A bela história da Colher Bailarina continua aqui.

Se você quiser ler os primeiros contos, clique em A História da Colher Bailarina Parte 1 e Parte 2.

Um lutador de sumô chapado de caipisakê não é uma cena bonita de se ver.

O gigante foi ficando choroso, sentimental e logo soltou uma informação valiosa: a colher bailarina tinha sido “encomendada” por um barman – e os lutadores receberam um bom dinheiro para furtá-la.sumo– Qual? Qual barman? – perguntou um afobado Fernando.

  • Um novo, um bar novo… – antes que terminasse a frase, o lutador caiu desmaiado. O desfalecimento do gigante provocou uma balbúrdia entre os lutadores. Escolhemos sair de fininho com medo de que uma avalanche de lutadores de sumô desmoronasse sobre nossas cabeças.

Já na rua, Fernando olhou pra mim com aquela cara de “você que é cliente profissional deve saber onde estão abrindo um novo bar na cidade”.

Não sabia. Não li nada sobre o assunto. Estranho. Costumo ser o primeiro a saber. Tenho um ritual de visitar os bares novos uma semana depois da inauguração. Acho sete dias tempo suficiente para que alguns ajustes sejam feitos, para que o barman calibre o seu talento, acerte a mão e etc. e tal. Mas dessa vez não li nada, não recebi nenhum e-mail, não senti o cheiro de balcão novo no ar da cidade.

Fernando se decepcionou, mas teve a sacada de ir visitar o Dom Lino, uma espécie de embaixador da coquetelaria nacional, o autodenominado presidente do sindicato dos profissionais do drinque.

Já eram seis da tarde e o Dom Lino (sim, o bar levava o nome dele) tinha acabado de abrir. Me animei com a ideia de visitá-lo. O Dry Martini do Lino era imbatível.

Como era de se esperar, Lino nos recebeu com festa. Apesar de ter nascido no Maranhão, Lino imitava um sotaque italiano. Nunca soube o motivo da italianização do maranhense.

A notícia do furto da mítica colher bailarina de Fernando já havia se espalhado no universo dos bares. Aparentemente, todos, sem exceção, lamentaram o ocorrido e torciam para que Fernando superasse o trauma e voltasse a preparar os melhores Manhattans do País.

Fernando tinha esperanças, acreditava piamente que Dom Lino saberia de algo, de alguma fofoca, alguma pista que levasse até o paradeiro da sua adorada colher bailarina.  No mínimo, esperava que ele soubesse sobre esse tal novo bar.

  • Ma che dici? – falou o maranhense/italiano.

  • Achei que o senhor sabia de tudo o que rolava no nosso meio – argumentou Fernando.

  • Non mi interesso por Hipster! Todo bar novo é de hipsters. Não quero mais saber…

Fernando acusou o golpe e ficou visivelmente derrotado. Quase não deixou que eu terminasse o meu Dry, queria sair do Dom Lino e procurar em outro bar.

  • Ma Ragazzo… procure o Ice Club! O barman responsável do Ice é um desses hipsters esquisitos. Ele deve saber de algo.

Claro, seguimos o conselho de Dom Lino e seguimos para o Ice Club. Não Gostei muito da ideia – já que a carta do lugar tinha como base coquetéis vodca. E todo mundo sabe que vodca não serve pra nada. Não gosto de vodca – mas talvez fosse obrigado a tomar um Cosmopolitan só pra não passar em branco. ice club romaNo Ice, um garçom pediu para que a gente o acompanhasse até uma espécie de câmara fria. Era lá que estava o mais hipster dos hipsters, o renomado barman Jef Zum (claro, nome artístico de José Antônio da Silva).

Jef estava concentrado esculpindo o próprio gelo quando entramos na câmara fria.

  • Fernando, como vai? Por favor, entre? Soube da sua colher bailarina.

  • Pois é… – resmungou Fernando.

  • Posso ajudar?

  • Tenho uma informação. Minha colher estaria em um bar novo, algo recém-inaugurado na cidade…

  • Não ligo para bares novos, todos me enchem de tédio, a maioria é uma imitação barata do que já foi sucesso no passado, mas acho que posso ajudá-los.

Fernando sentiu o coração sair pela boca e quase se ajoelhou em agradecimento.

  • Você sabe?

  • Não. Mas vou consultar minha bola de cristal…

Juro, o tal do Jef Zum costuma esculpir bolas de gelo tão perfeitas que, diz a lenda, seriam capazes de prever o futuro ou responder qualquer pergunta relacionada ao futuro.

O resultado dessa cascata é que esperamos 45 minutos até o Jef esculpir a bola de gelo perfeita e fazer todos os salamaleques possíveis. Certeza que peguei uma pneumonia (preferia ter me aborrecido com o Cosmopolitan).  historia colher bailarina

  • Eu estou vendo, estou vendo…

Eu e o Fernando nos aproximamos da bola de gelo, mas não enxergamos nada.

  • Eu estou vendo, estou vendo que a sua colher bailarina está em um…Speakeasy Salon!!!

…continua em breve.

 

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