Naquele momento, os três old fashioned na cabeça de Dagoberto rodopiaram feito um carrossel desgovernado. Não era possível que Irene estava terminando com ele ali, no meio do bar onde eles se conheceram. Sem aviso prévio, sem brigas homéricas, sem crises de ciúmes. Apenas o fim do amor.
Ali, entre uma bebida e outra, o amor acaba. E os planos? As viagens que fariam juntos? O cachorro que iam adotar e chamar de sazerac? Os filhos? Tudo derreteu antes que o gelo virasse água no copo.
Irene sumiu. Depois do término, não acompanhou a fossa profunda de Dagoberto. Ao menos, teve a decência de nunca aparecer no bar. Porque é claro que ele voltou lá várias vezes, numa infantil esperança de que ela retornasse e se atirasse em seus braços. Nunca aconteceu.
Como se não bastasse, um dia, também sem aviso, o bar fechou. Outro punhal, desta vez no fígado de Dagoberto.Sem saber o que fazer, ele vagou pelas ruas relembrando o dia em que se conheceram, justamente naquele bar que agora estava fechado. A vida é assim, passa por cima de nossas memórias e só restam ruínas. Como um acrobata do desespero, Dagoberto saltava por entre esses escombros e só desejava cair de cabeça e nunca mais levantar.
Dagoberto decidiu que o único modo de não se matar seria recuperar o momento mais importante de sua vida. Mas como? Passara-se um ano, nem mais aquele bar existia. O dono havia vendido e ido para outra cidade. Então, nosso incauto herói resolveu que a primeira coisa fazer era ressuscitar aquele bar. Fazer com que ele voltasse a ser exatamente como era no dia em que eles se conheceram.
Ele lançou-se ao projeto com a obstinação dos psicopatas. Alugou o imóvel e começou sua jornada. Desde os guardanapos até os detalhes da decoração, fez tudo à imagem e semelhança do antigo bar. Passou mais de oito meses nesse esforço alucinado. Até a disposição das garrafas na prateleira era a mesma, os mesmos rótulos, o mesmo cardápio. Cada pequeno detalhe do bar foi recriado, com a minúcia que só os loucos poderiam compreender.
Não havia funcionários. Nem clientes. Ele não queria ninguém além dela. Irene entrando pela porta de vestido azul, como naquele dia. Irene girando por entre as mesas com os olhos verdes muito acesos em sua direção, como naquele dia. Irene sorrindo após ele ensaiar uma aproximação com uma piada boba, como naquele dia. Irene em seu futuro, como devia ter sido.Estava tudo pronto. Seu bar, sua máquina do tempo. Irene voltaria, como um criminoso que sempre reaparece na cena do crime. Confiante, Dagoberto sentou-se em uma cadeira de frente para a porta e esperou. Esperou, como quem espera chegar um milagre.
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