Mixologista ou Mixólogo, quais as diferenças? Entenda melhor os termos que estão por ai.
Quem não se lembra da frase memórável (e cafona sim) do clássico Romeu e Julieta, de Shakespeare, onde Julieta Capuleto tenta convencer Romeu Montecchio que de nada importa o peso do sobrenome que ela carrega, se esse for o motivo pelo qual eles teriam que se separar.
“O que há num simples nome?! O que chamamos de rosa com outro nome não teria igual perfume!?”
Trocando em miúdos, no universo da coquetelaria, de que importa o nome do ofício que você carrega – ou que te impuseram por algum motivo – se você não sabe as fontes e significados dele.
Seja como barback, bartender, barman, barwoman, flairbartender, mixólogo, mixologista , drink designer, flavor designer ou até as novidades que estão por vir por aí.
Dessa forma, gostaria de apresentar a você duas possibilidades da origem e da consolidação dos termos mais relevantes no Brasil, para que possa refletir e tomar a decisão que lhe convier.
A primeira, discute os caminhos pelos quais os termos Mixologista X Mixólogo entraram no país e a segunda analisa a etmologia das palavras para entender o possível significado em português dos termos.
Espero que aproveite, e conto com seu comentário para enriquecer a discussão construtiva.
1º | PORTA DE ENTRADA DE INFORMAÇÕES PARA O BRASIL
No começo do século XXI o Brasil passou a receber informações e tendências do mundo todo, apoiado principalmente pelo uso da internet, que nesse momento passava a ser usada por uma massa crítica considerável.
O setor de alimentos e bebidas, principalmente de bares e restaurantes, passa a utilizar a rede como fonte de pesquisa e aprendizado, e nesse momento o conceito de mixologia que se aplicava em grandes cidades como Londres e Nova York passa a ser dividido diariamente com os brasileiros.
ESTADOS UNIDOS E INGLATERRA:
Mixologista é um termo estritamente proveniente do idioma inglês, isto porque o sufixo ISTA é a adaptação do sufixo inglês IST. No vocabulário americano não existe o sufixo ÓLOGO.
Dito isto, podemos considerar que a primeira e maior porta de entrada de informações sobre Mixologia no Brasil é oriunda da cultura americana e inglesa, principalmente a americana, que, como já sabemos, dita moda no nosso país há muito tempo. Eu sugeriria que 75% de toda a informação relacionada ao termo Mixologia tenha tido entrada no Brasil por fontes inglesas.
Em 2002, a marca Absolut Vodka inovou no mercado brasileiro com o projeto Absolut Mixology, em que, pela primeira vez neste país, o termo era amplamente divulgado para os bares, restaurantes e grande mídia.
Tive a oportunidade de participar desse momento ,junto com Marcelo Vasconcellos, quando o então diretor de marketing de Absolut, Gustavo Clauss, entendeu que a marca estava contratando dois especialistas em bebidas, mas que estariam trabalhando para a indústria de bebidas e não mais dentro dos bares.
Por exemplo, essa função já foi exercida por nomes como James Guimarães, Rafael Mariachi, Alan Souza, João Morandi, Lelo Forti, Marcos Néia na Pernod Ricard, Marco De la Roche na 1883 Maison Routin, Alex Mesquita na Cachaça Leblon, Paulo Freitas na Diageo, Tony Harion na Bacardi, entre tantos outros bartenders de carreira, que deixaram os balcões para exercer nova função no mercado de bebidas.
Lendas como Dale De Groff, (na foto abaixo) iniciaram esse processo em meados dos anos 80. Eis que o verdadeiro sentido do mixologista atual está aí. Mas deixaremos isso para um outro momento.
Se pesquisarmos no google.com a presença do termo “mixologist”, temos o volume de 33.600.000 incidências. Já com o termo “mixólogo“, chegamos em apenas 98.200 incidências.
Se aprofundarmos essa busca apenas com os dois termos em páginas no Brasil, chegamos ao número de: “mixologist”: 143.000 incidências para “mixologo”: 4.050 ncidências. Uma proporção que pode chegar a 100:1.
Isso mostra como a presença do termo mixologista na maior língua do mundo é avassaladora quando comparado a outras possibilidades.
ESPANHA, ARGENTINA E MÉXICO
Mixólogo é um termo estritamente proveniente do idioma espanhol, isto porque o sufixo ÓLOGO é referente ao sufixo espanhol. No vocabulário espanhol não existe o sufixo ISTA.
