Outro dia me perguntaram o que não pode faltar em um bar. A resposta esperada era, evidentemente, algum tipo de bebida. Mas a resposta é “balcão”.
Em minha opinião, não há nada mais importante em um bar do que um balcão. Não importa se ele é grande, pequeno, em formato de L, formato de U, seja lá como for, o balcão é a alma de qualquer morada etílica de respeito.
O balcão é uma espécie de centro gravitacional do bar.Tudo gira em torno de sua órbita. Engana-se quem pensa que o único benefício dele é a proximidade com o barman – que é, obviamente, uma conquista inestimável para um bom bebedor.
Ter um bom relacionamento com quem prepara seus drinques é tão fundamental quanto ter um mecânico ou um médico de confiança.
Azar de quem trata o balcão como mero encosto, lugar onde se escorar. Dependendo do tempo que você passar lá, pode até ser, mas é muito mais que isso.
Local privilegiado, de lá é possível notar cada pequeno movimento dos frequentadores do bar. Um término de relacionamento, o começo de outro, os grandes planos que começam ou terminam ali, os gente fina, os malas (que os há em profusão), a cara de quem bebe um Negroni pela primeira vez.
Um bom balcão remedia um bar mais ou menos. Um ótimo balcão é capaz de ser atrativo mesmo em um bar ruim. Porque é preciso entender que nem sempre um bom balcão significa exatamente uma bebida boa. Pertencente ao universo das coisas feéricas, o balcão possui um significado que está fora do tempo. Nele tudo principia e acaba. É um estado de espírito.
Aquele reduzido espaço do bar é o Aleph borgiano. Se você estiver disposto a prestar atenção, de lá irá se descortinar toda a realidade do universo, toda a complexidade da história humana.
Um balcão adequado é um curso inteiro de antropologia.
Por isso, caro leitor, meu desejo para 2016 é que você experimente mais balcões.Vá sozinho, escolha um balcão, peça sua bebida predileta e observe. Apenas observe, encarapitado nessa espinha dorsal do bar, o quão longe você pode ir. Monte nessa nave bárbara que flutua soberana sobre as comportadas e entediantes mesas e se deixe levar.
Balcão é como coração de mãe: sempre há espaço para mais um. Aperte-se por ali, dê um jeito. Suba nesse trem sem destino. Nunca se esqueça: pobre daqueles que recusam um bom balcão.
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