Guia do Arak: o destilado anisado do Oriente Médio que você precisa conhecer

Entre os destilados aromáticos que conquistam bartenders curiosos e amantes da coquetelaria, o Arak se destaca como uma joia do Oriente Médio ainda pouco explorada nos bares brasileiros.

Neste guia, você vai entender o que é o Arak, como ele é produzido, onde é consumido e como pode ser usado na coquetelaria moderna.

O que é Arak

Arak (às vezes escrito como araq ou arak) é um bebida destilada, incolor e sem açúcar, tradicional típico do Oriente Médio, especialmente popular no Líbano, Síria, Jordânia, Israel e Iraque. Trata-se de uma bebida anisada, ou seja, com sabor marcante de anis-estrelado ou sementes de anis.

Sua base alcoólica geralmente é de uvas fermentadas ou figos, que passam por duas ou três destilações, sendo a última feita com anis. O teor alcoólico costuma ser acima da média dos destilados e variar entre 42% e 63%.

Variantes de Arak podem ser encontradas no Mediterrâneo, como o Raki na Turquia, o Pastis na França, o Ouzo na Grécia e em Chipre.

Atenção para não confundir com o Arrack do Sudeste Asiático (também escrito Arak), que é uma bebida destilada feita a partir da seiva fermentada de flores de coco, cana-de-açúcar, grãos ou frutas.

Origem e tradição

A palavra “Arak” vem do árabe e significa “suor” – uma alusão à forma como o destilado goteja durante a destilação. É considerada por muitos o “pai” do ouzo (Grécia), raki (Turquia) e pastis (França).

A bebida tem séculos de história e desempenha papel central em reuniões familiares e festas tradicionais no Oriente Médio. No Líbano, o Arak é símbolo nacional e muitas famílias ainda o produzem artesanalmente, especialmente nas montanhas da região de Zahle.

Como é feito o Arak

O nome Arak significa “suor” em árabe e se refere à transpiração e à condensação do líquido durante o processo de destilação. Além da produção comercial, é comumente produzido como uma bebida destilada caseira, com conhecimento transmitido de geração em geração.

Por ex, no Libano, o Arak é regulamentado e deve ser proveniente de uvas brancas (Obeidi e Merweh), triplamente destilado em alambique antes de ser diluído para cerca de 53% ABV e, em seguida, envelhecido por no mínimo um ano em argila.

A primeira etapa envolve a fermentação, onde as uvas frescas esmagadas e o mosto (cascas, sementes e suco) são deixados para fermentar com leveduras selvagens. Após a conclusão da fermentação, o vinho é despejado no alambique (chamado karkeh, imagem abaixo) para a primeira destilação, a fim de extrair o álcool, resultando em uma bebida destilada bruta chamada spirto.Com o spirto pronto, é hora de adicionar água e anis verde fresco, seja na segunda ou terceira destilação. Como em outras bebidas destiladas, um corte é feito e as cabeças e caudas são descartadas.

A bebida final geralmente tem um teor alcoólico de 53%, mas pode variar de 50% a 60% ABV. Pode ser deixada em repouso em potes de argila por aproximadamente um ano para que os sabores se aprimorem.

Como beber Arak

Como uma bebida alcoólica potente, raramente é tomada pura. A bebida é misturada em copos pequenos com água fria e gelo. A proporção varia de acordo com o gosto e um bom ponto de partida é um terço de arak para dois terços de água. Frequentemente há um debate sobre quando adicionar cubos de gelo. Alguns adicionam gelo antes de servir a bebida; outros seguem a tradição de adicionar o gelo por último. O brinde tradicional no Líbano é Kaasak para um homem e Kaasek para uma mulher.

A bebida tem um forte sabor de anis, semelhante ao alcaçuz, mas sem a doçura inerente. Quem não está acostumado com os sabores anisados do Mediterrâneo pode achar ultrapotente, mas é uma bebida deliciosa para acompanhar comidas ou como aperitivo.

Louche – o efeito leitoso da bebida.

O Arak é tradicionalmente servido diluído em água (proporção de 1:2 ou 1:3) e com gelo. Ao adicionar água, ele muda de cor e se torna leitosa – um efeito chamado louche, causado pelos óleos essenciais do anis que se tornam insolúveis em meio aquoso.

Essa maneira de servir transforma o Arak numa bebida refrescante, ideal para acompanhar mezze, pratos frios e quentes compartilhados típicos do Oriente Médio, como homus, kafta e tabule.

Perfís de sabor

O sabor do Arak é intensamente anisado, com um frescor herbal e final seco. Quando bem feito, apresenta complexidade, com notas terrosas, frutadas e especiadas. Os melhores exemplares são envelhecidos em ânforas de barro ou vasos de argila, o que amacia os sabores e adiciona nuances minerais.

Como utilizar Arak na coquetelaria

Com seu sabor predominante de anis, raramente é usada em coquetéis. Embora o Arak seja majoritariamente consumido puro ou diluído, bartenders têm redescoberto seu potencial como ingrediente de coquetelaria, principalmente como substituto do absinto, do pastis ou de outros licores anisados. Vamos ver alguns caminhos que você pode

Twist de Sazerac: substitua o Absinto por Arak – mais seco e temperado.
Highball Levantino: Arak, água com gás, pepino e hortelã.
Mediterranean Mule: Arak, limão, ginger beer e folhas de sálvia.
Arak Dry Martini: gin, vermute seco e um leve toque de arak, finalizado com zest de siciliano
Lebanon Gin Fizz: um clássico gin fizz, com um toque anisado.

Dica de Ouro: Use o Arak sempre com moderação — seu sabor é marcante e pode dominar o perfil do drink e destruir toda a harmonia dos ingredientes. Combine com ingredientes cítricos, herbais ou florais para equilibrar.

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