Dessa escola definida basicamente pela sua língua em comum recebemos influência importante, mas longe de ser tão dominadora quanto a escola inglesa. Os países de língua espanhola mais influentes na minha opinião são Argentina, Espanha e México, nessa ordem de importância.
O Brasil recebeu influência de alguns bartenders que estiveram nesses países durante muitos anos e que trouxeram naturalmente na bagagem o costume de falar o termo Mixólogo.
Se pesquisarmos no google.es a presença do termo “El Mixólogo” temos o volume de 28.100 incidências. Já com o termo “El Mixologista” chegamos em apenas 4.650 incidências.
Aqui temos um equilíbrio nas incidências, fator que nos mostra como a influência americana é presente nos países de língua espanhola.
2º | A ETIMOLOGIA DOS TERMOS E SEUS SIGNIFICADOS
Já é de fácil entendimento que o termo MIXOLOGIA quer dizer O ESTUDO DAS MISTURAS (MIX + LOGIA).
Mas temos tremenda dificuldade em definir claramente quem é o profissional que desenvolve e pratica a Mixologia. Vamos analisar do ponto de vista etimológico para tentar traçar novos rumos.
Porém, o que ninguém esperava era que no nosso português, um dos idiomas mais complexos do planeta, nós possuíssemos os dois sufixos, e eles são divididos basicamente em características técnicas específicas.
Abaixo pretendo explicar a você quando se usa o sufixo ISTA ou o sufixo ÓLOGO.
MIXOLOGISTA:
Palavra que se usa do sufixo <-ISTA> deriva do grego <-ISTÉS> e é utilizada para o masculino e feminino. Tem como característica principal indicar uma “ocupação” ou “ofício”. Exemplos, “economista, jornalista, projetista, criminalista, dentista, neurologista”.
Curiosamente, palavras com sufixo <-ISTA> no nosso país tendem a ser consideradas de maior prestígio social, diferente do sufixo <-EIRO> como nos exemplos “jornaleiro, borracheiro, verdureiro, pasteleiro, lixeiro”. Além de status, o sufixo <-ISTA> também carrega no seu traço semântico características de “especialidade”.
Também pode ser apresentado em cinco divisões:
- Que segue um princípio ou doutrina: “budista, socialista”
- Agentes profissionais ou ocupacionais: “cientista, maquinista”
- Indivíduos pertencentes a um grupo: “reservista, seminarista”
- Que tem uma visão determinada, característica: ” egoísta, racista, sexista”E por último:
- Outros: “batista, correntista”.
MIXÓLOGO:
Palavra que se usa do sufixo <-ÓLOGO> e deriva de “o que estuda, conhece, é especialista em“. É o sufixo preferido para os estudiosos. Podemos lembrar de termos estudiosos como ufólogo, biólogo, psicólogo e antropólogo.
Também pode ser entendida como o sufixo ideal a ser empregado para aquele que domina a ciência de alguma coisa. Pense em um farmacólogo, filólogo, pantólogo, ictiólogo.
No caso de haver um curioso em Mixologia, que apenas tenha interesse intelectual no assunto, mas não o aplique e faça disso sua profissão, algo como um geek, esse sim deveria ser chamado de mixólogo.
CONCLUSÃO
Analisando estas duas possibilidades, podemos concluir que:
Os termos Mixologista e Mixólogo existem sim, porém, são palavras de uma cultura e língua diferentes da nossa, e não podemos absorvê-los simplesmente como substantivos para um ofício, mas temos que entender as características gerais de cada termo.
As diferenças entre elas estão exclusivamente na língua de origem, e não em uma característica técnica específica.
Na técnica (e é o que nos importa), os termos Mixologista e Mixólogo são essencialmente iguais.
Não necessitamos dois termos para confundir as nossas cabeças e muito menos a cabeça da sociedade que nos enxerga ainda com certo receio.
Compreendendo que a raiz do termo seja a história americana, compreendendo também que o maior volume de informações ainda seja proveniente do idioma inglês e, por último, que o sufixo <ISTA> deva ser empregado principalmente para as profissões, ocupações e ofícios, podemos concluir que a tendência natural é que o termo MIXOLOGISTA seja em pouco tempo padronizado pelo mercado como o profissional contratado por marcas de bebidas ou marcas/grupos de bares e restaurante para desenvolver conceitos, sabores e receitas para um cardápio, treinando brigadas, renovando e aumentando a qualidade do serviço prestado.
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