Visitar a cidade de Amsterdã na Holanda para disputar o campeonato Bols Around The World foi como ser um brasileiro perdido no mundo, foi essa a minha sensação ao chegar e caminhar pelas ruas da capital holandesa. Logo de cara me deparei com um trânsito de ciclistas e motoqueiros curiosamente sem capacete, algo muito tranquilo para quem está acostumado com o caos de São Paulo como eu.
Rapidamente comecei a me sentir em casa quando peguei um guia de bares e fui me aventurar pela noite de Amsterdã já que havia chegado um dia antes da competição começar. O primeiro que fui e o que mais gostei sem dúvida foi o Door 74, considerado primeiro speakeasy da Holanda, por sinal o escondido número 74 fica na parte de baixo da porta rústica e nada convidativa, onde fui atendido pelo premiado bartender Timo Janse e bebi um Last Word, algo como um Dry Martini com o gim Monkey 47 e um Old-Fashioned com Rittenhouse, um whisky de centeio americano, todos muito bons e muito bem equilibrados.
Saindo de lá, na mesma rua fui ao Feijoa, um bar pequeno com um clima de balada e público mais jovem, estava lotado e com a maioria dos clientes bebendo cerveja, reparei certa alegria no rosto do bartender Rick Welcker quando lhe pedi um Sazerac, que foi muito bem executado, mas foi o único drink que bebi lá, pois o ambiente lotado de playboys não estava agradável.No segundo dia todos os competidores já tinham chegado, então fui transferido para o que seria nosso lar durante a viagem, um barco hotel muito grande onde fiquei hospedado com todos os competidores e embaixadores. Foi uma experiência realmente incrível e estranha ao mesmo tempo, mais de 20 pessoas de países diferentes, com culturas e hábitos diferentes, mas com uma coisa em comum, a paixão pela coquetelaria.
Tivemos uma programação bem intensa durante todos os dias que se passaram os treinamentos e cursos, que aconteceram na Academia Bols, bem no centro de Amsterdã. E tínhamos o bar do barco livre e bem abastecido para “praticar” os drinques.
No terceiro dia visitamos o Museu Lucas Bols e a Destilaria Bols e tivemos uma degustação de genevers com o master distiller Piet Van Leijenhorst, depois visitamos a tradicional tasting house onde tive a oportunidade de provar alguns genevers especiais, que são uma reserva pessoal do master distiller. Ele não quis contar o segredo sobre o que fazia aquela bebida tão especial e tão diferente daquela que provamos na degustação dos Genevers Bols.
Para finalizar o dia de visitas fizemos um tour no Museu Interativo Bols onde tivemos a oportunidade de colocar nossos sentidos à prova com experiências que exigiam muito do nosso paladar e olfato.
No quarto dia, enquanto navegávamos para a cidade de Voledam, tivemos uma sessão de treinamento de cozinha holandesa com o chef Jeroen de Zeeuw, onde conheci algumas conservas, carnes e o famoso arenque, um peixe que se come cru na Holanda. Depois das compras em Voledam retornamos para Amsterdã para testar os drinques que faríamos na final no dia seguinte.No quinto dia logo cedo fomos para a Academia Bols para uma sequência de palestras e treinamentos. O primeiro foi com John Clay (Lucas Bols Brand Ambassador, UK) e Anthony Pullen (Brand Development & Education Manager,USA) sobre a história do Genever.
Em seguida o treinamento de linguagem corporal com Malika Saidi (Global Lucas Bols Brand Ambassador) e, por fim, treinamento de mixologia com chá com o tea sommelier Robert Schinkel. Depois de todos esses treinamentos veio a grande final.
