Como a educação e sustentabilidade no balcão são atos de amor ao próximo?

Educar nossos filhos é o maior ato de amor que possa existir e educá-los para a vida é saber que estarão preparados. Isto é um investimento a longo prazo e mesmo assim, o resultado pode não ser satisfatório como o esperado. Minha mãe é professora aposentada e sempre soube que a educação do próximo depende do ritmo e do tempo para cada um e aos poucos o conhecimento vai se disseminando. Educar não é fácil, e o filme Ao Mestre com Carinho (1967) demonstra isso com maestria através da personagem Mark Thackeray interpretado por Sidney Poitier.

Mas, o assunto em alta é sobre os canudos plásticos, o mar de plásticos que vemos no oceano, e infelizmente ainda ouço muitos profissionais dizendo: “se meu cliente quer, eu ponho”. Ou “o coquetel pede canudo!” Pois digo: É difícil começar uma mudança de hábito, mas não é impossível. Isto pode durar uma geração e é o que chamamos de paradigma.Poder falar ao cliente que nos preocupamos com sua próxima geração, com o mundo que seus futuros filhos terão, é um ato de  respeito em relação a eles e este respeito está intrinsecamente relacionado com amor.

Acabou o respeito, o amor não existe mais. Isto é ter atitude, mesmo que não acertemos todas as vezes.  E se a educação é um investimento a longo prazo e muitas vezes o resultado nem sempre será o que esperávamos, a orientação deve ser diária para todos, funcionários e clientes.

Com toda sensibilidade do mundo, num momento de descontração, nós bartenders que gostamos de contar a história dos coquetéis, da evolução da coquetelaria, de como tem aumentado o consumo de gim e da boa qualidade a que temos acesso hoje, poderíamos também falar que o copo ballon em que tomamos o Gim-Tônica descende do copo de vinho, foi projetado para bebermos na borda e sentirmos os aromas da bebida.

Então tenha opinião, mas também tenha sensibilidade de falar com seu cliente que o visita semanalmente ou mensalmente, e demonstre que você se importa com ele. Faça o seu cliente se sentir mais que apenas um número, ele é mais que uma venda para o bar.

Mas voltando ao canudo plástico, enquanto estive no balcão do Camden House, cravei uma luta tremenda com o salão pois os atendentes já saiam com o canudo na mão.

“Onde você vai com isto?”
“Ahh, seu Paulo, o cliente vai pedir mesmo e não quero voltar para buscar o canudo.”

A resposta que costumava dar era:

“Então, vamos fazer uma coisa legal: leva o canudo no bolso de trás ou dentro do avental. Se o cliente pedir e não der abertura para orientá-lo, entregue, mas não antecipe o erro. Tente demonstrar que aquele coquetel foi feito com toda técnica e produtos de qualidade para que não seja tomado como um refrigerante ou milk-shake. É para degustá-lo. Se ele permitir, é claro.”

Neste ano de 2018 muitos colaboradores do Camden House se lembraram da orientação que eu tinha dado e de como conseguiram abrir diálogo com os clientes, tiveram atitude e o resultado foi incrível. Assim surge um relacionamento verdadeiro entre cliente e funcionário. Nasce o que chamamos de empatia. Fidelização. Com certeza o cliente vai voltar.Educar um cliente com respeito é um ato de amor ao próximo. É uma maneira de dizermos ao próximo, o cliente, que eu me importo com ele. Então pense muito sobre isto: Fazer uma venda pela simples venda ou buscar o diálogo com as pessoas e procurar obter informações, gostos, idéias, sentimentos, no momento em que estão no balcão do bar e assim revelar o seu perfil e o tipo de coquetel que estão dispostos a tomar hoje?
Quem sabe descobrirá, por acaso, que o cliente tem o mesmo engajamento ambiental que você.

E que a gente consiga juntos, profissionais e clientes, mudar conceitos arraigados e quebrarmos paradigmas.
O meu foco é contra o lixo, em especial o plástico. E você, que tal começarmos pelo canudo?

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