Da gigantesca Amazônia, Yvens Penna relata sua vivência para o Biomas do Brasil

“Ter consciência do quão glorioso é o momento no instante em que ele ocorre é importante para a boa vida. Enquanto escrevo esse início de coluna minha esposa Roberta sente as primeiras contrações do parto e eu aqui tomo posição para o primeiro artigo do Biomas do Brasil.

Meu filho se chamará Gael. Um paraense filho de um paraense com uma sergipana. Como meu amigo Maurício Campos abraçará o bioma da Caatinga vou me concentrar na história do pai do Gael e como vim parar nesse projeto cheio de charme e importância.

Meu pai nasceu em Santarém e minha mão em Oriximiná, municípios localizados no oeste do Pará. Se conheceram na década de 70 em Santarém, aonde minha mãe foi cursar o segundo grau e logo depois vieram para Belém se casar e construir família. Cresci em Belém mas ia todos os anos para o oeste do estado no período das férias do colégio.Peixes de água doce como pacu, acari, tambaqui, tucunaré; frutas como pitanga, pitomba, tucumã, mari-mari e muruci sempre estiveram pela mesa nos encontros de família ou entremeados na oralidade de tios e tias. A relação do paraense com sua comida é profunda e sofisticada; toda essa intensidade não avançou para o gole mas isso é tema de uma outra coluna neste espaço.

Assista abaixo ao webinar de lançamento do Biomas do Brasil

Tive uma juventude de classe média na capital paraense que para os padrões de pobreza desse pedaço do Brasil é quase como ser rico. Nessa juventude me distanciei desse Pará profundo quando entrei na faculdade de Propaganda e sonhava em faturar uma grana sendo dono de agência em Belém. Aos 26, depois de ter me aventurado como dono de agência deste profícuo mercado resolvi que era hora de sair. Fiz as malas e aproveitei que minha irmã passava uma temporada em São Paulo para dividirmos o mesmo apê.

São Paulo foi uma das coisas mais lindas e gentis que passaram pelo meu caminho. Lá encontrei novas possibilidades de vida, aprendi a amar caminhar pela cidade, me tornei um observador mais atento das forças que organizam nossas vidas – chamam de política, conheci e fiquei amigo de pessoas terrivelmente interessantes e lá fui apresentado à coquetelaria.

Mexe, bate, monta, serve. Que coisa bela era assistir o serviço nas barras do Boca de Oro, do Razzmatazz, do SubAstor; e não tinha mais volta. Eu aguardava apenas o sinal dos titãs do destino para fazer disto uma causa, a minha causa.

Em maio de 2018 eu já trabalhava a 6 anos no departamento comercial de uma empresa de tecnologia quando me afastei por 1 mês para uma cirurgia. Retornei e fui demitido no dia que voltei da licença médica. Encarei como o sussurro de Cronos, o titã do tempo. O que era hobby numa ponta da espiral no outro sai causa, a minha causa.Em pouco tempo pude assistir uma masterclass do peruano Aaron Diaz em São Paulo e tomo conhecimento de algumas vagas para trainee no seu super bar recém inaugurado em Lima, o Carnaval. No mês seguinte desembarcava em Lima para uma temporada como trainee do Carnaval, bar que ocupa hoje a 13ª posição no 50′ Best Bars; experiência interrompida após 6 semanas em que sentia fortes dores na área da cirurgia que havia feito nas costas tempos atrás.

Volto para Belém com o objetivo de focar na minha recuperação até que em dezembro a convite de um amigo que possui um espaço interessantíssimo na cidade chamado Vila Container fui conhecer uma noite de coquetéis em que seriam servidos 6 twists de coquetéis clássicos.

O sucesso da noite me fez aceitar o convite do meu agora sócio Iuri Fernandes para abrir um bar de coquetéis na cidade, o Muamba Bar. O primeiro bar 100% orientado à coquetelaria da capital paraense. Minha causa era concreta e tinha o formato de um container.

Há um sonho intrincado nessa causa; o sonho de um dia ver na Amazônia a cena mais interessante de coquetelaria da América Latina e porque não do mundo. Temos gente, ingrediente, boemia e destilados sendo produzidos aqui e os que chegam em cada vez maior número de todo o mundo.

O fato é que é uma honra e enorme responsabilidade ser o porta voz da Amazônia no projeto Biomas do Brasil,  do portal Mixology News.

É muito excitante o exercício de sentar no divã como entidade Amazônia ao longo dos próximos meses e falar não somente sobre bebidas, fermentados, frutas e coquetéis; mas também sobre sabotagem de políticas ambientais e descaso com nossos povos originários porque política e bioma são indissociáveis. Vamos nessa?”

Conheça a história do Muamba Bar, em cobertura do Mixology News

 

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