Alcohol-and-Tobacco-Tax-and-Trade-Bureau

A cachaça finalmente é reconhecida e toma seu devido lugar nos órgãos americanos.

O Congresso norte-americano aprovou o acordo bilateral entre Brasil e Estados Unidos que reconhece a cachaça como produto típico brasileiro. É uma espécie de DOC (denominação de origem controlada).

Conforme foi divulgado, peloAlcohol and Tobacco Tax and Trade Bureau , órgão do governo americano responsável pelo comércio de álcool e tabaco, só poderá ser importada pelos EUA a cachaça que for produzida no Brasil. Hein? E o que isso significa?

O país do Tio Sam já não é o quarto maior importador do engasga gato brasileiro? E o que isso muda para o mercado?cachaça.barrilSão muitas as perguntas e muita gente comemorando como se o Brasil houvesse ganho o hexa mundial em pleno Maracanã – esse é outro assunto que logo mais vou abordar: quem quiser desenvolver alguma ação consistente com os turistas durante a Copa precisa começar já.

Voltando aos gringos, tudo isso ainda vai demorar alguns anos para realmente fazer alguma diferença nos números globais. Muita água ainda precisa passar por baixo dessa ponte. Temos uma ou outra marca que com um trabalho mais consistente e muito suor vão conseguir manter um fluxo comercial etílico.

O que pouca gente sabe é que foram 12 anos de luta para que o Brasil tivesse algum reconhecimento internacional como uma denominação de origem para nossa cachaça. Antes, os EUA nem consideravam cachaça uma cachaça. Era tudo “Brazilian Rum”, e nem precisava ser “Made In Brazil”, podia vir do Caribe, de Porto Rico e até da Alemanha.

Mas Cachaça não é Rum e acho que essa é uma das principais características que será necessária explicar para o consumidor americano, pois na cabeça deles vem tudo da cana. Apesar da matéria prima em comum, a cachaça talvez seja uma das únicas – senão a única – bebidas destiladas produzidas de “uma tacada só”, ou seja, a produção começa na hora que você corta o primeiro pé de cana e só termina com a cachaça pronta. Sem intervalos e em pouco mais de um dia.

Ao contrário do rum, que é produzido do melado de cana-de-açúcar e que pode ser armazenado por semanas e até meses antes de ser destilado, a cachaça é feita do caldo fresco da cana e precisa ir para a fermentação assim que é espremido, ou então vai desandar.

Isso faz dela, por incrível que pareça, uma bebida leve e muito refrescante. Sim, refrescante, porque essa característica de produção faz com que a cachaça seja rica em ésteres e aldeídos, que vão conferir muito aroma e sabor, como os aromas frutados, cítricos e metálicos, além daquela sensação “gelada” causada pela evaporação do álcool na pele e nas mucosas.cachaçaOutro ponto importante do acordo diz respeito à proibição total da utilização de milho em qualquer etapa da produção da cachaça. Você deve estar achando que surtei. Milho? Cachaça? Como é que é? É isso mesmo, alguns produtores, principalmente em Minas Gerais, costumam utilizar um preparado à base de milho, para iniciar o processo de fermentação, o famoso “fermento caipira”.

O milho funciona como uma espécie de Red Bull para as leveduras que vão levar a cabo a árdua tarefa de transformar açúcar em álcool. E esse milho (ou fubá) aparece sutilmente no produto final, em seu aroma e em seu sabor.

Mas pelo acordo, essa cachaça infelizmente não pode entrar em território norte-americano, dando preferência às cachaças que utilizam leveduras selecionadas em seu processo de fermentação, o que coloca em vantagem cachaças como as gaúchas e algumas paulistas.

Assim, os bebedores acima da linha do Equador não vão poder conhecer um dos produtos mais típicos e saborosos que o mercado de cachaça pode oferecer. E o azar é só deles.

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