A final do campeonato foi dividida em duas etapas. A primeira era a criação e apresentação de um coquetel com a cara da Holanda. Para desempenhar essa tarefa tivemos a oportunidade de conhecer Voledam, a cidade ao norte da Holanda a qual fomos de barco, que além de ser uma cidade turística, ainda preserva muito das tradições holandesas, como a produção de sapatos de madeira. Lá pudemos visitar uma fábrica deles, que eram usados pelos camponeses nas lavouras e, apesar de não parecer, são muito confortáveis. Ainda no centro da cidadezinha visitamos feiras livres e mercados para comprar nossos ingredientes para os coquetéis, conhecemos antiquários que abrigavam verdadeiras relíquias para bartenders, taças vintage, bules de prata, colheres e muito mais, confesso que voltei de Voledam um pouco mais pobre.
A segunda etapa do campeonato foi o Pich, onde cada participante dispõe de cinco minutos para fazer um discurso para os jurados, onde tivemos que demonstrar algumas habilidades como conhecimento do produto, no caso Bols Genever, habilidade de persuasão e potencial para ser um Brand Ambassador Bols, para desenvolver esse discurso os participantes receberam este caso de estudo:
” Você acabou de assumir o cargo de Brand Manager de Bols Genever no seu país, o Brand Manager que trabalhou antes de você fez um ótimo trabalho e agora tem Bols Genever em todos os bares do seu país. Em cima deste caso os participantes devem criar uma situação problema e resolvê-la de forma concreta e com poucos custos.”
O drinque que eu apresentei foi o Orange King, que eu ensino a receita aqui para você fazer:
50ml Genever Bols
25ml Lemon
15ml Triple sec Bols
10ml Handmade spiced Grenadine
10ml Chartreause verde
3 dashes of handmade grapefruit bitters
Depois da final Young Talents tive um bom tempo livre para visitar a cidade e conhecer os bares que eu tanto queria.
O primeiro a visitar foi o Tales & Spirits, um bar muito descontraído que no primeiro momento não me trouxe nada impressionante. Mas só no primeiro momento, pois logo que comecei a conversar com o bartender Boudewjn Mesritz, ele teve a gentileza de dizer que aquele bar não era o meu tipo. Eu pensei que ele estava me expulsando do bar, mas ele pediu para eu subir até o primeiro andar e bater três vezes numa prateleira cheia de livros, ao lado do banheiro, e foi aí que eu me impressionei de verdade, um garçom abriu o fundo falso da prateleira e me convidou a entrar numa sala mal iluminada com um bar pequeno logo na entrada, alguns quadros na parede e com algumas cristaleiras com verdadeiras relíquias como coqueteleiras, antigas bailarinas e outros equipamentos de bar do tipo “sonhos de consumo”. Sentei no balcão e pedi um Vieux Carré e depois um New York Sour, que foram muito bem executados pelo barman Airto Cramer. Fiquei realmente impressionado com o bar e seu serviço e olha a cara de alegria de todos os participantes na saída do bar. Saindo do Tales & Spirits fui visitar o muito bem recomendado Vesper Bar onde bebi o drink que inspirou o nome do bar, um Vesper muito bom. O bar estava muito cheio e animado, o que eu mais vi sendo vendido eram vinho e cervejas, mas quando saía algum drinque, o barman Robert-Jam os preparava com destreza.
Nos outros tempos livres que tive me dividi entre os cursos e visitas aos diversos museus de Amsterdã. Também tive a oportunidade de conhecer outros bares fantásticos como N-Joy, Little Buddha, Goldem Palm Bar, De Dokter, De Drie Fleschjes, Wynand Fockink, e os bares de hotel como o Bridges, Americain, 23rd e o fantástico Freddy’s Bar no Hotel de L’Europe.
Em resumo foi uma experiência mixológica e de vida incríveis onde pude aprender muito. Conheci pessoas e lugares fantásticos, e o melhor de tudo é que em setembro eu volto para lá para alguns cursos e treinamentos e para falar do mercado brasileiro de bebidas, e vou torcer para que em breve a gente receba cada vez mais licores da Bols para acrescentar nos balcões de todo o país.
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