Felipe Lukasievicz, Cara e coroa no reino do café!
“Quem sabe direito o que uma pessoa é? Antes sendo, o julgamento é sempre defeituoso porque o que a gente julga é o passado.” Guimarães Rosa.
Quantas vezes você já se sentiu como o pior ser humano do mundo por conta das suas atitudes e quantas vezes você já não teve a sensação de dormir um sono profundo por ter tomado decisões corretas?
Eu falo por mim, já vivi as duas situações e tenho certeza que ainda viverei novamente, porque a vida também é feita disso. Cara e Coroa.
Não é novidade para muita gente, mas na última semana nos deparamos com a noticia de que o atual campeão de baristas, Felipe Lukasievicz foi preso acusado de furto em na casa de uma pessoa, onde ele era garoto de programa. Lamento pelas escolhas que ele fez, e até as que ele não conseguiu evitar, mas o fato é que sendo confirmado, ele deverá ser julgado pontualmente pelo que fez.
Uma coisa é falarmos de um rapaz jovem, que se dedicou, treinou e nos emocionou como poucos para ser o melhor barista do Brasil, bicampeão paranaense e brasileiro de Latte Art. Outra coisa é falar de um jovem, desorientado que é preso furtando e usando o corpo como forma de negócio. Cara e Coroa.
Eu conheci o primeiro. Guardo do Felipe a imagem de um rapaz jovem e frágil, com grande desejo de vencer e ser reconhecido pelos seu méritos. Um gigante que domina como poucos a pequena pitcher para fazer desenhos que já o tornaram conhecido no país inteiro. Cheguei a dividir quarto com ele em uma Regional de Baristas em Porto Alegre e viajar com ele para Londres na disputa do campeonato mundial. Já o ví chorando ao conquistar o campeonato brasileiro e posso dizer sinceramente que em nenhum momento encontrei nele qualquer atitude que me fizesse não querer tê-lo como grande amigo.
Porém, como todos souberam, ele não chegou a ir para o mundial da Holanda, e eu estava lá, no aeroporto, a caminho do avião quando ele não estava conosco. A partir daquele momento, ele não estava conosco. Não estava conosco. E surge o afastamento dos familiares, e surge novamente o envolvimento com as drogas e perdemos totalmente o contato com ele.
O fim da história já conhecemos.
Ao assistir duas semanas atrás o vídeo bombástico entrei num silêncio total sobre o assunto. Uma tristeza, decepção e impotência. Me mantive calado enquanto acompanhava alguns comentários, uns de suporte e outros de incompreensão, mas começaram a surgir julgamentos infundados, misturando a figura do barista com a figura da pessoa, confundindo e desmerecendo as façanhas dele como profissional, hienas famintas e carentes de atenção e comentários facistas mascarados em bossa nova. É triste.
Desejo que a pessoa boa, companheira e inspiradora que eu tive o prazer de conhecer receba a sentença pelas atitudes que tomou, e que isso seja parte do crescimento da sua vida. Fica aqui o meu respeito e solidariedade ao Felipe.
À justiça cabe julgar e eu não sou a justiça, a mim cabe apenas não permitir que a incapacidade de me tornar humano e solidário se transforme num julgamento covarde e despreparado.
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