolizar cerca de 1 unidade de álcool por hora — o que equivale a aproximadamente uma long neck de cerveja, uma taça de vinho ou meia dose de destilado por hora.
Quando o consumo ultrapassa 3 a 4 unidades de álcool em um curto período de tempo (cerca de 2 caipirinhas, 1 Negroni e 1 cerveja, por exemplo), a probabilidade de ressaca no dia seguinte já aumenta significativamente, especialmente se não houver hidratação, alimentação e tempo de recuperação adequados.
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Inflamação, não desidratação
Se você ainda acha que a dor de cabeça vem da desidratação, pode repensar. Pesquisadores britânicos vêm apontando que a verdadeira vilã da ressaca é a inflamação provocada pelo álcool no organismo.
Essa nova visão abre portas para possíveis “curas” futuras, embora boa parte dos métodos milagrosos divulgados na internet já tenham sido derrubados por agências reguladoras como a ASA, no Reino Unido.
Entre os truques tradicionais, o clássico “ovo no café da manhã” segue com algum respaldo. Já outros, como pílulas e bebidas que prometem eliminar os efeitos da bebedeira, foram considerados enganosos.
Mas afinal, quantos drinks você pode tomar antes da ressaca?
Não existe um número exato, mas quando o consumo ultrapassa 3 a 4 unidades de álcool em pouco tempo, o risco de acordar mal no dia seguinte já é alto. O corpo metaboliza em média 1 unidade por hora — o equivalente a uma taça de vinho, uma long neck ou meia dose de destilado. Passou disso sem pausas ou hidratação, prepare-se para a ressaca.
Hábitos de consumo no Reino Unido
Segundo dados da YouGov, cerca de 82% da população britânica adulta consome bebidas alcoólicas. E mais: 6% dizem beber todos os dias, enquanto 4% consomem álcool cinco ou seis vezes por semana. A pesquisa ainda mostra que 14% bebem três ou quatro vezes por semana, 23% uma ou duas vezes, e 33% dizem beber raramente — mas ainda bebem.
Mesmo com os alertas de saúde, o consumo segue normalizado como hábito social. Inclusive, estudos apontam que pessoas que tiveram Covid longa podem sofrer ressacas mais severas, por conta da inflamação contínua e do comprometimento da barreira hematoencefálica, que permite maior acesso do álcool ao cérebro.
E no Brasil?
Embora o estudo seja britânico, a conversa interessa (e muito) aos bebedores brasileiros. Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde (IBGE, 2020), cerca de 54% da população adulta no Brasil consome bebidas alcoólicas, com maior prevalência entre homens de 25 a 39 anos. Por aqui, a cultura da “dosezinha social” também faz parte da rotina de bares, guests, festas e encontros — e o hábito cresceu após a pandemia.
Fica o alerta: saber os próprios limites é tão importante quanto escolher o rótulo certo.
Afinal, nenhum coquetel vale a ressaca — ou quase nenhum.
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